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Vulcão Cumbre Vieja entra em erupção mas terremoto é pequeno

O terremoto de magnitude 3,8 é insuficiente para causar o tsunami que atingiria a costa brasileira, como se especulou

O vulcão Cumbre Vieja em erupção

O vulcão Cumbre Vieja, na ilha espanhola de La Palma, no Oceano Atlântico, entrou em erupção neste domingo (19 de setembro), após um aumento de atividade sísmica durante uma semana, o que levou as autoridades a acelerar as evacuações de cerca de 1.000 pessoas.

Um terremoto de magnitude 3,8 foi registrado antes da erupção, pois as vibrações da atividade sísmica foram sentidas na superfície, insuficiente para causar um tsunami que atingiria a costa brasileira, como se especulou nos últimos dias.

Um rio de lava deslizou em direção a algumas casas na vila de El Paso, onde o prefeito, Sergio Rodriguez, disse que 300 pessoas em perigo imediato foram retiradas de suas casas e enviadas para o campo de futebol. Estradas foram fechadas devido à erupção e as autoridades incitaram os curiosos a não se aproximarem da área.

A primeira erupção vulcânica das Ilhas Canárias em 50 anos obrigou a retirada de cerca de 5 mil pessoas, incluindo aproximadamente 500 turistas, e destruiu cerca de 100 casas, disseram autoridades nesta segunda-feira (20).

Nenhuma morte foi registrada, mas o vulcão ainda estava ativo nesta segunda-feira. Um repórter da Reuters viu fumaça espessa saindo do vulcão e casas em chamas.

Autoridades disseram ter esperança de não ter que retirar mais ninguém.

"A lava está seguindo para o litoral e o dano será material. De acordo com especialistas, há cerca de 17 milhões a 20 milhões de metros cúbicos de lava", disse o presidente regional, Ángel Victor Torres, à Rádio Cadena Ser.

O fluxo de lava já destruiu cerca de 100 casas, disse Mariano Hernández, presidente do conselho de La Palma.

Cerca de 20 moradias foram engolidas no vilarejo de El Paso, assim como trechos de ruas, disse o prefeito Sergio Rodríguez à emissora estatal TVE. A lava estava se espalhando por vilarejos vizinhos e colocando centenas em risco, acrescentou.

O vulcanólogo Nemesio Pérez disse que mortes são improváveis, contanto que ninguém se comporte irresponsavelmente.

Autoridades espanholas alertaram sobre a possibilidade de erupção do Cumbre Vieja durante a semana, quando foi registrado um aumento da atividade sísmica na ilha de La Palma. No sábado, 18, o Instituto de Vulcanologia das Ilhas Canárias identificou vários tremores de terra de baixa intensidade - o maior deles alcançou o nível 4 na escala Richter.

O interesse do público brasileiro pelo vulcão espanhol cresceu durante a semana, após postagens enganosas sobre o Cumbre Vieja alertarem sobre um possível tsunami na costa brasileira em caso de erupção. Nas redes sociais, as menções ao tema geraram mais de 420 mil interações no Facebook entre quinta e sexta-feira, de acordo com a ferramenta CrowdTangle.

As publicações não mencionavam quão pequena é a chance de um tsunami no Brasil.

Temia-se uma catástrofe, caso ocorresse uma forte erupção, próxima de 9 na Escala Richter, que poderia causar o colapso ou desmoronamento desta ilha no leito oceânico, provocar um super terremoto e a formação de um megatsunami de caráter global, atingindo toda a costa leste das Américas, a costa oeste africana e o litoral europeu ocidental. Os destroços continuariam a viajar - como um fluxo de detritos, ao longo do leito do oceano.

Uma modelagem por computador indicava que a onda resultante inicial poderia atingir uma amplitude local (altura) acima de 600 metros e um pico inicial de altura que se aproximaria de 2 km, viajando a cerca de 1000 quilômetros por hora (aproximadamente a velocidade de um avião a jato), inundando o litoral da África Ocidental em cerca de uma hora, o litoral sul do Reino Unido em cerca de 3,5 horas, e a costa leste da América do Norte em cerca de seis horas, altura em que a onda inicial teria diminuído em uma sucessão de pequenas ondas, cada uma com cerca de 30 a 60 metros de altura.

Os modelos sugeriam que o tsunami poderia inundar até 25 km do interior dos continentes, prejudicando gravemente ou destruindo as cidades ao longo de toda a costa leste da América do Norte. Os danos físicos levariam dezenas, se não centenas de anos, para serem reparados e restaurados. As economias dos países afetados igualmente levariam vários anos para retornar aos níveis pré-inundação.

Como foi

O Instituto de Vulcanologia das Ilhas Canárias relatou a erupção em Cumbre Vieja (a última vez havia sido em 1971). Enormes nuvens de fumaça preta e branca dispararam de um ponto na crista vulcânica onde os cientistas vinham acompanhando de perto o acúmulo de lava derretida abaixo da superfície. Manchas vermelhas podiam ser vistas no fundo dos jatos negros que lançavam pedras no ar.

La Palma, com uma população de 85 mil habitantes, é uma das oito ilhas do arquipélago espanhol das Ilhas Canárias. No ponto mais próximo da África, eles estão a 100 quilômetros (60 milhas) do Marrocos.

Depois de dias do que os cientistas chamam de “enxame de terremotos”, as autoridades em La Palma já haviam começado a evacuar os residentes com mobilidade reduzida no domingo, pouco antes do início do solo.

A área próxima ao extremo sul da ilha é escassamente povoada. Moradores de cinco vilarejos próximos já haviam sido informados para ficarem em alerta e prontos para deixar suas casas em caso de erupção.

O Comitê Científico do Plano de Prevenção de Riscos de Vulcões disse que terremotos mais fortes "podem ser sentidos e podem causar danos a edifícios". O comitê de especialistas também observou que um trecho da costa sudoeste da ilha está sob risco de deslizamentos de terra e quedas de rochas.

O presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, viajará neste domingo para a ilha de La Palma, anunciou seu gabinete. "Diante da situação gerada na ilha de La Palma, o presidente do Governo adiou a viagem prevista para hoje a Nova York" para participar da Assembleia Geral da ONU, "e se deslocará nesta mesma tarde às Canárias para acompanhar a evolução dos acontecimentos", informou o serviço de imprensa do governo espanhol em um comunicado.

O que já aconteceu

Na história, a erupção do Krakatoa gerou um tsunami devastador, mas o dano foi local e não se propagou por longas distâncias. Isso pode ter sido devido à geografia das áreas confinantes da região.

Há cerca de 3615 anos o vulcão de Santorini explodiu com um VEI estimado em 6. Pesquisas sugerem que a erupção gerou um tsunami que inundou a ilha de Creta, possivelmente, provocando a queda da Civilização Minoica.

Em 9 de julho de 1958, um terremoto e deslizamentos em na Baía de Lituya, no Alasca, gerou um "megatsunami" com uma amplitude inicial (altura) de aproximadamente 524 m, que retirou as árvores e o solo à sua frente e inundou toda a baía, destruindo três barcos de pesca ancorados lá e matando duas pessoas. Uma vez que a onda atingiu o mar aberto, no entanto, rapidamente se dissipou.

Eventos de colapso lateral em estratovulcões, semelhante à atual ameaça representada pelo flanco ocidental do Cumbre Vieja, poderiam aumentar devido aos efeitos físicos do aquecimento global sobre a Terra, enquanto o tamanho ema frequência das erupções também tendem a aumentar.