Alberto Oliveira

Bolsonaro e Lula podem afundar abraçados nas eleições de 2022

O Brasil precisa mudar (e não se muda carregando os mesmo móveis)

"O brasileiro não sabe votar". O eleitor terá, em 2022, mais uma chance de desmentir a frase dita por Pelé nos longínquos anos 1970. 

A decisão monocrática do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, anulando todas as decisões tomadas pela 13ª Vara Federal de Curitiba (PR) nas ações penais contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, deixou perplexos alguns de seus pares no STF e levantou questionamentos que precisam ser enfrentados pelo Judiciário.

O primeiro deles: então uma pessoa é julgada no foro errado, é condenada, tem sua prisão confirmada em segunda instância, vai para a cadeia por 580 dias, vira ficha-suja e perde os direitos políticos, para só então, passados mais de 4 anos, o Judiciário decidir que o processo nem deveria ter começado, por vícios de origem? 

O que fazia o STF nesse tempo todo em que a injustiça (segundo o que se deduz da decisão monocrática do ministro Fachin) campeava?

Inexiste dúvida: as decisões do Judiciário interferiram fortemente nas eleições brasileiras de 2018 e poderão ser determinantes em 2022.

O presidente Jair Bolsonaro vem se especializando na discutível arte de falar bobagens mesmo quando tem razão. Pisoteia a liturgia do cargo, distribui munição ao inimigo, bombardeia as pontes antes de cruzar os rios e mina o terreno para onde terá que avançar se quiser continuar no cargo. Além de tudo, vê seu governo sabotado por aqueles com quem reparte o rancho (continuemos a usar expressões que tão bem conhece).

São apenas alguns dos muitos motivos que vem dando aos que agora consideram ter sido um erro colocá-lo como comandante. 

Apesar de tudo, parecia avançar sem riscos de monta, dada a pulverização dos que lhe opunham resistência. 

A decisão do ministro Fachin coloca, do outro lado da trincheira, o ex-presidente Lula, que carregou as maiores esperanças já depositadas pelos brasileiros na transformação do país. Mas lançou-as todas na lata de lixo da história.

Lula criou o PT-Partido dos Trabalhadores, transformou-o em uma das maiores representações políticas do Ocidente, mas deixou ir se esgarçando ao ponto de não conseguir eleger um só prefeito nas capitais do país. Lula nunca deixou que se formassem, no partido, quadros capazes de lhe fazer sombra, ou um sucessor ao menos.

O PT tem uma única e exclusiva função: servir a ele. É, como o Rei Momo, primeiro e único candidato do partido. 

Sua exigência em impedir que o PT aposte em novos líderes (e há quadros importantes no partido) pode levá-lo a morrer abraçado com Bolsonaro, ainda na refrega inicial do pleito. E, com ele, Lula, o partido que criou, fez crescer, mas impediu de caminhar com as próprias pernas.