Foto: Frans Van Heerden/Pexels/Creative Commons
Não há ressurreição, renascimento e metamorfose sem a morte. E há sofrimento? Sim... Muito, em mim, em você, nele, nela, no mundo inteiro.
A vida não seria vida sem o sofrimento. Ele nos situa. Quando centenas de pessoas esperavam por um discurso "motivacional" e repleto de palavras de esperança, Buda disse o seguinte: "A vida é sofrimento". Sem o sofrimento não saberíamos identificar a alegria, assim como só compreendemos o que é o frio em relação ao quente. O alto em relação ao baixo. O bem em relação ao mal.
A dor e a experiência de dor nos permite ir além — sentir a coragem e a dignidade que existem em nós, e que são necessárias para seguirmos em frente. Se não encararmos nossos sofrimentos: ficamos paralisados.
E a morte?
Nunca se falou tanto em morte como nos dias de hoje. Nunca se morreu tanto. Minhas filhas falam abertamente de avós de coleguinhas que morreram e que estão morrendo. Dizem que seus coleguinhas estão tristes. Querem saber se eu vou morrer do coronavirus também.
Até o momento, temos nos mantido pacificos à desgraça coletiva. Muitos de nós, sem memórias e sem esperança, instalam-se no presente, criam raízes. Não como um ser iluminado - uma criança se deliciando com um brinquedo ou um Buda alcançando o nirvana. Mas como quem perdeu todas as esperanças.
Na verdade, tudo se tornou apenas o agora. O virus, é preciso que se diga, tirou de muitos o poder do amor e até mesmo da amizade. Porque o amor exige um pouco de futuro, de horizonte, de espaço, e isso não é possível para quem só tem instantes numa maca de hospital. Triste. Muito triste.
E reflito, em meio à pandemia, por que teimam em realizar os Jogos Olímpicos? Se houvesse um mínimo de generosidade no ser humano o cancelamento seria o certo a se fazer. É que tem muito dinheiro, patrocínio, conchavo, politicagem, interesses: envolvidos. Preocupação com a vida humana: zero.
Como li em artigos científicos internacionais, a situação atual de pandemia pela Covid-19 não é uma guerra, mas tem se mostrado tão sangrenta quanto. No caso do Brasil, então, a situação conseguiu piorar em relação a 2020, com nossos "líderes" insistentemente menosprezando a pandemia, propagando o não uso de máscaras de proteção e não fazendo o mínimo esforço para conseguir as tão esperadas vacinas. Ou fazendo ações de marketing para seus projetos eleitoreiros e populistas.
Além disso, grande parte da população acredita que a vida voltou ao normal, enquanto o número de mortes se mantém em mais de mil por dia no país, chegando a dois mil.
Mesmo nos países em que o governo está agindo para acabar com a pandemia, o futuro ainda causa preocupação, pelas várias mutações do coronavírus.
Por isso, ninguém pode garantir que os Jogos de Tóquio acontecerão sem intercorrências. Mesmo que todos os atletas e equipes se vacinem, ainda haverá o terror de contaminações.
O comitê organizador chegou a divulgar uma cartilha de segurança proibindo cantos durante os eventos e obrigando os participantes a usarem máscaras o tempo todo, menos ao ar livre e para comer e dormir.
Se realmente houver público nas arenas e a ordem de não fazer cantorias for acatada, o clima olímpico se resumirá aos atletas. E pior: as conquistas podem se tornar geladas, sem o calor do público, como bem escreveu o jornalista Claudinei Queiroz.
Para evitar a disseminação ainda maior da pandemia: o ideal seria cancelar o evento deste ano e destinar o bilionário orçamento olímpico para a luta contra a Covid-19. Para o bem da humanidade. Já pensou? O ser humano pensando no ser humano? Já imaginou? Caramba! Seria algo realmente histórico. Uma grande vitória para toda a humanidade! Todos nós vencedores!
Só os cegos de coração e os desalmados para não perceberem a tragédia que nos assola. Mas o que importa no mundo é o dinheiro, a fama, o lucro, o "sucesso" - e não a vida humana. Assim caminha o bípede arrogante e mesquinho. O resto é silêncio, meus irmãos.
*Curiosadade: Os jogos olímpicos têm esse nome porque se referem a uma cidade da Antiga Grécia chamada de Olímpia, na qual eram praticados jogos esportivos nos momentos de trégua entre uma guerra e outra. E nós não estamos em "trégua". Estamos em guerra contra um inimigo comum e invisível. Um vírus que não discrimina, que mata todos nós. Até dono de banco está morrendo. Mas como diise, o dinheiro é mais importante.