Bahia / Cidade

Jornalistas continuam fora da lista de vacinação (um morre por dia)

As mortes poderiam ter sido evitadas

Quem é essencial para trabalhar deve ser prioritário para ser vacinado
Jean Rego
Jean Rêgo, 47 anos

Enquanto os jornalistas e radialistas da Bahia aguardam o início da vacinação dos profissionais que informam a população em meio à maior crise sanitária da História, um profissional da comunicação morre por dia no Brasil.

Um deles foi Jean Rêgo, 47 anos, que estava internado lutando contra a Covid-19. Ele deixa mulher e filho, além de muitos amigos que admiravam sua competência e criatividade na Rádio Juazeiro, seu segundo lar.

Ele ficou uma semana internado, foi transferido para a UTI e intubado num hospital da região. A morte de Jean, radialista e jornalista, poderia ter sido evitada, se os jornalistas estivessem no grupo prioritário para receber a vacinação contra Covid.

Durante a pandemia ele manteve a programação diária, na missão de manter as pessoas bem informadas - o que é essencial para combater um inimigo desconhecido, como esse vírus.

Nesta quinta-feira, 20), a Comissão Intergestores Bipartite (CIB) publicou no Diário Oficial da Bahia a decisão tomada na reunião de terça-feira (18) que inclui jornalistas de redação e assessorias, radialistas, fotojornalistas, cinegrafistas, radialistas e profissionais de blogs e portais informativos entre os grupos prioritários para a imunização. 

Na quarta (18), os Ministérios Públicos Estadual e Federal oficiaram a CIB, recomendando que não aprovasse e as secretarias de saúde não executassem vacinação de grupos não previstos no PNO, alegando uma possível violação ao princípio de equidade. Isso gerou insegurança jurídica entre os gestores municipais, atrasando o início da imunização da categoria, considerada essencial na pandemia pelo decreto 10.288/2020, publicado em março do ano passado.

Um levantamento da Federação Nacional dos Jornalistas, revelou que a Covid-19 mata um jornalista por dia no Brasil. Esse número assustador de vidas perdidas de quem está na linha de frente levando informação de qualidade para a população na maior crise sanitária da História embasa o pedido, acatado esta semana pelas autoridades sanitárias da Bahia, de priorizar a vacinação de quem trabalha na imprensa. 

Outro estudo publicado este mês pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), “Boletim Emprego em Pauta”, também reforça o risco que jornalistas têm vivido para informar a população.

Baseada nos dados do Caged (Cadastro Geral de Emprego e Desemprego), houve um crescimento de 124,5% nos desligamentos por morte entre profissionais no setor de Informação e Comunicação: foram 194 desligamentos no primeiro trimestre de 2020, número que saltou para 435 no mesmo período deste ano.

A proporção só fica atrás da área médica e de eletricidade e gás. Os dados coincidem com o arrefecimento da pandemia, quando muitos jornalistas foram chamados a voltar ao presencial.

A posição da Prefeitura

O secretário municipal de Saúde em Salvador, Leo Prates, enviou ao LEIAMAISba a seguinte declaração: "Esclarecemos que a aprovação da resolução na CIB [Comissão Intergestores Bipartite] para vacinação dos profissionais de comunicação contou com o voto favorável de Salvador, ou seja, votamos pela inclusão dos jornalistas no grupo prioritário da vacinação contra a Covid-19 na capital baiana. Porém, logo após a votação veio a discussão do MP [Ministério Público] e MPF [Ministério Público Federal] sobre a competência da CIB para inserção de públicos alvos, seguida da recomendação para que não fosse feita imunização de quem não está inserido no Plano Nacional de Operacionalização da vacina, o que é o caso dos jornalistas. Deixamos claro que continuamos dialogando com todas as instâncias para encontrarmos uma solução".