Nordeste

Pesquisadores redescobrem planta rara não documentada há quase 40 anos

A cebola-brava ou Cearanthes fuscoviolacea é uma espécie da família Amaryllidaceae

Foto: Antonio Sergio Farias
A espécie deve ser considerada como Em Perigo (EN) de extinção
A espécie deve ser considerada como Em Perigo (EN) de extinção

Cearanthes fuscoviolacea é uma espécie da família Amaryllidaceae, a mesma das açucenas, da cebola e do alho. É conhecida popularmente como cebola-brava e apresenta delicadas flores lilases.

Só é encontrada em todo o Planeta na região norte do Planalto da Ibiapaba, no Norte do Ceará e Piauí, junto a riachos, e possuía poucas informações publicadas.

Isso mudou com a apresentação do estudo “Rediscovering Cearanthes Ravenna (Amaryllidaceae): a monotypic genus from the Brazilian Caatinga on the brink of extinction“, traduzindo: “Redescobrindo Cearanthes Ravenna (Amaryllidaceae): um gênero monotípico da Caatinga brasileira à beira da extinção“, apresentado no II Virtual Meeting of Systematics, Biogeography, and Evolution (SBE meeting 2021), ou II Encontro Virtual de Sistemática, Biogeografia e Evolução (Encontro SBE 2021), que se encerrou neste dia 23 de junho de 2021. As informações são do professor e pesquisador Antonio Campos-Rocha, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), autor principal da pesquisa.

“Era como uma espécie esquecida e de identidade duvidosa. Em 2015, em um esforço conjunto de pesquisadores da Unicamp e do Movimento Pró-Árvore, uma população isolada da espécie foi encontrada no sub-bosque de um pequeno fragmento de Caatinga, em Viçosa do Ceará, na Ibiapaba. Nos anos seguintes, mais duas pequenas populações foram localizadas, incluindo um registro inédito para o Estado do Piauí”, revela o professor.

De acordo com os critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), Cearanthes fuscoviolacea deve ser considerada como Em Perigo (EN) de extinção, em razão do número de localidades conhecidas e declínio contínuo na qualidade de seu hábitat.

Sua área de ocorrência está inserida na APA da Serra da Ibiapaba. O professor Campos-Rocha destaca, porém, que as Áreas de Proteção Ambiental (APAs) foram instituídas como a categoria menos restritiva das Unidades de Conservação (UCs) do Brasil, apresentando sérias limitações para promover uma efetiva preservação da Biodiversidade.

“Urge que seja conhecida por um público mais amplo, incluindo os estudantes da região, e efetivamente protegida, com legislação e criação de áreas protegidas, sejam públicas ou privadas”, alerta Antônio Sérgio Farias-Castro, do Movimento Pró-Árvore.

O achado representa, segundo o professor, um grande avanço para as pesquisas em andamento com a família Amaryllidaceae, permitindo uma melhor compreensão sobre sua história evolutiva. 

Cearanthes significa “flor do Ceará”, destaca Antônio Sérgio. Além do pesquisador Antonio Campos-Rocha e de Antônio Sérgio Farias-Castro, estão envolvidos no estudo, Julie H.A. Dutilh e Patrícia A. Messias (Unicamp);  e Alan W. Meerow (Arizona State University).

“A redescoberta desta planta magnífica e ameaçada, a ‘flor do Ceará’, se deu por ocasião da 11ª Expedição do Movimento Pró-Árvore, fundado em 2011, ao Planalto da Ibiapaba, em agosto de 2015.

Este, que já é um Movimento consolidado, na defesa e promoção das árvores e dos ecossistemas do Ceará, também participa de pesquisas em Botânica, a ciência das plantas. Estivemos com o amigo e plantador-mor de árvores, Leonardo Jales, em colaboração a biólogos pesquisadores de Campinas, Julie Dutilh e Antonio Campos-Rocha”, conta Antônio Sérgio Farias-Castro, do Movimento Pró-Árvore.

É importante destacar que o objetivo principal da reunião SBE 2021 foi alcançar pessoas que geralmente têm restrições econômicas para comparecer à maioria das reuniões científicas em diferentes áreas da biologia evolutiva.