Moda

Tecnologia permite criar roupas do tamanho do cliente

Ex-aluno do SENAI cria tecnologia que acaba com o tamanho 'padrão'

Foto: SENAI/Divulgação
A tecnologia criada por ele dá ao consumidor a chance de comprar roupas feitas sob medida para o seu corpo
A tecnologia dá ao consumidor a chance de comprar roupas feitas sob medida para o seu corpo
Divulgação

Cairê Moreira Rosário está entre os destaques da lista Under 30, em que a revista Forbes elenca empreendedores jovens para ficar de olho

Sai a fita métrica e entra o escaneamento digital. Um programa que projeta seu corpo, define suas medidas e muda o conceito de fabricação de roupas. É o fim dos tamanhos P, M ou G.

Essa é a intenção do Ateliê 4.0, criação do especialista em moda 3D Cairê Moreira Rosário. A inovação colocou o ex-aluno do SENAI CETIQT entre os destaques da lista Under 30, em que a revista Forbes elenca empreendedores jovens para ficar de olho. 

A tecnologia criada por ele dá ao consumidor a chance de comprar roupas feitas sob medida para o seu corpo e ao mesmo tempo com seu estilo. A ideia é dar liberdade de criação e expressão a quem vai usar as peças, sem a imposição de padrões. A democratização da moda.  

“As novas gerações têm um desejo pelo novo, a maioria tem problemas em chegar numa loja de varejo e a roupa não encaixa no seu tipo de corpo. Junto dessas duas informações passei a oferecer para os meus clientes opções e eles falavam que era impossível, não tinha como, então junto com a animação 3D pensei em soluções. A tecnologia e a inovação me ajudaram a mudar o conceito de fabricação de roupas”, destaca.

Na plataforma de digitalização Ateliê 4.0, sensores reproduzem uma réplica digital do corpo do cliente. O escaneamento corporal com design tridimensional  é a base para modelagem e corte das peças.

“Para tirar medida no lugar da fita métrica eu usava um scaner 3D, onde eu digitalizava o corpo do cliente e desenvolvia a roupa no computador. A técnica da indústria 4.0, me ajudou a tirar o projeto do papel, escalável e monetizar”, ressaltou Cairê Moreira.

A ferramenta desenvolvida é fruto de cinco anos de estudos e integração entre soluções em diversas áreas como engenharia, games, animações, têxtil e confecção. 

 

 

Além da plataforma, Cairê Moreita também foi fundador da empresa Genys, pioneira no Brasil no aspecto da moda digital: uso de influenciadores virtuais. Para reduzir custos com modelos e fotógrafos, nasceu a primeira modelo digital influencer brasileira, a Mia, para divulgação de suas criações.

Realidade da moda já é digital 

Formado em animação 3D, Cairê Moreira trabalhava com marketing digital e tinha uma carteira de clientes de moda, em São Paulo, onde morava.

De olho em aumentar as vendas dos seus clientes e no que o consumidor espera, Cairê realizou uma pesquisa e identificou que as pessoas têm buscado roupas customizadas e sob medida.

Um moleton, por exemplo, pode ganhar novos cortes e tendências e deixando de lado aquele modelo etradicional e que não encaixa no seu corpo.

O mercado tem disponibilizado muitos recursos tecnológicos, como softwares que ajudam a melhorar a proporcionalidade da roupa e equipamentos eletrônicos de corte, passaram a ser incorporados à produção de vestuário sob medida.

A alfaiataria digital foi apontada, em 2018, como uma das profissões do futuro pela empresa global de consultoria em tecnologia e macrotendências Cognizant. 

“Além de inovador, esse método pode mudar nosso pensamento em relação a tamanhos padronizados pela indústria, nos quais todos temos que nos adaptar. E poderá servir tanto para a peça única como para a produção em escala”, diz Cairê, que aponta para um futuro no qual não precisaremos comprar modelos pré-fabricados.

A democratização da moda 

As novas gerações buscam tendências para criarem seu estilo, fazem uso de conteúdos específicos, culturamente usamos o que é entregue no varejo.

Agora é o consumidor quem dita tendência. Analisando o mercado, o público e os números Cairê Moreira entendeu que era o momento de investir em seu projeto.

 “O início não foi fácil. As pessoas não acreditavam que era possível usar a tecnologia para fabricar roupas e o investimento foi próprio. Todo o projeto custou R$ 70 mil. Quando começou a funcionar consegui me destacar, chamando atenção e ganhando relevância, acreditando mais em mim e abrindo portas”, relembrou. 

Para investir no seu projeto e mostrar que a moda 3D pode tornar uma realidade, era preciso entender como o mercado funcionava para depois chegar na indústria. “Eu sabia onde queria chegar, fui de degrau em degrau em busca desse sonho. Descobri a dor do cliente, descobri as tecnologias academicamente, isso me levou para uma área da confecção. Foi um crescimento descentralizado, buscava conhecimento de acordo com a necessidade, independete da área de atuação”, relembrou. 

Formação acadêmica e a busca por cursos e especializações fizeram parte desta caminhada. Para conseguir atender essa demanda, o primeiro passo foi fazer um curso de costura e modelagem no SENAC para entender como é o processo produtivo e onde poderia inovar, unindo algumas soluções do mercado de animação, automoção para adequar ao projeto que tinha na cabeça.

Mas ainda não era o suficienete, foi quando ele viu o curso de Especialização Master In Business Innovation (MBI) em Indústria Avançada: Confecção 4.0, da Faculdade SENAI CETIQT. 

“O MBI proporcionou todo o conhecimento para conseguir tirar meu projeto do papel, além de me dar relevância dentro do mercado. Eu não saí do SENAI CETIQT apenas com conhecimento e estrutura, saí como um profissional respeitado com muitos contatos, parceiros e clientes”, afirma. 

“O projeto é multidisciplinar, não se prende a um nível de conhecimento. É preciso mergulhar em  outros campos da tecnologia, esse pensamento aberto para inovação é o que define o meu trabalho”, reforçou.

Até que a Renner o contrate 

Para conseguir transformar o projeto em realidade, o jovem precisou convencer fornecedores e produtores de roupas que o negócio é viável. Com isso, ao aproveitar as oportunidades e apostar em inovação na indústria da moda, aos 26 anos, o paulistano Cairê Moura entrou para a lista Forbes Under 30, em 2020.

A indicação veio da BlackRocks Startups, que tem o objetivo de promover acesso à população negra em ambientes inovadores e tecnológicos.

O feito chamou atenção da Renner, onde é o mais novo contratado da empresa, na qual participa da construção de um projeto, que envolve digitalização.

“Graças ao MBI, hoje estou trabalhando em uma das maiores marcas varejista do Brasil. Esse é meu segundo emprego, uma grande oportunidade. A Renner me contratou com base no meu conhecimento, essa é a chance de mostrar meu potencial”, conta. 

Dentro da moda existe um desafio de entender o mercado e tecnologias do futuro. “Eu venci a rejeição de colegas que trabalham com moda.

Criar esse quebra-cabeça, tirar do papel e provar que o que eu estava fazendo funcionava, foi um desafio, pois não tive ajuda financeira. Então a rejeição faz parte, além de inúmeros nãos que tive, mas a cada obstáculo que surgia, me mantinha confiante”, relembra o especialista.