Hugo Brito

Os 80 anos de Ringo e outros bateras geniais

Resolvi homenagear Ringo dando vez aos bateras, como ele


Foto: pxhere/Creative Commons

Pois é, amigos. O grande batera “Ringo Starr” essa semana, mais precisamente em 7 de julho, completou 80 anos, Ringo que pilotou os corações da maior banda de todos os tempos, os Beatles. Digo que pilotou porque é a bateria, instrumento que toco e amo, o coração, o batimento, a pulsação de qualquer banda. É dela que vem o ritmo por onde o manto belo da harmonia de outros instrumentos pinta as canções.

Uma vez dei muita risada, e uso essa piada até hoje, quando vi Jô Soares brincando com o baterista do sexteto, Miltinho, dizendo: “o único que não é músico”. Claro que Jô, amante do Bongô, estava fazendo piada. A bateria vai direto no coração, o ritmo é a base de qualquer música, mesmo que a gente não ouça, a bateria está lá, na cabeça dos músicos. Dá uma olhada para o pé de alguém tocando violão, ou para a mão de um cantor fazendo uma capela e você verá o ritmo pulsando.

Por isso tudo hoje aqui no nosso Encontro Sonoro semanal resolvi homenagear Ringo dando vez aos bateras, como ele. Começo, claro, pelo aniversariante que nos deu prazer de ouvir levadas espetaculares e ao mesmo tempo simples, efetivas e contagiantes. Mas o Ringo que trago aqui nessa homenagem pelos seus 80 anos tem mais facetas.

Conhecido como o Beatle Bonachão, ele cantou músicas como “Yellow Submarine” e “A Little Help From My Friends” e compôs, pelo que se fala, com uma ajuda luxuosa de George Harrison. Essa é uma música que adoro e na qual Ringo também colocou a sua voz. “Octopus’s Garden”.

Para curti-la, convido você que está comigo na viagem de hoje a soltar a imaginação. Clique no play, feche os olhos e ouça os Beatles fazendo essa música. Emoção única...

Se quiser uma ajuda na construção da imagem nesse outro link da página de Facebook do “Beatles Everything” tem um trecho dessa sessão de ensaio que está no filme “Let it Be”.

É emocionante ver como é lindo o nascimento de uma música.

Carter Beauford

Ouvir esse baterista e não se impressionar é impossível. A começar pelo grupo do qual faz parte, o “Dave Matthews Band”. O set de Carter em shows é gigante e deixa qualquer baterista congelado só de olhar. Mas no meio de todos aqueles tambores existe muito sentimento, muitas sensações como as que ele imprime com toda a suavidade na levada envolvente de “Satellite”.

É de arrepiar.

E, sem querer puxar a brasa para a sardinha do batera, basta ver a conexão que ele assume com o vocalista Dave, inclusive fazendo backing vocals, para entender de onde ele estava tirando grande parte da emoção dessa música. No vídeo também está o saudoso saxofonista “Leroi Moore”, o qual não poderia deixar de citar aqui. Mas falar de Carter e não convidar vocês a vê-lo em “Ants Marching” seria um pecado.

Escolhi aqui um vídeo de baterista. Carter no estúdio, e apenas ele, executando a bateria da música acompanhado pela gravação do resto da banda. Nessa execução, uma sutileza.

Ele não deixa sem usar nenhum dos pratos e tambores. Tudo está ali por um motivo específico, pela necessidade de dar aquela nota, no ponto e timbre certos.

Confesso que parei nesse momento, enquanto escrevia, e assisti umas 4 vezes de boca aberta, como sempre, especialmente na parte final da canção.

Que fera, meu Deus!!!!

Nicko Mcbrain

Esse senhor de 68 anos completados em junho é o único dos listados aqui hoje a quem já tive o prazer de ver tocar ao vivo. É óbvio que ele não poderia faltar nessa homenagem a Ringo.

O que Nicko faz no Iron desde 1982 é demais. Além de ser conhecido por tocar descalço e não usar pedal de bumbo duplo, Nicko também é famoso pelo seu carisma e simplicidade.

Os dois momentos que escolhi desse cara do qual sou fã incondicional mostram esse lado dele. No primeiro toca “The Number of The Beast” em um de seus restaurantes, e no segundo participa de uma aula para alunos de uma escola de Rock tocando “The Phanton of the Opera”.

Nesse vídeo é possível ver a postura de quem está ali para ajudar aqueles jovens músicos no seu desenvolvimento. Até quando um dos rapazes, que encara cheio de coragem cantar algo que intérpretes como Paul Di’Ano e Bruce Dickinson já fizeram, come uma parte da letra e faz a banda parar, ele é doce. Curte aí.  

Nicko, sem dúvida, é uma figura!

Saudade

Não poderia fechar essa nossa homenagem a Ringo, feita através de alguns grandes bateristas, sem falar de dois caras espetaculares que nos deixaram. O primeiro Neil Peart, virtuoso nas baquetas e fera nas letras, que morreu em janeiro desse ano.

Mesmo quem não acompanha o rock, mas está entre 40, 50 anos como eu, vai lembrar da abertura do seriado “Profissão Perigo”, na Sessão Aventura, onde Mcgyver colocava nossas aulas de química para se tornarem realidade.

Na abertura rápida, antes da original do seriado americano, está um trecho de Tom Sawyer, do Rush,

Aqui, também em vídeo de baterista, vai Tom Sawyer com Neil arrebentando em um show no Rio de Janeiro. Olha que solo! Li em algum lugar que Neil disse que escreveu esse solo de tal forma que ele fosse sempre difícil de executar. Confesso que nem passa pela minha cabeça tentar (rsrs).  

O segundo batera que já não toca mais pelas bandas pandêmicas de cá, se foi em 2011. É “Joe Morello”, que começou tocando violino e partiu para a bateria ainda jovem. Morello marcou em um dos ritmos mais desafiadores, o Jazz. O auge do sucesso dele foi quando fez parte do quarteto de “Dave Brubeck”.

A capacidade de sustentar o ritmo alucinante das músicas e de sair e voltar do andamento tradicional, tudo isso aliado à forma precisa e suave com que tocava, deixou a sua marca.

Essa apresentação que escolhi para dividir com vocês no fechamento de nosso Encontro Sonoro de hoje foi na Bélgica, em 1964.

Escolhi especificamente essa porque é possível ver o solo dele com baquetas que inverte magicamente. Aqui também, como no caso de Matthews para Beauford, é possível ver a deferência que Brubeck faz a Morello.

Então amigos, fecho por aqui nossa viagem de hoje desejando, mais uma vez, muita felicidade para o agora oitentão Ringo Starr e, deixando para ele e para todos os bateras que lembramos aqui hoje um super obrigado por terem feito, ou estarem fazendo, grandes bandas pulsarem no seu ritmo.

Até a sexta que vem e se cuidem!