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"“Luz e sentido... E palavra... palavra é... “. Meus professores de jornalismo me matariam com esse início de texto com aspas, mas peço que ninguém comente com eles viu? (rsrs)
Essa frase que é um trecho de uma letra do grande poeta da música, Renato Russo, do qual quem me acompanha sabe que sou grande fã. Bem, durante essa pandemia essa frase da música “Eu era um lobisomem Juvenil”, de 1989, me veio à cabeça, junto a outra que também gosto muito, de fora da música e dita pelo grande Martin Luther King: “A escuridão não pode expulsar a escuridão, apenas a luz pode fazer isso. O ódio não pode expulsar o ódio, só o amor pode fazer isso”.
Para ser exato essas duas frases me vieram à mente ouvindo músicas com meu filho mais velho e companheiro de confinamento, João Ignácio. Por quê? Eu explico.
Luz sobre as letras...
A gente começou a viajar em como o significado das letras de músicas impactam cada um de forma diferente e, mais, como em momentos distintos da vida esse significado pode mudar de novo, ou seja, uma letra que sempre te fez bem, que te conectava a algo romântico, de repente pode se transformar em melancolia, em tristeza, ou vice-versa. Uma música de amor pode virar um grito de resistência, ou algo assim.
A própria “Eu era um lobisomem...” que citei acima mudou para mim com a pandemia. Teve suas cores reforçadas. Acho que é tudo fruto da conexão direta da música com nossas almas.
Ouvindo uma outra do REM, lançada em 1987, “It’s the end of the word as we know it” (Esse é o fim do mundo da forma que conhecemos), fiquei impressionado com o mega significado que passou a ter na minha percepção. Passou de uma reflexão sobre finais de ciclo, bem pessoal, para uma representação, na minha ótica, para algo mais macro, o fim da humanidade despretensiosa e egocêntrica, pelo menos para alguns.
Luz sobre quem ouve...
Nando Reis até fala nesse fenômeno em um dos vídeos de seu canal no Youtube. Ele cita uma música de 2007 “Pra você guardei o amor”, e se impressiona com o uso que fazem da obra, em casamentos por exemplo.
Nando conta que escreveu a canção apaixonado, é fato, mas com a profunda tristeza de perceber que era incapaz de se entregar, de amar de verdade. Olha só. Uma música feita com um profundo sentimento de tristeza que vira hino de momentos felizes.
Nando fecha o vídeo, que vale a pena assistir, contando que sua filha Sofia chegou a colocar a música na playlist do parto da neta dele, Gal, um momento portanto inundadlo de felicidade e entrega, bem diferente do que ele pensou quando fez a canção.
Luz sobre a escuridão...
“Tudo passa... Tudo passará....” Olha aí mais um trecho de uma de Renato Russo, “Metal contra as Nuvens”, palavras que nesse momento de sofrimento mundial se investem de uma força sobrenatural. E ele continua... “E nossa história não estará pelo avesso assim, sem final feliz... teremos coisas bonitas pra contar... e até lá, vamos viver... temos muito ainda por fazer...não olhe pra trás... o mundo começa agora...apenas começamos”.
Não é de arrepiar? É nesse ponto que encontro a conexão da frase de Mr. Luther King com tudo que conversamos aqui hoje. Não é a escuridão que ilumina, é a luz, presente na alma de cada um de nós, na música, no teatro, na arte em geral e não é no ódio também, é no amor à vida, ao ser humano, e aqui nesse nosso pequeno quinhão de reflexão semanal, na música que é uma expressão capaz de carregar tudo isso.
Floyd...
Não poderia deixar de falar no absurdo assassinato do americano George Floyd, que nos faz pensar de imediato nas dezenas de pessoas que, como ele, apenas pela cor da pele são discriminadas. Para esse assunto em plena pandemia só me vem à cabeça “Mais do mesmo”, também de Renato Russo. “... Sempre mais do mesmo...”, infelizmente.
E ao ver as manifestações crescentes por lá, e que começam a surgir por aqui, impossível não fazer a conexão com uma outra música que trago aqui para fechar nosso encontro de hoje. “Power to the People” do saudoso John Lennon. E assim termino. Power to the People... In Peace... (Poder para o povo... em Paz).