O Brasil é, definitivamente, o maior berço de artilheiros do futebol mundial. Em nossos campos de terra batida, nasceram alguns dos maiores talentos que o planeta bola já viu.
A relação próxima entre a Seleção Brasileira e a artilharia vem de longa data e teve seu pioneiro em um grande ídolo da Amarelinha: Leônidas da Silva.
O Diamante Negro, como era conhecido carinhosamente pelos torcedores, foi o primeiro brasileiro a terminar uma Copa do Mundo como artilheiro da competição. O feito foi em 1938, no Mundial da França, em que o Brasil terminou na terceira colocação. Foram sete gols em cinco jogos e a artilharia isolada no torneio.
Leônidas da Silva (1913-2004)
Atacante da Seleção Brasileira
Jogos: 37
Gols: 37
Títulos: Copa Rio Branco (1932) e Copa Roca (1945).
O Homem Borracha e a bicicleta
Muito além do faro apurado para balançar as redes, Leônidas da Silva se destacava em campo pela inventividade. Não à toa, foi apelidado pela imprensa internacional como "homem borracha", após suas apresentações na Copa.
Mas anos antes de defender a Seleção Brasileira no Mundial, o atacante nos brindou com uma dose especial de sua genialidade. Em um desses momentos antológicos de contorcionismo e habilidade, Leônidas inventou a bicicleta.
Foi em um duelo entre Bonsucesso e Carioca, pelo Campeonato Estadual de 1932. De costas para o gol, Leônidas recebeu a bola no ar e não pensou duas vezes antes de, pedalar sobre o ar, emendar um chute e entrar para a história.
Sua trajetória na Seleção Brasileira começou quando o atacante brilhou em uma partida entre os selecionados do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Marcou dois gols na vitória por 3 a 0 dos cariocas, em 1931, e acabou convocado para a disputa da Copa Rio Branco, naquele mesmo ano. Após assistir a derrota do Brasil do banco de reservas, Leônidas foi titular em 1932 e marcou os dois gols do triunfo brasileiro por 2 a 1 sobre o Uruguai. Começava ali a lenda do Diamante Negro na Seleção Brasileira.
"Pelé antes de Pelé"
Extremamente carismático, Leônidas da Silva foi peça-chave na popularização do futebol. No momento em que a modalidade transitava do amadorismo para o profissionalismo no Brasil, o Diamante Negro foi o grande ídolo do futebol brasileiro. Eleito melhor jogador da Copa do Mundo de 1938, o atacante é considerado por muitos como a primeira estrela internacional da nossa Seleção.
Leônidas foi a cara, o corpo e a alma de uma época em que o povo brasileiro começava a abraçar o futebol. Virou celebridade, ídolo e até batizou uma marca de chocolate, famosa até os dias de hoje. No futebol brasileiro, ganhou o carinho dos fãs de diferentes torcidas. Das peladas em São Cristóvão ao Campeonato Carioca, Leônidas brilhou em diversos clubes do estado. Defendeu as camisas de Flamengo, Vasco e Botafogo, no Rio de Janeiro, e ainda marcou época no São Paulo. Foi com o Rubro-negro e com o Tricolor que o artilheiro marcou mais gols em sua carreira: 142 tentos em cada.
Créditos: FIFA
Leônidas da Silva atende fãs após Brasil x Suécia, pela Copa do Mundo de 1938
A cada jogo, um gol
O bom desempenho de Leônidas no futebol brasileiro se traduziu facilmente em idolatria com a Seleção. Vestindo a Amarelinha, foi campeão da Copa Rio Branco (1932) e da Copa Roca (1945). Convocado para a Copa do Mundo de 1934, foi às redes apenas um vez.
Mas a história mudou quatro anos depois. Seu cartão de visitas foi o melhor possível na Copa do Mundo de 38: na estreia, marcou três vezes na vitória por 6 a 5 sobre a Polônia. O destaque ficou para seu último tento, que definiu o resultado. Em meio à disputa da bola, o atacante perdeu uma de suas chuteiras no gramado. Mesmo de pé descalço, empurrou a bola para a rede e garantiu o triunfo do Brasil. Aquela foi, provavelmente, a primeira grande exibição do jogo bonito da Seleção em gramados europeus.
Além da artilharia e da Bola de Ouro na Copa do Mundo da França, em 1938, detém, até hoje, uma das melhores médias de gol da história da Amarelinha: foram 37 tentos em 37 partidas.
Com a Seleção, Leônidas disputou os Mundiais de 1934 e 1938. Ao fim do torneio na França, com oito gols marcados na soma das duas edições, ostentou por 12 anos o posto de maior artilheiro de todas as Copas. Foi igualado justamente no Mundial de 1950, por Ademir, e finalmente superado pelo húngaro Sándor Kocsis, em 1954.
Artilharia, uma tradição brasileira
Com sua exibição de luxo na Copa do Mundo de 1938, Leônidas abriu caminho para uma tradição genuinamente brasileira: marcar gols. O Brasil é o país com o maior número de artilheiros de Copa do Mundo na história. Além do Diamante Negro, Ademir (1950, 8 gols), Garrincha e Vavá (1962, 4 gols) e Ronaldo (2002, 8 gols) terminaram edições do Mundial como os maiores goleadores.
País com maior número de gols marcados em todas as edições da Copa do Mundo, com 229, o Brasil teve o artilheiro em quatro torneios. Nenhum outro país ostenta esse feito. O segundo melhor é a Alemanha, que teve três artilharias (Gerd Muller, Miroslav Klose e Thomas Muller).
Quem foi Leônidas da Silva?
"A multidão não se enganava quando pulava dentro do campo para carregar Leônidas em triunfo. Os braços se estendendo para pegar Leônidas, para tocar em Leônidas Por isso, durante o campeonato do mundo, depois de uma vitória brasileira, o povo inundava as ruas, e só se ouviu Brasil e Leônidas" - Mário Filho
"A bola era a lua cheia de graça de Leônidas" - Armando Nogueira
"Ele era rápido como um galgo, ágil como um gato e não parecia ser feito de carne e osso, mas totalmente de borracha" - Jerry Wienstein
"Leônidas foi o primeiro craque midiático do Brasil, quarenta anos antes de o futebol ser mídia. E, acima de tudo, um craque!" - Paulo Vinícius Coelho