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"Até passar": OAB deste domingo é cercada de expectativas

O LeiaJá ouviu professoras e estudantes que farão a prova para entender o que se espera de um exame cercado de incertezas e medidas de segurança

No próximo domingo (6), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) realizará as provas da segunda fase do XXXI Exame de Ordem Unificado, que estava inicialmente marcado para o dia 31 de maio e precisou ser adiado devido à pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo Coronavírus (SARS-CoV-2). Depois de um impasse para conseguir definir uma nova data, a OAB remarcou o exame em caráter facultativo, dando aos alunos que faltarem a chance de responder às questões em uma data futura, sem prejuízo. 

A aplicação será, ainda, cercada de medidas inéditas de segurança, tanto para os examinandos quanto fiscais, com o objetivo de frear a propagação do vírus. Todos os envolovidos no Exame deverão conhecer e seguir tais medidas. Diante de uma prova tão diferente, as expectativas dos estudantes que decidiram fazer as provas no domingo é grande. 

“Até o portão ainda tenho receio”

Bruna Nunes Santana, de 29 anos, é bacharel em direito e trabalha com o pai em uma imobiliária na cidade de São Paulo. Apesar de temer o novo coronavírus, ela se sente segura com a aplicação do exame. “Alguns amigos meus não vão fazer por medo do vírus, mas eu me sinto segura. O distanciamento da prova é grande até sem a pandemia, a pessoa do lado está longe de mim, tem uma carteira de distância. A máscara talvez vá incomodar um pouco, mas tem como fazer, acho que não vai interferir. Talvez seja cansativo, mas a gente já está tão acostumado com protocolos de álcool em gel e lavar a mão”, contou a examinanda.

 

No entanto, Bruna se sente ansiosa após toda a demora, acha que a prova já deveria ter sido aplicada e está insegura quanto à efetiva realização do exame na data prevista, desde que a cidade retrocedeu no plano de convivência com a Covid-19, embora a realização da prova não esteja vetada. “Até o portão eu ainda tenho receio se a prova vai acontecer ou não. Aqui em São Paulo vejo muita movimentação, vejo que o vírus existe e há questões políticas. Isso dá ansiedade, agonia”, afirmou ela. 

Apesar do receio, Bruna afirma se sentir bem preparada para fazer a prova no próximo domingo, mesmo que ela tenha tido dificuldades ao longo do período de distanciamento social. “Na primeira vez que foi adiada, foi perto da prova, já estava bem preparada. Com o passar do tempo cansou, teve meses que eu não estudei, eu cansei a mente. Depois voltei com carga horária menor, em vez de dez horas eu estudava seis horas, quatro horas... E quando foi chegando novembro eu pedi ao meu pai para me afastar do trabalho para estudar e me sinto preparada”, disse ela. 

Além de confiante, a examinanda se diz tranquila caso não consiga a aprovação, mesmo estando na repescagem. “O exame é importante porque sem a carteira eu não posso exercer a profissão, mas eu tive pessoas que eu amo tanto quase morrendo por esse vírus, aí você vê que é mais importante a vida do que a OAB. Se não passar nesse eu faço de novo, depois eu passo. Se não passar, eu não vou morrer, eu só não vou passar.”

“Acho que essas medidas serão seguidas”

Cláudia Theodoro, 37, se formou em direito 11 anos atrás e, por questões pessoais precisou trabalhar em outras áreas antes de tirar a carteira da Ordem dos Advogados do Brasil. Natural de Brasília, ela se mudou para São Paulo buscando cursos preparatórios para o exame e afirma que, neste momento, está ansiosa pela prova e se sente plenamente preparada. 

“Fiquei muito tempo sem estudar e o que me fez mudar para São Paulo foi isso. Nesse período todo eu tive mentoria, o curso é muito bom, temos uma roda de estudos, aulas mais curtas. Tô [sic] super bem preparada, muito capacitada. Eu tô na repescagem, na outra prova fiquei por poucos pontos e continuei o ritmo de estudos. Em relação ao conhecimento me sinto totalmente capacitada”, disse ela. 

No que diz respeito à pandemia, Cláudia elogiou a decisão da OAB e afirma se sentir segura com as medidas de proteção adotadas para a realização da prova. “Como estou tomando todas as medidas, consigo me sentir segura, onde eu ando, mantenho meu distanciamento. Tem gente que não faz isso. Me sinto segura porque estou fazendo minha parte. Por a OAB ser muito rígida e a FGV criteriosa, acho que essas medidas serão seguidas”, contou ela. 

