Dos ditadores, dos tiranos, origina-se os pensadores, aqueles que movem o nosso mundo.
A palavra acorrentada é terrível. Então ela arrebenta, rompe-se o grilhão da ignorância.
Nascem "Os Miseráveis" (Victor Hugo), "Crime e Castigo" (Dostoiévski), "A Peste" (Camus), "Vagabundos Iluminados" (Kerouac), "Aurora" (Nietzsche), etc.
O escritor duplica e triplica o seu estilo, quando um genocida impõe silêncio ao seu povo. Sai desse silêncio certa plenitude misteriosa que se filtra e se condensa em prata no pensamento. "Prata que te quero ouro" - o ouro da palavra.
A tirania constrange o escritor a circunscrições de diâmetro, que são alargamentos de força. Ele fica mais forte, mesmo humilhado. Exatamente como escreveu Victor Hugo, o período ciceroniano, apenas suficiente para Verres, sobre Calígula embotar-se-ia.
Quanto menor for a exuberância da frase, maior será a intensidade do golpe. Sirva de exemplo a concisão de Tácito no exprimir e a sua veemência no pensar.
A honestidade de um grande coração, condensada em justiça e em verdade, fulmina. Tente encarar os aforismos de Nietzsche e sair ileso da empreitada. Ou Rimbaud... Que por inocência perdeu, perdeu... "Inútil, Inútil beleza!", gritava.
O grande problema, segundo Nelson Rodrigues, é que toda unanimidade é burra. É uma simples equação matemática. É só isso.
É muito coice. É muito vaca de presépio. É muito bicho de sete cabeças - bolas sem cérebros. É só dar uma pequena olhada na história da humanidade.
É sair desse lixo todo e perceber que estou diante de duas criaturas cheias de delicadeza, carinho e que são o sentido da vida, o sentido da minha vida. É minha filha dizendo que me ama e que sente minha falta. É ficar com o coração na mão diante da verdadeira preciosidade deste mundo. Uma jóia, linda e espiritual.
Talvez algum elemento bípede, um monstro, uma monstra, uma coisa medonha qualquer, um dia a machuque ou tente destruí-la. Pode acontecer como acontece com os adultos, em geral. Fico torcendo para que isso não aconteça... Nunca, jamais! E que eu esteja sempre lá para elas. Como um guardião, um protetor. Um zelador de duas nobres almas é o que sou! Minha função mais preciosa sobre a terra.
Entretanto, sei do desafio que tenho pela frente. Nenhum século professou o egoísmo de uma forma tão franca e tão crua como o nosso. A lei de talião pode ser considerada um paraíso se comparada com as injustiças do agora.
Já fomos boas pessoas? Será? Nas cavernas? Na inquisição? Nas guerras santas? Nas fofocas? Na arca? Podemos ser novamente? Depende de quem? Do Bozo motociclista? Do bananinha? De mim e de você? Da ação? Do perdão? Da vontade? Da boa vontade? Tem receita?
Minha filha ri pra mim agora. As palavras somem. Fica só o amor. Precioso, bondoso, paciente. Como só o amor pode ser.