Cassiano Antico

Uma lição de Cássia Eller e os passos leves do meu avô

 
Me canso fácil dos preciosos intelectos que precisam cuspir diamantes toda vez que abrem as suas bocas
-- Charles Bukowski

Uma vez ouvi a Cássia Eller dizer (num programa de TV) que não precisava nem ser uma canção inteira para ela ganhar o dia - bastava um verso. Ou o jeito que alguém cantava aquele pedacinho de "frase". Uma nota. Ela dizia que aquilo aliviava sua dor; não entrou em detalhes.

E eu me pego, muitas vezes, ouvindo trechos de canções, e me lembro sempre da Cássia dizendo isso. Coisas bastante humanas, canções do fundo do baú, que me remetem ao primeiro beijo - quando meu coração acelerou -, bateu tão forte, o céu mudou de cor e eu não sabia o que fazer.

E na contra-mão disso, recordo do último encontro com o meu avô. Nossa despedida; ele estava morrendo bem na minha frente. Ele amava os pássaros. Aprendi a olhar para esses voadores com ele.

E minha filha me parou na rua, hoje; ela me puxou pela mão para me mostrar um pequeno que "andava" sozinho, pertinho de nós.

Lembrei do vô. Como uma canção. O trecho exato estava ali. Até o jeito de caminhar era parecido. Apesar de ter sido um homem grande, quase 1 metro e  90 de altura, o vô tinha passos leves e uma delicadeza com as pessoas, com o mundo, que eu sempre admirei.

O vô era bom para desarmar bombas. As bombas bestas e mesquinhas que povoam a vida das pessoas e destroem o nosso mundo.