Bahia / Nordeste

Valor da produção agrícola baiana tem maior crescimento em 26 anos

Apesar disso, o estado perdeu uma posição no ranking nacional, caindo de 7º para 8º

Entre 2019 e 2020, o valor da produção agrícola baiana apresentou seu maior crescimento em 26 anos (+41,9%), chegando a R$ 27,5 bilhões, um recorde desde 1994, ano de implementação do Plano Real. 

Além de ter havido incremento nas safras de diversos produtos, favorecidas por boas condições climáticas, o avanço significativo no valor gerado pela agricultura foi impulsionado, sobretudo, pelo aumento dos preços, em função da desvalorização do Real frente ao dólar e do crescimento da demanda.

O ano de 2020 foi de ganhos expressivos para a produção agrícola em quase todo o país. No Brasil, o valor gerado também foi recorde: R$ 470,5 bilhões, 30,4% maior do que o de 2019. Houve avanços do valor da produção em 25 das 27 unidades da Federação, 23 destes foram crescimentos de dois dígitos. 

O aumento absoluto do valor gerado pela agricultura na Bahia, frente a 2019, foi de R$ 8,1 bilhões, o 6o maior do país. Mato Grosso (mais R$ 20,9 bilhões), Paraná (+R$ 19,2 bilhões) e Minas Gerais (+R$ 13,3 bilhões) lideraram nesse indicador, enquanto Rio Grande do Sul (menos R$ 2,8 bilhões) e Amazonas (menos R$ 86,5 milhões) foram os únicos estados onde houve queda, entre 2019 e 2020.

Diante de resultados positivos disseminados, a expressiva taxa de crescimento na Bahia (+41,9%) foi apenas a 8a mais intensa do país. Tocantins (+73,0%), Roraima (+60,8%) e Maranhão (+56,7%) tiveram os maiores avanços em termos percentuais.

Assim, embora o desempenho positivo tenha feito a Bahia ganhar participação no valor gerado pela agricultura brasileira, de 5,4% em 2019 para 5,8% em 2020, o estado acabou perdendo uma posição, de 7o para 8o maior valor agrícola do país, superado por Mato Grosso do Sul, cuja agricultura gerou R$ 29,6 bilhões em 2020.

Mato Grosso (R$ 79,209 bilhões, 16,8% do total) manteve-se o líder do ranking estadual de valor gerado pela agricultura, em 2020. São Paulo (R$ 68,013 bilhões, 14,5%) continuou na 2a posição e, em 3o lugar ficou o Paraná (R$ 59,853 bilhões, 12,7%), superando o Rio Grande do Sul.

As informações são da pesquisa da Produção Agrícola Municipal (PAM), do IBGE. Ela investiga 66 produtos em todos os municípios do país. Desses, 45 são cultivados na Bahia, e 38 apresentaram crescimento no valor de produção entre 2019 e 2020, conforme mostra a tabela no final deste texto.

Com força da soja, em 2020, safra baiana de grãos foi a maior em 46 anos, gerou R$ 17,7 bi e puxou aumento do valor da produção agrícola no estado

Os cereais, leguminosas e oleaginosas, grupo de 15 produtos comumente chamados de grãos, são commodities responsáveis por pouco mais de R$ 6 em cada R$ 10 gerados pela agricultura brasileira (62,8% do valor total nacional, ou R$ 295,7 bilhões) e baiana (64,4% do valor total estadual ou R$ 17,7 bilhões). 

Com uma safra de 10,6 milhões de toneladas em 2020, a maior em 46 anos (desde o início da série histórica da PAM, em 1974), foram justamente os grãos que puxaram o crescimento do valor da produção agrícola na Bahia, liderados pela soja. 

No ano passado, o valor da produção baiana de grãos chegou a R$ 17,7 bilhões, 56,5% maior que o de 2019 (R$ 11,3 bilhões) e o mais alto desde o início do Real, em 1994. O estado manteve a 7a maior participação no valor gerado pelos grãos no país, com 6,0% do total, que foi de R$ 295,688 bilhões. A fatia da Bahia no valor nacional dos grãos cresceu frente a 2019, quando era 5,3% do total.

