Meu amigo Antônio Carlos publicou outro dia um texto que entrou no meu primeiro livro, "Fratura Exposta". É sobre um cagueta. Uma vez, um cara que se dizia meu "grande amigo", ligou pra minha mãe de madrugada. Era um período que eu estava sem prumo, garanto que estava bem pior que hoje. Tinha uns dezessete anos.

E o "grande amigo" falou: "O seu filho é maconheiro, a senhora sabia?" E minha mãe respondeu calmamente: "Ô fulano, meu filho pode até ser isso aí que você está falando pelas costas dele. Acredito ser uma fase. Mas você é um cagueta. Não acredito que você queira ajudar o meu filho. E isso pra mim é um vício muito pior. Meu filho pode parar um dia. Mas você sempre será um cagueta... Um cagão e um cagueta".

O que a mãe falou pra mim depois é outra história. E é claro que meus pais já me sacavam. E não aprovavam o meu estilo de vida autodestrutivo. E conversamos dentro dos limites possíveis daquela época. Mas minha mãe sabe das coisas.

O sujeito também dizia a todos que era o número um em tudo. O "number one". Campeão em tudo. Eu nunca disse que minhas notas sempre foram melhores que as dele ou que tive bolsa integral numa Universidade Americana.

Como este cara era mala, meu Deus!  Certa vez eu cobri o boca mole na porrada. Não me orgulho disso. Mas ele pediu.

E hoje a gente ri toda vez que lembra daquele cagueta de merda. 

Tem um provérbio italiano que diz: "Uma boa mãe vale cem mestres". E hoje, caminhando de mãos dadas com minhas filhas na direção da escola, reparando nas pombinhas sujas comendo migalhas no chão e nos pássaros que voam livres no céu, percebo que muitas coisas ficaram para trás assim como muitas forjaram o meu caráter. Tenho orgulho das minhas cicatrizes. Nunca as escondo. Só eu e Deus sabemos da luta que travei com alguns demônios. 

O sol brilha sobre todos nós... Li em algum lugar que o que alegra agride o que agrada. Talvez isto esteja muito  próximo de definir minhas filhas, as crianças em geral. Aquilo que chega desbancando todo o esforço calculado para agradar, saca? Minhas filhas são a alegria em forma de vida. Alegria não quer promoção. Alegria não quer competição. Alegria não se vende.