O desafio de descobrir quais são as espécies da fauna e da flora no Ceará foi lançado pelo Programa Cientista Chefe de Meio Ambiente da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap) em conjunto com a Secretaria do Meio Ambiente do Ceará (Sema). Foi uma tarefa complexa respondida em três partes: a primeira tratou dos animais vertebrados (anfíbios, répteis, aves, peixes e mamíferos), a segunda correspondeu à flora e a última abrangeu um grupo muito maior de fauna, que corresponde aos invertebrados.
Esta terceira parte, do levantamento de informações sobre as espécies invertebradas do Estado, será apresentada no próximo dia 10 de agosto, às 14 horas, no canal do Youtube da Sema. De acordo com a equipe responsável, o Inventário da Fauna de Invertebrados é um trabalho inédito com informações de animais que habitam os mais diversos ambientes e apresentam grande valor para o equilíbrio da natureza, para a sociedade e para a economia cearenses.
Foram 2.345 espécies de invertebrados catalogados em ambientes como sertão, manguezais, chapadas, serras, rios, lagoas e nos ecossistemas marinhos (rasos e profundos). O inventário possui 19 grupos distintos, incluindo abelhas, ácaros, aranhas, escorpiões, corais, águas-vivas, hidras, caranguejos, lagostas, estrelas-do-mar, formigas, polvos, lulas, bivalves, esponjas, cupins e vespas, dentre outros.
Entre os invertebrados presentes no levantamento há exemplares que têm grande importância econômica para o Ceará, como lagostas, caranguejos e camarões no litoral. Também há espécies que dão colorido e diversidade, como as borboletas, e as que têm impacto social (garantia de segurança alimentar e cultural, incluindo as de uso em artesanato, como os moluscos) e ambiental.
Este último grupo assegura a conservação e o equilíbrio do meio ambiente e a provisão de serviços ambientais – como, por exemplo, as abelhas que realizam polinização, processo essencial para os cultivos agrícolas.
A pesquisa que será apresentada na live é o capítulo final de uma trilogia que visava mapear a vida no território do Ceará e foi realizada por mais de 68 especialistas de 21 instituições, sendo seis universidades cearenses: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), Universidade Estadual do Ceará (Uece), Universidade Federal do Cariri (UFCA), Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade Regional do Cariri (Urca) e Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). O Inventário da Fauna de Vertebrados, com 1.275 espécies, foi lançado em fevereiro deste ano; e em maio foi a vez do Inventário de Flora, com 2.465 espécies.
Ao todo, o mapeamento da biodiversidade que existe no território cearense, liderado pelo Cientista Chefe de Meio Ambiente da Funcap, conseguiu registrar, em menos de um ano, 6.085 espécies, sendo 3.620 animais e 2.465 plantas.
Uma das metas do grupo é que o inventário, com acervo disponível de forma digital, auxilie na elaboração de políticas públicas de saúde, segurança alimentar e preservação, em estudos de biotecnologia, na avaliação de impactos de empreendimentos e no conhecimento das espécies pela sociedade.
Marcelo Soares, professor da UFC e coordenador do Programa Cientista Chefe de Meio Ambiente, explica que o programa visa reunir academia e poder público no avanço de políticas públicas.
“Quando começamos o trabalho, vimos que precisávamos fazer um levantamento da flora e fauna ameaçadas de extinção para poder criar políticas públicas específicas. Mas percebemos que nunca fizemos um levantamento do que temos no Estado como um todo para poder fazer um aproveitamento econômico, social e traçar políticas de preservação”.
Ele detalha que o estudo do grupo dos vertebrados foi coordenada pelo professor Hugo Fernandes, da Uece, lançado em fevereiro de 2021.
Na flora, muito diversificada pelas diferentes paisagens do Estado, foram documentadas plantas com flores e frutos, sendo 50% na Caatinga, sob a coordenação da professora Maria Iracema Bezerra Loiola, do Departamento de Biologia da UFC, lançado em agosto.
O pesquisador destaca que o Ceará é o primeiro Estado nordestino a finalizar o levantamento de toda a sua biodiversidade com 2.465 espécies plantas e 3.620 espécies de animais totalizando 6.085 espécies. “Tudo vai ficar disponível no site da Sema. E é bom destacar que esse é um trabalho em construção porque sempre vai ter pesquisador em campo fazendo novas descobertas”, ressalta.
Fauna de vertebrados
1.275 espécies
140 mamíferos (115 continentais e 25 marinhos)
133 répteis
57 anfíbios
443 aves
502 peixes (400 marinhos e 102 continentais)
Flora
2.465 espécies
Fauna de invertebrados
2.345 espécies
248 crustáceos
670 moluscos (polvos, lulas, caracóis, búzios)
144 abelhas
211 formigas
281 aracnídeos (aranhas e escorpiões)
“Esperamos que ajude na conservação das espécies, na bioeconomia, na biotecnologia, na sustentabilidade pesqueira porque essas espécies contribuem para a segurança alimentar de muitas comunidades; nos serviços ecossistêmicos, por exemplo as abelhas que são responsáveis pela polinização das nossas principais culturas”, pondera Marcelo Soares.
Ele lembra que muitos desses invertebrados têm grande importância biotecnológica.
Há pesquisas da UFC e da Uece com esponjas, pepinos do mar, corais onde são encontradas substâncias anticancerígenas, cicatrizantes, que podem ser usadas em diversos fármacos.
“Hoje pagamos caríssimo, em dólar e euro, por produtos farmacêuticos de origem tropical e isso poderia ser a maior indústria nacional, considerando a nossa biodiversidade. E poderia gerar muita riqueza para o País na forma de patentes e de repartição de benefícios com as comunidades. Várias estão nessa lista de invertebrados e muitas outras poderão ser descobertas pela ciência”, acrescenta.
Sobre a conservação, o professor ressalta que é muito importante verificar as espécies que estão nas listas vermelhas, um próximo passo do trabalho. Ele revela que aproximadamente 98% das espécies identificadas são nativas. Mas também há invasoras e exóticas. São mais de 20 e algumas são um risco à conservação, como, por exemplo, o coral-sol.
Professor do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) / UFC, Luís Ernesto Arruda, do grupo de crustáceos, afirma que a maioria das espécies relacionadas é comum. Mas o caranguejo-uçá (Ucides cordatus), aquele que se costuma degustar nas praias do Nordeste, é uma espécie criticamente ameaçada por conta do esforço de pesca. “Ainda são encontrados nos mangues do Ceará, mas em pequena quantidade”, lamenta.
O secretário de Meio Ambiente do Ceará, Artur Bruno, afirma que, com o que ele classifica como trilogia, hoje nós temos condição de saber quais são as espécies de fauna e flora existentes no Estado. “Esses estudos são realizados há décadas no Ceará, alguns inclusive do século passado, mas eles nunca tinham sido compilados, integrados no sentido de reunir todo o esforço de professores e pesquisadores que se dedicaram a entender a nossa biota”, enfatiza.
E completa: “agora, conhecendo o que temos de espécies, o próximo esforço, no ano que vem, será a lista vermelha da fauna e da flora e a aí termos políticas específicas com as universidades, as ONGs e a sociedade para preservar os recursos naturais do Estado. Isso é fundamental.
Embora tenham como público-alvo gestores públicos, empresas, ONGs, estudantes e pesquisadores, todas as informações são de acesso livre e gratuito para a sociedade e irão ter atualização constante. Elas estão disponíveis no site da Sema, no endereço www.sema.ce.gov.br/fauna-do-ceara.