A soja foi o produto agrícola com maior aumento absoluto do valor gerado, na Bahia: de R$ 5,9 bilhões em 2019 para R$ 10,3 bilhões em 2020, um recorde desde a entrada em vigor do Real (mais R$ 4,4 bilhões ou +73,7% em um ano). 

A quantidade de soja produzida no estado também cresceu entre 2019 e 2020, passando de 5,3 milhões de toneladas para 6,1 milhões, o que representou um aumento de 14,0% ou mais 748.316 toneladas em um ano. Em 2020, a safra baiana de soja foi a segunda maior em 46 anos (desde 1974), abaixo apenas do recorde verificado em 2018 (6,3 milhões de toneladas).

O crescimento do valor gerado pela soja, muito além da sua produção em volume, se deu por conta do cenário cambial favorável, que teve como consequência o aumento dos preços dessa commodity e uma maior rentabilidade ao produtor, o que, por sua vez, levou a um maior investimento e à expansão das áreas de cultivo.

A soja tem a maior safra em toneladas e o maior valor da agricultura baiana. Respondia, em 2020, por R$ 4 de cada R$ 10 gerados pela produção agrícola no estado (37,4% do total). A Bahia é o 7o produtor nacional da oleaginosa, com 5,0% das 121,8 milhões de toneladas colhidas em todo o Brasil, em 2020.

O algodão herbáceo tem o segundo maior valor de produção no estado, gerando, em 2020, R$ 4,4 bilhões (16,0% do valor total da agricultura baiana). Foi também um valor recorde desde o início do Real, com um crescimento de 16,3% frente a 2019 (+R$ 615 milhões). E isso apesar de o volume de produção ter caído um pouco. No ano passado, a Bahia colheu 1,462 milhão de toneladas de algodão, 30,7 mil toneladas a menos do que em 2019 (-2,0%). 

Ainda assim, o estado se mantém como o 2o maior produtor de algodão do Brasil tanto em quantidade (20,7% do total nacional) quanto em valor (23,0% do total gerado pelo produto). Só fica atrás de Mato Grosso, que detém 69,2% da produção brasileira de algodão (4,9 milhões de 7,1 milhões de toneladas) e 67,2% do valor gerado pela cotonicultura nacional (R$ 12,8 bilhões de R$ 19,1 bilhões). .

Terceiro produto que mais gera valor para a agricultura baiana, o milho em grão rendeu, em 2020, R$ 2,1 bilhões ou 7,8% de todo o valor agrícola do estado. Assim como ocorreu com a soja e o algodão, foi um montante recorde para o produto desde o início do Real, com forte aumento frente a 2019 (+105,2%, ou mais R$ 1,1 bilhão).

A safra baiana de milho em 2020 foi de 2,6 milhões de toneladas, 760.097 toneladas a mais do que o colhido em 2019 (+40,3%). Mas a Bahia é apenas o 9o maior produtor de milho do país, com o 8o maior valor de produção.

São Desidério passa de 3º a 2º maior valor agrícola no Brasil

Os crescimentos da produção e do valor gerado pela soja afetaram positivamente o desempenho das cidades agrícolas do Oeste da Bahia. Entre 2019 e 2020, Formosa do Rio Preto e São Desidério estiveram entre os três municípios brasileiros com os maiores avanços absolutos no valor da produção agrícola.

Nesse período, o valor da agricultura de Formosa do Rio Preto cresceu 78,3%, passando de R$ 2,1 bilhões para R$ 3,7 bilhões. O aumento absoluto, de R$ 1,6 bilhão, foi o 2º maior entre os municípios do país, atrás apenas do verificado em Maracaju/MS, onde o valor da produção agrícola avançou R$ 1,7 bilhão frente a 2019.

Já São Desidério apresentou o 3º maior avanço absoluto do valor agrícola no período, de R$ 3,2 bilhões em 2019 para R$ 4,6 bilhões em 2021, um aumento de R$ 1,4 bilhão (+44,6%).

Os crescimentos fizeram ambos os municípios subirem no ranking nacional dos maiores valores da produção agrícola.

São Desidério passou da 3ª para a 2ª posição entre os municípios brasileiros com o maior valor de produção da agricultura, ultrapassando Sapezal/MT (R$ 4,3 bilhões) e ficando atrás apenas de Sorriso/MT (R$ 5,3 bilhões).

