Os gregos e seus deuses e semi-deuses e suas disputas e castigos. Segundo Hesíodo, foi dada a Prometeu e a seu irmão Epimeteu a tarefa de criar os homens e todos os animais. Epimeteu encarregou-se da obra e Prometeu encarregou-se de supervisioná-la. Epimeteu deu a cada animal os dons variados de coragem, força, rapidez, sagacidade; asas a um, garras a outro, uma carapaça protegendo a um terceiro.
Porém, quando chegou a vez do homem, formou-o do barro. Mas como gastou todos os recursos nos outros animais, recorreu a seu irmão Prometeu. Este então roubou o fogo dos deuses e deu-o aos homens. Isto assegurou a superioridade dos homens sobre os outros animais. Mas o fogo era exclusivo dos deuses.
Como castigo a Prometeu, Zeus ordenou a Hefesto que o acorrentasse no cume do monte Cáucaso, onde todos os dias uma águia (ou seria um abutre?) dilacerava seu fígado. Fiz esta introdução para amarrar os cadarços do texto. Teve praça, patins, tombos, sorvetes, aniversário da minha companheira, e o filme Mogli três vezes. Valentina e Isadora fizeram questão da minha presença durante as exibições do filme - na sala de casa -, nas três vezes.
A trama gira em torno do jovem Mogli que foi criado por lobos em plena selva, contando apenas com a companhia do urso Baloo e da pantera negra Bagheera, sem nenhum contato com humanos.
O menino é amado pelos animais, e também por Prometeu, que nos deu o fogo, nossa superioridade sobre os demais animais, e por isso é visto como uma ameaça pelo temido tigre Shere Khan, que está decidido a matá-lo. Com a família de lobos ameaçada, Mogli decide se afastar.
Vamos imaginar Mogli como um exemplo de humano "criado a partir do barro" e dotado da "flor vermelha", o fogo. Tendo o poder de construir ou de destruir. De salvar ou de colocar tudo a perder. Parece familiar?
E minhas filhas perceberam, muito melhor que eu, as relações que são estabelecidas na floresta, os afetos de Mogli para com os animais e vice-versa. A cobra maldosa, a malandragem dos macacos; minhas filhas salvaram o elefante bebê, foram os olhos de Mogli dentro do buraco escuro. E família é quem cuida, né? O amor pode vir de lobos.
A jornada do garoto é bem difícil e cheia de aventuras e minhas garotinhas quiseram fazer parte de tudo aquilo como protagonistas, como verdadeiras heroínas. Não existe um mundo cor-de-rosa. Nunca existiu!
Há horas que eu me pergunto por que tanta maldade e tristeza e vaidade e podridão e pose: debaixo do sol.
São evidentes as angústias, aspirações e temores de Mogli. Mas o garoto vai com o coração, vai com tudo, enfrenta, possui amigos leais. Dava pra ver a emoção nos olhos das pequenas.
Nos momentos mais difíceis, o menino teve a ajuda da pantera negra Bagheera - os olhos do bicho pareciam querer saltar para fora da tela. Olhos grandes como os do meu amigo Arroba. E isso só mostra que não conseguimos viver completamente sozinhos.
Nossos amigos e família são indispensáveis em momentos cruciais da nossa vida. É necessário saber que eles estarão lá por nós. E me lembrei dos meus amigos - leais como cães. Chorei agradecido.
Outro personagem importante na história é o urso Baloo que surge durante o caminho do pequeno herói. Ele representa a alegria. E ensina para Mogli o “necessário, somente o necessário, o extraordinário é demais!” Até me fez lembrar dos versos de Fernando Pessoa: "Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és".
Até quando chega a hora de sair fora, nosso lar sempre estará conosco. Como agora, enquanto escrevo e sinto o perfume da goiabeira do quintal da casa de minha vó que já morreu, morreu há tantos anos, e eu ainda a carrego dentro de mim com tantas outras lembranças que têm carinho e sabor e simplicidade e asas. Asas de crianças. Como as asas de minhas filhas, pousadas sobre o sofá.
Que a gente escolha construir e não destruir. Já existe destruição demais no mundo! A decisão sempre será de cada um de nós. Sempre!