Opinião

E daí que ... O que se espera de um líder e o milagre do Buda

Quanto maior a responsabilidade da instituição que o porta-voz representa, maiores as consequências do que ele diz

Buda
Foto: pxhere/Creative Commons

Segundo a definição do Dicionário Informal, que aparece como primeiro resultado de uma busca no Google, “E daí?” é uma “expressão popular que significa indiferença, coisa que não tem importância.  É usada como resposta grosseira para determinados comentários”. 

Embora esse seja o sentido usual nas conversas cotidianas, um dos melhores livros que li sobre o texto jornalístico acrescentava essa pergunta como aquela que poderia apresentar um desdobramento às seis perguntas clássicas do lead, que, no jargão jornalístico, é como se chama o primeiro parágrafo de uma notícia.

 “Quem?”, “Como?”, “Onde”, “Quando” e “Por quê?” são capazes de dar conta do conteúdo básico da informação no nível meramente factual, mas são insuficientes para que os leitores/espectadores/interlocutores possam avaliar a importância, as consequências de um fato e como ele afeta a vida das pessoas.

Em qualquer manual de assessoria de imprensa que se preze, há a orientação de que o porta-voz de uma empresa, de uma organização, fala em nome dela, na condição de representante e, ao ser investido dessa função, deve se abster de expressar suas opiniões pessoais como, normalmente, faria em outro contexto.

Polidez e cordialidade não só criam um clima amigável entre o porta-voz e os jornalistas, como também conferem credibilidade à fonte e ao que está sendo dito por ela. E tudo isso gera a confiabilidade na relação estabelecida com os diversos públicos.

Quanto maior a responsabilidade da instituição que o porta-voz representa, maiores as consequências do que ele diz. E daí que uma fala impensada pode ter efeitos desastrosos, principalmente, na área econômica. Bolsa cai, investimentos são retirados, pelo menos, é o que costumo ouvir dos comentaristas especializados sobre as reações habituais do mercado financeiro.

Um líder, seja ele político ou espiritual, é uma referência. E, quando se vê diante uma questão relacionada à vida das pessoas, deve, antes e acima de tudo, ter uma atitude de empatia. Se essa questão envolve a morte, ainda que seja de uma única pessoa, a empatia deve converter-se em profunda compaixão.

No “Livro Tibetano do Viver e do Morrer”, há uma passagem em que é contada a história de Krisha Gotami uma jovem mulher que perdeu o primeiro filho quando ele tinha um ano de idade. O menino ficou doente e morreu. Desesperada, ela saiu andando pelas ruas com o corpo da criança  agarrado ao colo, implorando por um remédio capaz de trazer seu filho de volta. As pessoas a ignoravam, riam dela ou achavam que ela era louca, até que um sábio lhe disse que o Buda era o único que podia realizar o milagre que ela esperava.

Ela foi ao encontro do Buda, que, depois de ouvir com imensa compaixão a história contada por ela, lhe disse que havia apenas um modo de curar sua aflição. Em seguida, pediu que ela fosse até a cidade e trouxesse para ele uma semente de mostarda de uma casa em que nunca tivesse ocorrido um falecimento.

A mulher foi de casa em casa, e em todas elas houve mortes. Ao perceber que não conseguiria o que o Buda tinha lhe demandado, levou o corpo do filho até a sepultura e se despediu dele. 

O Buda lhe perguntou se ela tinha trazido o grão de mostarda, quando ela foi até ele novamente.

Ela lhe disse que não e que tinha começado a compreender a lição que ele estava tentando lhe ensinar, pediu então que ele lhe ensinasse sobre o que é a morte e o que pode haver por trás e além dela.