Comportamento

Finados: como lidar com o luto

É importante saber quando buscar ajuda

Foto: Pixabay | Creative Commons
Freud, o pai da psicanálise, entende o luto como uma reação à perda

Diante dos diversos riscos de perda – seja a vida, familiares e amigos, emprego e até a liberdade -, a pandemia tem tocado em vários vetores que afetam o modo de comportar, sentir e pensar das pessoas. Com mais de 605 mil mortes por causa da Covid-19 no Brasil, é impossível estar imune a algum nível de melancolia e adoecimento. O psicólogo Thiago Vinicius Oliveira ressalta que vivenciar o luto é a melhor forma de conseguir ultrapassá-lo e promover novas possibilidades de existência.

Sigmund Freud, o pai da psicanálise, entende o luto como uma reação à perda, natural e constante durante o desenvolvimento humano. Thiago Vinicius Oliveira explica que o sentimento é um fenômeno mental, podendo ser superado após algum tempo e, por mais que tenha um caráter patológico, não é considerado doença.

“O luto é um processo lento e doloroso, que tem como características uma tristeza profunda, afastamento de toda e qualquer atividade que não esteja ligada a pensamentos sobre o objeto perdido, a perda de interesse no mundo externo e a incapacidade de substituição com a adoção de um novo objeto de amor”, ressalta o especialista da Quíron, clínica especializada em saúde mental em Feira de Santana.

Um estágio normal de quando perdemos alguém ou algo importantes em nossas vidas, o luto pode ser caracterizado em duas formas: patológico, quando vira algo sem fim e impede a pessoa de viver como antes, ou coletivo, caracterizado pelo o mesmo processo individual, porém acomete toda uma população em virtude de um sofrimento comum a muitas pessoas – visto, geralmente, em catástrofes (a queda da barragem de Brumadinho, por exemplo), eventos traumatizantes (morte de um famoso querido) e eventos sociais que acometem toda uma população (pandemia de Covid-19).

“O luto coletivo é caracterizado pelo sentimento de impotência, agregando o sentimento de menos valia e tristeza. Sendo assim, tem as mesmas características de um luto individual, modificando apenas a condição geral de um determinado grupo de pessoas que sofrem uma perda de forma comunitária. É importante o entendimento que estamos vivendo um luto coletivo. Precisamos reconhecer, aceitar as perdas e buscar ajuda, partindo da necessidade individual, ou seja, o sofrimento próprio, balizado pela subjetividade”, esclarece o psicólogo.

É importante saber quando buscar ajuda. A procura por profissionais de psicologia e psiquiatria deve acontecer quando o processo de luto demora a passar, fazendo a permanência da angústia e tristeza, afetando atividades cotidianas e o seguimento normal da vida após a perda. “O tratamento começa na busca dos profissionais para que aconteça a condução em quatro mãos, podendo possibilitar ao paciente o acolhimento e a promoção de mudanças no seu comportamento, vivências e relações sociais”, destaca Thiago Vinicius.

10 passos para seguir em frente

Lala Fonseca, especialista em Luto e Terapia Cognitiva Comportamental, sugere, abaixo, dez passos para enfrentar emoções como abatimento, desgosto, amargura às pessoas que perderam algum ente, companheiro ou amigo querido: 

1 - Não adianta pensar no que deixei de fazer e sim no “tudo que fizemos juntos”

2 - Lembrar do que a pessoa me ensinou, qual o som da voz dela que ecoa em minha mente

3 - Recordar os momentos felizes que tivemos juntos

4 - O processo de luto natural tem início, meio e fim. Para quem se pergunta quanto tempo dura a dor do luto ou como superar um luto, vai se deparar com uma resposta não existente. Afinal, é um processo individual

5 - Há um momento onde a dor diminui. A saudade continua sempre porém, a dor física no peito deixa de existir

6 - Aceitar que a morte é um processo da vida, mesmo que seja desagradável. Quase não falamos sobre isso, porém falar sobre o assunto auxilia ao outro que também está vivendo isso saber que não está sozinho

7 - Evite postar fotos em grupos de WhatsApp de família, uma vez que não sabemos como o outro, que está distante, pode receber o impacto dessa mensagem

8 - Procure não manter espalhado pela casa fotos e recordações. É preciso deixar de pensar no fato por algumas frações de segundos ou minutos para o luto ser tolerável

9 - Não sinta culpa por sorrir ou se distrair quando deveria estar triste. Afinal, quem fica por aqui está vivo!

10 - Lembre-se que a vida continua, essa é a maior certeza! O que posso fazer para viver bem a minha vida hoje?