O volume de soja produzido em São Desidério cresceu 15,0%, totalizando 1,5 milhão de toneladas em 2020, com um valor da produção de R$ 2,5 bilhões, 76,2% maior que o de 2019. O município passou de 6o a 3o maior produtor de soja do país.

O milho também teve uma safra significativamente maior no município, em 2020, chegando a 379,0 mil toneladas (+12,0% do que em 2019), com um valor de R$ 299,0 milhões, 75,7% acima do gerado no ano anterior.

Além disso, apesar da queda na produção do algodão herbáceo - que recuou 8,3% entre 2019 e 2020, em São Desidério, chegando a 543,7 mil toneladas -, o valor de produção gerado cresceu 9,3%, indo a R$ 1,6 bilhão. A redução da produção em 2020 tampouco impediu que São Desidério seguisse como o 2o maior produtor de algodão do país, tanto em quantidade quanto em valor, abaixo apenas de Sapezal/MT.

Com o 2o maior aumento absoluto do país no valor de produção agrícola, Formosa do Rio Preto subiu do 11o para 5o lugar no ranking nacional, entre 2019 e 2020. A escalada também foi puxada pelos desempenhos de soja, milho e algodão. 

A produção de soja em Formosa do Rio Preto cresceu 23,5%, totalizando 1,6 milhão de toneladas em 2020, com um valor da produção de R$ 2,7 bilhões, 90,8% maior que o de 2019. Com isso, o município passou da 3ª para a 2ª posição entre os maiores sojicultores do país tanto em quantidade quanto em valor, ficando atrás apenas de Sorriso/MT (que produziu 2,3 milhões de toneladas a R$ 2,8 bilhões).

A produção de milho cresceu 52,2%, chegando a 264,0 mil toneladas em 2020, e teve valor 107,9% maior do que em 2019 (R$ 182,8 milhões). A safra de algodão herbáceo, por sua vez, aumentou 19,7%, atingindo a marca de 248,1 mil toneladas, com valor de produção de R$ 751,7 milhões, 36,1% maior do que em 2019.

Assim, em 2020, a Bahia seguiu como 3o estado com mais municípios entre os 50 maiores valores da produção agrícola do país. Seis deles são baianos: São Desidério (2º), Formosa do Rio Preto (5º), Barreiras (19º), Correntina (22º), Luís Eduardo Magalhães (32º) e Riachão das Neves (40º). 

Mato Grosso tem o maior número de municípios entre os 50 maiores valores gerados pela agricultura (21 cidades). Mato Grosso do Sul fica na segunda posição (7). 

No ranking baiano do valor da produção agrícola, os dez municípios mais bem colocados foram os mesmos em 2019 e 2020, mas houve trocas de posições entre eles. Correntina subiu de 5º para 4º lugar, ultrapassando Luís Eduardo Magalhães, e Juazeiro caiu da 7º para a 9º posição, sendo superado por Jaborandi e Mucugê.

Valor da fruticultura baiana 

O grupo das frutas reúne 20 produtos também importantes para a economia da Bahia e que, em 2020, viram seu valor crescer pelo segundo ano consecutivo.

Em 2020, a fruticultura baiana gerou R$ 3,5 bilhões, o segundo maior valor de produção desde o início do Real, um pouco abaixo apenas do verificado em 2016 (R$ 3,6 bilhões). O estado respondia, no ano passado, por 8,6% do valor da fruticultura nacional (R$ 40,4 bilhões), com o segundo maior montante, abaixo apenas de São Paulo (R$ 13,0 bilhões ou 32,3% do total).

Frente a 2019, o valor da produção da fruticultura na Bahia cresceu 11,7%, o que representou mais R$ 362,1 milhões em um ano. Esse avanço ocorreu apesar de a quantidade produzida ter caído um pouco, de 3,212 milhões de toneladas em 2019 para 3,180 milhões de toneladas no ano seguinte (-32,7 mil toneladas ou -1,0%).

Apesar do desempenho em geral positivo da produção baiana de frutas, em 2020 os dois principais municípios do estado nessa atividade, Juazeiro e Casa Nova, tiveram quedas do valor gerado.

