Levantamento do Brasil 61 sobre acidentes de trânsito envolvendo motociclistas aponta que, ao menos, oito estados registraram queda no número de ocorrências e vítimas desde o início da pandemia.
Na comparação com o mesmo período do ano passado, Acre, Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins apresentaram melhora nos índices de violência no trânsito quando o assunto é condutores de moto.
Para Arthur Moraes, doutor em Transportes pela Universidade de Brasília (UnB) e professor de mobilidade, a melhoria nos indicadores gerais a nível nacional se deve a menor intensidade do trânsito nos grandes centros devido às medidas de distanciamento social.
“A maioria dos acidentes que causam morte de motociclista é por colisão com outro veículo. Se reduzir a circulação desses automóveis, provavelmente, terá menos batidas e mortes. Tem que se analisar acidente por acidente e ver quais foram as causas para confirmar realmente o que aconteceu”, analisa.
Panorama por Unidade da Federação
Entre os 8 estados, o Pará apresenta a redução mais significativa de acidentes com motocicletas. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Pará (Segup), caiu de 824, em 2019, para 269, neste ano, o número de ocorrências. Queda de 67,3% no indicador.
Na sequência vem mais um estado da Região Norte: Roraima. De acordo com o Detran local, em março de 2019 foram 429 acidentes envolvendo motociclistas.
No mesmo mês deste ano foram 400, o que significa queda de 7%. Já o número de vítimas diminuiu 43%. De 23 para 13 mortes na comparação entre o mesmo mês nos dois anos.
O órgão informou que ainda não concluiu a análise dos dados referentes ao mês de abril.
Em Tocantins, a quantidade de acidentes com motociclistas caiu 34%. Entre março e maio de 2019 foram 954 ocorrências. No mesmo período este ano, a Polícia Militar do estado registrou 629.
Em Rondônia, o Detran também apontou queda. De 963 nos meses de março e abril do ano passado para 641 no mesmo período este ano.
De acordo com a Secretaria de Estado de Segurança Pública do Espírito Santo, caiu 33% o número de motociclistas que morreram nas vias do estado este ano em comparação com o ano passado.
No Acre, na Bahia e em Minas Gerais, as autoridades de trânsito também informaram redução na quantidade de motociclistas que se envolveram em acidentes ou foram vítimas no período da pandemia.
Contramão
O resultado nessas unidades da federação vai na contramão dos índices no estado de São Paulo, por exemplo. Nos dois primeiros meses após medidas mais rígidas para combater a Covid-19, o Infosiga — serviço que disponibiliza as estatísticas de trânsito paulistas — apontou aumento de 6% no número de vítimas na comparação com o mesmo período do ano passado.
Ao todo, 485 motociclistas morreram. Para Moraes, alguns fatores podem ter influenciado a piora dos índices.
“Houve uma redução em São Paulo da circulação de veículos. Isso deveria ser refletido em menos acidentes com motos. Mas São Paulo teve outras variáveis. Nessa época, muitas pessoas que ficaram sem emprego passaram a trabalhar em delivery e existe muita gente não habilitada, que não tinha experiência. Isso pode ser um fator de risco também”, avalia.
Outros dois estados — Rio Grande do Sul e Amazonas — registraram aumento no número de óbitos de motociclistas desde março, quando governadores e prefeitos de todo o país tomaram as primeiras medidas de distanciamento social para tentar conter o avanço do novo coronavírus.
O Rio Grande do Sul contabiliza um aumento de três óbitos em março e abril deste ano na comparação com o mesmo período do ano passado. Ao todo, 66 motociclistas perderam a vida.
Já o Amazonas, que conseguiu diminuir os óbitos de motociclistas de março a abril, segundo o Detran-AM, viu as estatísticas virarem negativamente em maio na comparação com o mesmo mês do ano passado. Nos três meses, a soma aponta 17 vítimas em 2020 contra 16 no período igual em 2019.
Procurados pela reportagem, os demais estados não responderam até a data de publicação desta matéria.