Dentre todos os escritores, tirando Dostoievski, o que bate mais fundo em minha alma talvez seja Fernando Pessoa. Dos heterônimos viscerais e profundos aos questionadores... Está o português!
Depois dos quatro famosos heterônimos, descobriram mais de 130 homônimos. Mas Pessoa tem um carinho especial por Alberto Caeiro, o velho de pouca instrução que acaba sendo o herói dos outros três. E isso ele deixa explícito numa longa carta.
Como disse, temos Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Há também Bernardo Soares, considerado um semi-heterônimo, pois esse tinha características bem parecidas com as do próprio Fernando Pessoa.
Além da carta, sua predileção por Alberto Caeiro aparece nas trocas de correspondências com os demais heterônimos. Pois é, eles se comunicam. Porque o Guardador de Rebanhos preserva a pureza das crianças. E a criança salva a humanidade. Ele não vê sentido numa crença que nega a própria vida, sob a ameaça de terríveis punições. Mesmo quando se coloca como um pano sujo torcido no parapeito (o livro do desassossego) ou quando pensa ter todas as respostas para as tristezas de um adulto (Ricardo Reis, por exemplo).
Como é possível aceitar uma vida onde impera o medo, a culpa e o remorso? Pega lá "o livro da vida de Fernando"... O livro do Desassossego, que nunca chegou a ser concluído - com erros gramaticais, frases sem nexo, tristeza, o inacabado como fim, a dúvida e muita dor... A vida que criamos.
Em "Crime e Castigo" quando Raskólnikov de súbito agachou-se rapidamente e, ajoelhando-se no chão, beijou os pés de Sônia e disse com profunda desolação: "Eu não me ajoelhei diante de ti, mas diante de toda a dor humana". Foi a dor que o colocou sobre os joelhos!
A busca pode estar nas lágrimas de Deus, se acreditarmos nisto como verdade! Pode estar na reflexão de Albert Einstein: "Algumas coisas são explicadas pela ciência, outras pela fé. A Páscoa ou Pessach é mais do que uma data, é mais do que ciência, é mais que fé, Páscoa é amor".
Isso aqui até parece propaganda eleitoral, a gente fica nesse negócio aqui se vendendo, falando, colocando fotinha de "conquistas" e "vitórias" num campo ensanguentado de batalha repleto de irmãos mortos onde somos todos perdedores no final deste filme.
O drama continua sendo como o rio que segue em direção ao mar, a tragédia não mudou. A gente usa o conhecimento, muitas vezes, para humilhar, para se esconder - armadura. Afinal, cada um usa as armas que têm, não é?
Preciso da bondade dos cães, da alegria das crianças, sentir o vento no meu rosto, o abraço amigo. Preciso me doar por completo. Preciso ser melhor... Como preciso disso!
Preciso do silêncio. O ‘reino de Deus’ é um estado do coração – não algo situado ‘acima da terra’ ou a que se chegue ‘depois da morte’
Preciso ouvir a música do meu coração. Encontrar os meus sentimentos mais profundos. Estar atento. A vida e o amor não podem ser economizados para amanhã.
Preciso escutar o meu semelhante. Porque como disse Raputin ao notável doutor: "O senhor me diz não crer na existência da alma por nunca, em suas cirurgias, haver encontrado uma? E quantas memórias o senhor já encontrou rasgando um corpo humano? Quantos sentimentos? Quantos? Quantos?“
A essência das coisas está nas próprias coisas. Desisto de questionar. Ajoelho-me, não para rezar, mas para ficar na altura das crianças que estão perto de mim - minhas filhas. E falo para dentro do meu corpo: "Amar é a eterna inocência. E a única inocência é não pensar".