Comportamento

"A gente não pode se iludir que o mundo está muito melhor, porque não está"

Pai de 3 filhos, o fundador do portal Paizinho Vírgula! Thiago Queiroz conta que já conseguiu salvar um casamento com seu conteúdo e revela que antes de se tornar pai era uma pessoa machista e homofóbica

Foto: Divulgação
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O influenciador conta que muito desta dificuldade dos homens em se abrirem para relações afetivas, podem ser explicadas na forma como o gênero masculino foi socializado

Foi com a chegada de seu primeiro filho, Dante, que o carioca Thiago Queiroz, de 38 anos, teve uma certeza. Ao se ‘consagrar como pai’, queria que "tudo fosse diferente do que tinham feito com ele". Começou a ler e estudar sobre criação com afeto, uma forma mais empática e afetiva de criar filhos com vínculos seguros e foi aí que criou o grupo Criação com Apego no Facebook, hoje com mais de 32 mil pessoas, mas que na época tinham cerca de 50 pessoas. Surgia então um dos caras mais atuantes nas redes sociais quando o assunto é paternidade, o conteúdo gerado foi fazendo tanto sucesso que Thiago criou o portal Paizinho, Vírgula!

"Era um cara completamente diferente do que sou hoje. Tinha pensamentos bastante machistas e homofóbicos inclusive, mas me abri para a sensibilidade. Quando meu filho nasceu eu queria que fosse tudo diferente do que tinha como referência como pai, aquela figura provedora que não se envolvia afetivamente com os filhos. No momento que peguei meu filho no colo pela primeira vez, senti a ficha caindo. Não fazia o menor sentido eu querer seguir os mesmos padrões que tinha na cabeça. Foi aí que mergulhei de cabeça na paternidade e que de quebra mudou tanta coisa na minha vida e na minha mente, o olhar, a desconstrução", conta o influenciador.

Hoje, pai de três filhos, Dante, 7, Gael, 5 e de Maya, 1, seu site se tornou o mais influente portal sobre paternidade do Brasil, reunindo também textos escritos por outros pais colaboradores e colunas escritas por especialistas em diversas áreas do cuidado e desenvolvimento infantil, como pedagogia e psicologia. Na tentativa de cada vez mais alcançar mais pessoas e levar as reflexões sobre criação dos filhos, Thiago em 2018 lançou seu primeiro livro "Abrace Seu Filho", está presente no Instagram com mais de 117 mil seguidores, criou um canal no YouTube onde os mais de 62 mil inscritos podem acompanhar vídeos que tratam de temas como criação com afeto, disciplina positiva e paternidade, além do Podcast Tricô de Pais, que conta com o Thiago e mais dois pais, Thiago Berto e Victor Ourives, que conversam sobre diversos temas de paternidade e masculinidade. O Tricô de Pais surgiu com a insatisfação do criador de conteúdo por ter um público ainda majoritariamente feminino e desejar chegar cada vez mais nos homens para provocar reflexões importantes.

O influenciador conta que muito desta dificuldade dos homens em se abrirem para relações afetivas, podem ser explicadas na forma como o gênero masculino foi socializado: "É o homem que não pode dizer 'eu te amo' para outras pessoas, para outro homem. Não pode demonstrar fragilidade. Não pode dar sinais de afeto para outros homens. Tem que ser forte. Não pode chorar. Chorar é coisa de menina e ser menina é fraco na nossa sociedade. Demonstrar carinho, cuidado e afeto é fraqueza, dentro desse contexto de socialização. Então acho que essa é uma grande dificuldade que os homens têm hoje em dia, que eu tive também durante esse processo. Mas que para muitos de nós a paternidade é uma porta que se apresenta aberta e você escolhe passar por ela ou não, né? Então escolhi entrar, abrir essa porta, passar por ela e explorar toda essa riqueza infinita de nuances e sentimentos que nunca havia explorado antes."

O carioca diz ainda que muitas pessoas se chocam quando ele diz que "tirando os super poderes de amamentar e parir", o homem tem que fazer exatamente a mesma coisa que a mulher na criação dos filhos: "Os homens têm plenas condições e devem fazer as mesmas coisas que as mulheres. Muitos caras se chocam quando falo isso, são caras que estão ali no meio do caminho, ou que não querem saber de assumir um papel mais ativo e presente da sua paternidade."

Mesmo com tantas ações e iniciativas, Thiago conta que ainda é uma pequena parcela de homens que estão mudando e que ainda temos um longo caminho a ser percorrido como sociedade: "Temos olhado para a nossa ‘bolha’, vendo melhoras, e às vezes ficamos até muito esperançosos. Mas se você tirar um pouco a cabeça da ‘bolha’, olhar para fora, você vai ver que ainda tem muita coisa a fazer, ainda tem muito pai que se recusa trocar fralda de filho, ou que se recusa a trocar fralda de cocô, só troca fralda de xixi, que não faz absolutamente nada em casa se a mulher não pede. A gente está ajudando na evolução, isso realmente está acontecendo, mas ainda a passos muito curtos."

Diversidade e Representatividade
 

O influenciador destaca que uma das coisas que gosta de abordar também são experiências de outros pais e outras realidades. Segundo ele existem vários tipos de paternidades, diferentes vivências e isso precisa ser dialogado: "Um episódio do podcast Tricô de Pais muito marcante pra mim foi quando a gente conversou com um pai que é um homem trans, como é a realidade de um pai que é trans. A gente já conversou também com pais negros para entender como é a vivência de um pai que é negro e as preocupações que ele tem com o filho negro, ou quando tem um filho branco, numa família inter racial, como essa dinâmica acontece, também pais que são dragqueens. A gente está sempre buscando uma diversidade nesse diálogo porque acho que isso contribui muito. Você não é só pai e pronto, são vários tipos de paternidades diferentes e isso é muito bonito de se olhar e de se dialogar sobre", reflete.

Para o criador de conteúdo, entre tantos retornos bacanas que seu trabalho nas redes o proporciona está em conseguir de alguma forma tocar as pessoas e fazer a diferença. O escritor lembra uma ocasião que recebeu uma mensagem de uma mãe o agradecendo por seu trabalho: "Ela estava muito feliz e emocionada porque tinha tentado de tudo para o marido dela mudar e meu livro de uma certa forma o ajudou. Ele não fazia nada com o filho, era super distante, não fazia nada em casa, era aquele tradicional. Quando ele acabou de ler o meu livro conversou com ela e pediu desculpas. Não quero dizer ‘oh, sou o salvador de casamentos’, mas acho que meu conteúdo foi um caminho para aquele cara entender o que ele deveria ter feito. Foi uma história bem marcante pra mim", relembra.

Números

Não é à toa que Thiago se tornou um dos maiores comunicadores sobre paternidade. Os números que consegue alcançar são impressionantes. No Instagram já são mais de 117 mil seguidores. No canal do YouTube, onde Thiago trata de temas como criação com apego, disciplina positiva e paternidade, são mais de 62 mil inscritos. No Podcast Tricô de Pais, que Thiago e mais dois pais, Thiago Berto e Victor Ourives conversam sobre diversos temas da paternidade de uma maneira muito divertida e informativa, são mais de 50 mil downloads mensais. Já no site, são cerca de 50 mil pageviews por mês.