Hugo Brito

Um passeio por décadas de música


Foto: pixabay/Creative Commons

Mais uma noite em casa em meio à pandemia e, claro, lá vamos nós à música. Eu e meu mais velho. No meio da viagem ele comenta olhando para um clip: “Olha as roupas e o cabelo”, ao que eu respondo...: “Bem anos 80”.

Resolvi então, com a ajuda de um aplicativo de música com suas playlists mágicas, viajar um pouco pelas décadas que já passei, buscando as canções que me lembravam cada período e te convido para essa viagem de hoje.

71

Nasci nesse ano. Mês de maio. Taurino típico. No topo da lista que o aplicativo de música apresentou estava a influência dos Beatles, que encerravam sua história um ano antes de eu chegar A música sugerida foi “Let it Be” presente no filme de mesmo nome que saiu, se não me engano, quando eles não estavam mais juntos..

Logo depois na playlist veio sangue fervendo... The Doors com Roadhouse Blues. Essa década, pelo que sei até porque ao final dela eu tinha apenas 9 anos, foi a que cristalizou a maior parte das grandes e tradicionais bandas de rock do mundo. Muitas nasceram um pouco antes tipo o Black Sabbath e o Led Zeppelin, ambas do final da década de 60.

Na playlist dos anos 70 estavam lá o Sabbath com Fairies Wear Boots e o Zeppelin com a clássica Stairway to Heaven. Muito do que ocorreu na música na década de 70 foi impulsionado por fatos como a tragédia da guerra do Vietnam que se arrastou até 1975 e pelas modificações sociais profundas trazidas pelo movimento hippie que espalharam de forma mais pandêmica (perdão pelo termo mas explica bem) esse novo modo de interagir com o mundo, se divertindo, mas questionando cada vez mais fortemente o que estava estabelecido.

Também não dá para falar dos anos 70 sem mencionar efeitos do tsunami chamado Woodstock – 1969 - com lendas como Janis Joplin e Jimmy Hendrix. No Brasil eram anos difíceis, em plena ditadura militar, e o protesto também estava presente em meio a artistas que lutavam para driblar a repressão, muitas vezes só conseguindo isso com atitude a exemplo de “Mutantes” e “Secos e Molhados” nascidos no mesmo ano que eu.

Por aqui também seguiam os efeitos da Tropicália, nascida aqui na Bahia onde continuavam a se mexer as placas tectônicas musicais (eita que agora fui longe... rsrs) com o terremoto conceitual e comportamental dos Novos Baianos surgidos por volta de 1969 e com a entrada em erupção do vulcão Raul Seixas, o precursor do movimento que chegaria à cena na década seguinte.

80

Lá fora entrava em cena um cenário POP muito forte. Cindy Lauper, Madonna e um novo Michael Jackson. O Break, o hip-hop de grupos como o Run D.M.C e por aí vai. Lá estava eu na adolescência e em meio a um cenário de ditadura acabando e o surgimento do Rock Brasil com Legião, Titãs, Ira, Plebe Rude, Barão, Kid Abelha, Engenheiros do Hawaii e a continuidade de outras como o Paralamas.

Essa marcante década foi, arrisco dizer, uma das mais produtivas de todos os tempos no nosso país. Nela também explodiu o Axé, que os estudiosos definem, de forma semelhante ao Rock Brasil, como um movimento e não apenas um gênero musical. 

O jovem dessa década, hoje como eu na faixa entre 45 e 55 anos, adotou uma atitude questionadora que estava espalhada por todos os estilos. Nessa década surgia também o incrível Racionais MCS. A cena rock de Salvador também explodia com Camisa de Vênus, 14° andar, Úteros em Fúria, entre tantas outras.

Olha, tenho que confessar que foi muito intenso viver os anos 80. Quem estava lá sabe bem disso. Acho até que foi toda essa intensidade que causou efeitos não tão positivos na década que veio logo após.

90

Lá for e aqui começava um processo de enlatamento cultural, pelo menos é minha visão. Bandas com músicas mais fáceis focando na massa, no entretenimento puro, foram surgindo com movimentos brasileiros como o pagode e o funk em expansão alucinante.

Enquanto isso outros movimentos entravam em um furacão e iam sendo destroçados. Vou falar do rock por ser o estilo que mais me conecto e no qual, portanto, vi a transformação mais de perto.

Tivemos novidade? Sim, claro. Cássia Eller, Skank, mas a força e o brilho foram se perdendo. A morte de Raul Seixas em 1989, boca dos anos 90, parecia o prenúncio de uma desidratação do Rock Brasil que permeou a década que, para piorar, levou Cazuza e Renato Russo. Na mesma década uma das colunas do Titãs, Arnaldo Antunes, seguiu solo.

2000 até agora

O cenário musical, assim como os parágrafos dessa nossa conversa, foram reduzindo. A falta do que se falar entusiasticamente creio que reflita um pouco isso. Muito do que aconteceu na música desde 2000 é algo como um carro antigo e arranhado que se manda pintar. Brilha, chama a atenção, te leva de um lugar para o outro, mas é velho, não há como negar.

Tanto lá fora quanto aqui estamos patinando. Lady Gagas, Anitas e por aí vai. Tudo muito parecido, fácil e beirando o descartável. É uma aridez tão grande que os artistas antigos acabam voltando fortes, mas também carros repintados.

No rock então, fora Pitty temos um cenário cada vez mais underground e que brilha pouco. No país uma hegemonia do sertanejo ex-universitário que preocupa e é como se estivéssemos vendo a história do Axé se repetindo, mas com o lugar da Bahia sendo ocupado por Goiás. Daqui para a frente? Pergunta muito difícil.

O que fica é uma forte torcida para que após a pandemia surja algo que faça brilhar os olhos novamente, e que nos force a apurar os ouvidos para identificar.

Hoje tem Live

Aviso pessoal!!!! O canal do Encontro Sonoro no Youtube hoje vai receber Ângela e Duarte Velloso. Ela, a filha, está na Alemanha e os dois se unem fazendo vídeos onde cantam juntos. Vai ser um bate-papo super descontraído. Acesse o canal, inscreva-se e ative o sino para que não esqueça. Siga a gente também no Instagram @encontrosonoro.