Cassiano Antico

Por que precisamos aceitar a dor (e mudar a partir dela)

 
Deus, a vida é estranha. Pessoas vem e vão. Algumas se vão rápido e outras devagar. Não, não, não, não, não!
-- T. Rex - Life Is Strange)


Cena de "Clube de Compras Dallas"

Não temos o costume de conversar ou refletir sobre nossas perdas, doenças ou luto ao longo da vida. E isso seria essencial para encararmos nossos fracassos e, dessa forma, seguirmos em frente mais humanos e fortes.

No país da alegria, do futebol, do carnaval e do “jeitinho” parece que não se tem a menor noção de que nem sempre a gente ganha. Até em tempos de pandemia, o Instagram da turma é pura felicidade, só alegria.

A aceitação da dor tem o poder de nos mudar. Um exemplo disso é a vida de Ron Woodroof, texano homofóbico, cocainômano, eletricista e vaqueiro que transformou sua vida – e a de inúmeras outras pessoas – quando diagnosticado com HIV.

Acompanhamos Woodroof a partir de 1985, no filme "Clube de Compras Dallas", que é baseado em sua existência, e na batalha que ele travou contra a FDA, órgão governamental dos Estados Unidos para o controle de drogas e alimentos, ao importar e revender medicamentos proibidos para pessoas na mesma situação que ele. Suas escolhas o guiam por caminhos redentores. 

Para quem começa arrogante e preconceituoso, Ron (interpretado por McConaughey), que emagreceu 30 quilos para o papel, evolui e se torna uma pessoa sensível e altruísta. Viver, pra ele, passa a ser ajudar o maior número de pessoas. De homofóbico, ele se transforma num ser humano que não julga o próximo, tanto é que  Jared Leto, que perdeu 18 quilos para interpretar o transgênero Rayon, torna-se seu melhor amigo.

Ron desafia tudo e todos... Deram dois meses de vida a ele. Ele se nega a aceitar tal bagatela. Ele luta. Ele vive. Ele monta no touro. Nós podemos muito mais do que imaginamos. Fisicamente e moralmente. Ron é a prova disso. O ser humano pode ser humano.