Com R$ 527,4 milhões em 2020, Juazeiro se manteve como o 2o município brasileiro em valor de produção frutícola, atrás apenas de Petrolina/PE (R$ 1,6 bilhão), mas registrou redução de 10,5% frente a 2019 (menos R$ 62,1 milhões). Já Casa Nova caiu de 9º para 10º lugar no ranking nacional do valor das frutas, com R$ 293,8 milhões em 2020, 1,6% a menos que o gerado em 2019 (menos R$ 4,8 milhões).

A Bahia ainda tem um terceiro município ente os 20 maiores valores da produção da fruticultura no país: Bom Jesus da Lapa, que subiu do 13o para 12o lugar, em virtude de um crescimento de 10,7% no valor dessa atividades, de R$ 247,8 milhões em 2019 para R$ 274,3 milhões em 2020.

Juazeiro e Casa Nova têm a manga como principal produto frutícola. Já Bom Jesus da Lapa é o município brasileiro com o maior valor de produção de banana.

Na Bahia, de uma forma geral, a cultura da manga teve resultados positivos entre 2019 e 2020. O estado é o 2o maior produtor da fruta, em volume colhido, atrás de Pernambuco, e sustentou o maior valor de produção do país.

De 2019 para 2020, a produção baiana de manga cresceu 6,4%, chegando a 470.487 toneladas, 28,2 mil toneladas a mais que em 2019. Já o valor de produção avançou 15,8% no período, chegando a R$ 755,4 milhões (mais R$ 102,9 milhões).

Juazeiro é o maior produtor de manga na Bahia e o segundo do país, em quantidade da fruta. O município teve leve aumento na produção, que chegou a 181.716 toneladas em 2020, 1,3% a mais do que em 2019. Porém, o valor gerado caiu 4,6%, ficando em R$ 323,1 milhões (menos R$ 15,5 milhões). Petrolina/PE seguiu liderando na produção e no valor da manga, com 450 mil toneladas e R$ 364,5 milhões.

Com Casa Nova aconteceu o oposto: houve crescimento de 4,7% do valor gerado pela manga, que chegou a R$ 155,1 milhões em 2020, mas a produção em volume teve queda de 6,1% e ficou em 107 mil toneladas. Ainda assim, o município continuou como o terceiro maior produtor de manga do país.

Um destaque positivo da fruticultura baiana, em 2020, ficou com Livramento de Nossa Senhora, no Centro-Sul do estado. Puxado pela manga e pelo maracujá, o município teve os maiores crescimentos absolutos na quantidade de frutas produzidas e no valor gerado por elas, na Bahia. 

Entre 2019 e 2020, a produção de frutas em Livramento cresceu 54,7%, de 78.225 para 121.015 toneladas. Já o valor gerado aumentou 93,0%, de R$ 103,2 milhões para R$ 199,2 milhões. A cidade também está entre as 10 maiores produtoras de manga do Brasil e subiu duas posições nesse ranking, de 7º para 5º lugar.

Além de gerar riqueza, por meio de produtos de alto valor econômico como as commodities e as frutas, a agricultura também tem importância fundamental na produção de alimentos. Dentre eles, vale destacar na Bahia a batata-inglesa.

Entre 2019 e 2020, o estado passou do 5o para o 4o lugar entre os maiores produtores de batata-inglesa do país, ultrapassando o Rio Grande do Sul. Colheu, no ano passado, 390.789 toneladas do tubérculo, 30,1% a mais do que em 2019 (mais 90,5 mil toneladas). No mesmo período, o valor de produção cresceu 32,0%, chegando a R$ 805 milhões em 2020 – também o 4o maior do país.

A região da Chapada Diamantina reúne os maiores produtores de batata-inglesa da Bahia, com destaques nacionais para Mucugê e Ibicoara.

Com uma safra de 234.630 toneladas, que geraram R$ 483,3 milhões em 2020, Mucugê é o maior produtor de batata-inglesa do estado e o 2o maior do país, atrás de Perdizes/MG (238.950 toneladas). O município baiano tem ainda o maior valor de produção de batata no Brasil.

Já Ibicoara, 2º produtor de batata da Bahia e 4o do Brasil, registrou safra de 156.000 toneladas em 2020, gerando um valor de R$ 321,3 milhões, o que fez o município passar a ser o 2o do país em valor do produto (era o 3º em 2019).