A examinanda também elogiou a decisão de tornar a prova facultativa permitindo que pessoas que integram os grupos de risco ou têm comorbidades possam fazer depois e proporcionando aos que precisam trabalhar e se sentem seguros, como ela, a chance de obter a carteira funcional. Aos que ainda têm dúvidas se farão a prova ou não, ela recomenda: “Vá se você se sentir seguro. Se vai com medo o tempo inteiro, pensando que vai pegar, não vá. Você pode ter uma reprovação e se decepcionar, ou se tiver na repescagem voltar para a primeira fase. Se está totalmente seguro, vá.”

Orientações

Em momentos de ansiedade quando provas importantes se aproximam, contar com a orientação de professoras e professores que têm experiência com os conteúdos do exame em questão e com a pressão sentida pelos estudantes pode ajudar a manter a tranquilidade necessária para que tudo dê certo. Ao LeiaJá, a professora de direito processual civil Emília Queiroz contou que por se tratar de uma prova de segunda fase e rodeada de incertezas, se sairá melhor o aluno que conseguir gerir sua inteligência emocional. 

“Dentro do ‘novo normal’ ou ‘quase normal’ teremos pela primeira vez a realização de um Exame de Ordem com restrições na aplicação da prova. Tais medidas de segurança têm o potencial de desestabilizar o aluno que não cuidou da gestão das emoções, pois poderá se incomodar pelo uso obrigatório de máscaras, por exemplo. Mas, o aluno que conseguir reverter esse sentimento de insegurança pelo ineditismo da situação, por um entusiasmo de poder fazer uma prova tão esperada que servirá de passaporte para sua entrada no mercado de trabalho, certamente não se afetará negativamente com as peculiaridades logísticas e terá sucesso”, disse a professora. 

A professora considera a prova facultativa uma decisão acertada e aposta no comparecimento dos candidatos aptos à segunda fase que não fazem parte do grupo de risco e desejam poder trabalhar em breve. Enquanto isso, acredita que a parcela dos que correm mais perigo caso sejam infectados, para ela, optará por fazer depois. 

Diante da ansiedade, que é natural nos últimos dias que antecedem a aplicação da prova, a dica da professora Emília é: “marquem corretamente o vade mecum, descarreguem as súmulas, revisem os modelos de peça mestra, chequem as exigências logísticas de participação na prova. No mais, é sentir-se grato pela oportunidade, não esquecer que esse é o último passo que você precisa superar para estar apto a exercer uma profissão maravilhosa e promissora. Gestão das emoções é tudo nessa hora. Vão com tudo rumo ao sucesso”. 

A professora de direito civil Luciana Garret, em entrevista ao LeiaJá, afirmou que espera uma quantidade grande de alunos que vão optar por deixar para fazer a prova posteriormente, uma vez que ela é facultativa. Essa realidade, a docente percebe conversando com seus alunos e ouvindo muitos relatos de desistência da prova no domingo (6). “Eu tenho alunos que estão decididos já há algum tempo e outros estão decidindo nesta semana se fazem ou não fazem em vista disso, mas continuam estudando porque é aquele ponto do ‘até dar certo’, continuar e persistir até passar”, disse a professora. 

Uma dica de Luciana para que os alunos se acostumem às medidas de segurança definidas pela banca examinadora é treinar previamente, em casa, seguindo todos os protocolos, além de levar máscaras extras para garantir sua proteção pessoal durante todo o tempo de prova.

“Senta um dia em casa, faz essa preparação para quando for na prova ter uma noção, o cérebro estar adaptado de certa forma a todos esses procedimentos e isso não atrapalhar. Eu recomendo que leve mais de uma máscara, dentro de um saquinho protegido, depois de um tempo vai precisar trocar, não dá para ficar com uma máscara só”. 

Para ajudar cada aluno a decidir se fará ou não a prova, a professora orienta os estudantes a avaliar diversos pontos, como a preparação para a prova, o sentimento de segurança, a saúde e as emoções, por exemplo. “Vai de cada um ponderar”, disse ela.

Na reta final, ressaltou Luciana, é importante se preparar para o dia da prova pensando em tudo que será necessário. “Acima de tudo, revisar o que der para revisar, cuidar da saúde, se preparar com relação a todos os protocolos que vão ser necessários, dar um olhada em como está o vade mecum para ver se está tudo certinho em conformidade com o edital, não esquecer de levar água, algo para se alimentar e cuidado com o horário”, disse ela.