Opinião

Pioneiros engenheiros desta Terra

A primeira turma de engenheiros baianos formou-se em 1900 numa cerimônia simples. Dois engenheiros geógrafos fizeram seus juramentos perante um emocionado e orgulhoso diretor da Escola Polytechnica da Bahia (EPBA), o engenheiro civil, bacharel em matemática, jornalista, escritor e político brasileiro Arlindo Coelho Fragoso (1865 - 1926).

A primeira e modesta sede da escola, na rua das Laranjeiras no. 6, ficava a poucas quadras da suntuosa primeira Escola de Medicina do país, situada no Terreiro de Jesus. 

Os primeiros formandos chamavam-se Adolfo Pinto de Vasconcelos (1879 - ?) e Plínio Alves Dias Gomes (1881 - 1925), este pai do famoso escritor e dramaturgo brasileiro Alfredo de Freitas Dias Gomes (1922 - 1999), que faleceu tragicamente muito jovem, aos 44 anos.

Depois de formado, Dias Gomes trabalhou como engenheiro na famosa estrada de ferro Madeira-Mamoré, inclusive dando aulas de desenho na Escola Normal em Manaus. Vasconcelos foi durante muito tempo engenheiro fiscal de obras no estado da Bahia.

Além de engenheiros geógrafos, no seu início a EPBA formava também engenheiros civis e bacharéis em ciências físicas e matemáticas. O lema, proposto pelos seus fundadores em 1897, era inspirado no da L'École Polytechnique, fundada em 1794 durante a Revolução Francesa com outro nome, depois modificado para o atual pelo imperador Napoléon Bonaparte (1769 - 1821) em 1804.

Os franceses costumam até hoje jurar: “Pour la Patrie, les Sciences et la Gloire”. Já os politécnicos baianos fazem o seguinte juramento: “Pela Ciência, pela Instrução e pela Pátria” desde a primeira turma.

Não foi uma formatura fácil a dos pioneiros engenheiros baianos pois, apesar de ser uma instituição privada, a antiga EPBA dependia desde seu início de subvenções e recursos públicos, seja da prefeitura, do estado e mesmo do Tesouro. Natural, já que recebia alunos bolsistas, fossem militares ou jovens muito pobres.

Em sua centenária história, a EPBA passou a ser do estado, da união, depois desfederalizada, até ser incorporada pela Universidade da Bahia em 1946, passando então a ser a EPUFBA.

A EPBA foi criada num domingo, 14 de março de 1897, uma data especial pois corresponde ao dia do nascimento do poeta maior da Bahia, Antônio Frederico de Castro Alves (1847 – 1871), do ativista, professor e político Abdias do Nascimento (1914 - 2011), do cineasta e escritor Glauber de Andrade Rocha (1939 - 1981) e do jornalista e escritor Carlos Heitor Cony (1926 - 2018). Coincide também com o dia do ano de nascimento do matemático polonês Waclaw Sierpinski (1882 - 1969) e do físico alemão Albert Einstein (1879 - 1955).

Diretor e fundador da EPBA por quase dez anos, Fragoso era reconhecido como grande orador, além de hábil e extremamente articulado administrador e político.

Foi sem dúvida um dos intelectuais mais influentes da Primeira República na Bahia. A razão para este reconhecimento pode ser medida por instituições como a Academia de Letras, o Instituto Geográfico e Histórico, o Instituto Politécnico e a Escola Politécnica – todas estas são instituições que, centenárias, lograram chegar aos dias atuais como autênticas expressões da inteligência baiana. E o nome em comum em todas elas a brilhar mais intensamente é o de Arlindo Fragoso, presente e atuante na fundação de cada uma.

Formado em engenharia civil pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro em 1885, proveniente de família tradicional de médios proprietários da cidade de Santo Amaro, ingressou como catedrático da Escola Agrícola da Bahia em São Bento das Lages no ano seguinte. Foi vereador e depois intendente (prefeito) de sua cidade natal em 1892.

Foi convidado pelo governo de Joaquim Manuel Rodrigues Lima (1845 - 1903, o primeiro governador baiano eleito), entre 1892 e 1896, para organizar e remodelar a Secretária da Agricultura da Bahia.

Fragoso esteve ainda atrelado a cargos de secretaria nos governos de Luiz Vianna (1846 - 1920), entre 1896 e 1900, de José Joaquim Seabra (1855 - 1942), entre 1912 e 1916 e 1920 a 1924, e de Antônio Moniz Sodré de Aragão (1881 - 1940), entre 1916 e 1920.

Teve grandes dificuldades a partir da administração do governo de Severino dos Santos Vieira (1849 - 1917) entre 1900 e 1904, basicamente por questões políticas, que quase forçam o fechamento prematuro da EPBA, dificultando inclusive a continuidade de cursos além da conclusão das primeiras turmas.

Fragoso foi, sem dúvida, reconhecido por seus pares enquanto um animador de vocações e um aglutinador de talentos, além de brilho e inteligência peculiares. Seu busto altivo preside a entrada do auditório principal da EPUFBA, a lembrar seus visitantes que tudo ali foi feito pela ciência, pela instrução e pela pátria - e para a grandeza desta terra.