Cidade / Cinema / Comportamento

Cineaut promove Inclusão Cultural e Acessibilidade Autista

A segunda edição evento ocorrerá no próximo sábado (7) na Sala Walter da Silveira, nos Barris, a partir das 14h.

Foto: Pixabay
Cinema
O projeto surgiu através de um trabalho da disciplina ?Eventos?, do curso de Relações Públicas da Uneb

Inclusão e Acessibilidade autista são as propostas de algumas salas de cinema adaptadas espalhadas em alguns locais de nosso país, foi baseado nessa ideia que um grupo de estudantes de Relações Públicas da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) criou o Cineaut, cinema inclusivo gratuito para crianças com TEA (Transtorno do Espectro Autista).

A segunda edição evento ocorrerá no próximo sábado (7) na Sala Walter da Silveira, nos Barris, a partir das 14h. As inscrições podem ser feitas pela plataforma Sympla (https://bit.ly/389HLzj).

O projeto surgiu através de um trabalho da disciplina “Eventos”, do curso de Relações Públicas da instituição, na qual a equipe tinha que realizar um evento totalmente produzido por eles.  

A primeira edição do Cineaut ocorreu em 2018 e a segunda está sendo organizada na disciplina “Produção Cultural”. Para entendermos mais sobre esse a repórter Benedita Almeida com Emanuelle Arraz, uma das idealizadoras do Cineaut. Confira:

Benedita Almeida: Como surgiu a ideia de fazer um cinema inclusivo para crianças autistas?

Emanuelle Arraz: Começamos a pensar em temas, a definir conceitos e chegamos a conclusão que queríamos fazer um projeto de cunho social, que tivesse a premissa de conscientizar, de informar e principalmente incluir, como tanto eu, como outro integrante do grupo tem familiares que estão dentro do espectro autista e a equipe já tinha feito um trabalho anteriormente com o tema autismo, pensamos em fazer um evento voltado para esse público. Inicialmente, pensamos em algo que informasse, que comunicasse, quebrasse os paradigmas, os estereótipos do autismo, a questão de que todos os autistas são iguais, de que todo autista não gosta de socializar ou que todo autista não gosta de falar, ou que são extremamente inteligentes.

Embora quiséssemos quebrar esses tabus, falar sobre a neurodiversidade, ainda assim a gente não estaria incluindo. Então, surgiram os questionamentos: ‘Quais são os déficits? Quais são as deficiências de questões culturais?’Pensamos em um cinema que é algo que não é adaptado para todos, não tem adaptação para o público autista, por exemplo, então a gente pensou em fazer uma sessão de cinema que fosse adaptada para pessoas com TEA. A proposta do Cineaut é não só falar sobre autismo, mas incluir, falar sobre autismo já dentro do processo.

Leia Mais. Ba: A equipe teve o apoio de algum profissional na segunda edição do Cineaut?

E.A: Quando começamos a idealizar o Cineaut, sabia que tínhamos um desafio pela frente, porque existem várias questões de adaptação para o público TEA e a gente não tinha conhecimento totalitário dessas adaptações. Logo, procuramos a psicóloga Karla Sousa, que nos ajudou justamente nessa ideia de adaptação o que poderíamos fazer, o que não deveríamos fazer, para entender esse processo  e não cometer coisas erradas que comprometam o bem-estar das crianças  naquele local, justamente por saber adaptar e incluir da forma certa.

Leia Mais.Ba : Uma das prováveis reações de uma pessoa com autismo é o estresse a um ambiente estranho. Quais as medidas para tornar as salas de cinema mais adequadas a pessoas com autismo?

E.A: Quando se fala em autismo, temos que considerar a neurodiversidade. Então, às vezes a criança pode se estressar com alguém que chega perto dela e outra criança pode querer abraçar essa pessoa. Portanto, como neurodiversidade é muito ampla e é justamente o processo de inclusão, a primeira coisa foi tentar entender o que é essa neurodiversidade.

É fato que várias reações poderiam ter ocorrido naquele ambiente, tomamos alguns cuidados básicos, buscando filmes curtos por questões de concentração, com um som não muito alto, com iluminação adequada. Afinal, quando se chega a um local estranho, ele deve ser o mais acolhedor possível.

Quando chegavam lá, havia pipoca, objetos sensoriais, massinhas de modelar, papel para desenhos.  Em seguida, espalhamos esses materiais para que em algum momento daquele universo essas crianças pudessem interagir com eles e esquecer qualquer interferência do ambiente. Essa também a nossa tática para deixar os pais confortáveis, uma vez que, às vezes, ficam muito tensos quando veem o filho dentro de um ambiente  que não é o dele.

LeiaMais.Ba: Quais as adversidades enfrentadas na elaboração desse tipo de evento?  

Na primeira edição, nossa dificuldade foi justamente o processo de entender o que é essa neurodiversidade em relação ao TEA e na segunda edição a gente já conseguiu entender  as particularidades  do que estudamos, procuramos os profissionais, as maiores dificuldades nesta segunda edição é referente ao apoio, encontrar patrocínio, as questões logísticas, essas coisas de evento mesmo.

LeiaMais.Ba: Como avalia a acessibilidade de pessoas com TEA no Estado.

E.A: Na minha opinião, não há algum que aconteça de forma corriqueira, pois os eventos com um aspecto psicopedagógico são palestras, são rodas de conversa, são oficinas apesar de ter havido uma sessão adaptada na Ufba (Sessão Azul) com a exibição do filme Dory. A questão da acessibilidade precisa ser revista em todos os aspectos desde preço a localização das salas de cinema. Esses cinemas geralmente estão em shoppings, ambientes completamente estressantes para as pessoas com autismo. Quando a cultura é mencionada, a inclusão de todos os públicos deve ser pensada. Com essa escassez de eventos, o Cineaut tomou uma proporção muito maior uma demanda universitária, tornou-se um projeto de inclusão. A ideia é que esse projeto seja realizado a cada três meses.

LeiaMais.Ba: O que o Cineaut e pessoas com TEA ensinaram a vocês?

E.A: O processo de inclusão, eles fizeram com que a gente entendesse a neurodiversidade, fizeram com que a gente tirasse muitos tabus referentes ao autismo, aquela ideia que pessoas autistas são completamente inteligentes, de que pessoas autistas não gostam de abraçar, de que pessoas autistas não gostam de olhar, acho que um dos maiores processos que foi abraçar esse tema e que foi fazer o Cineaut é entender que dentro do espectro existem vários pontos, então ensinaram muito a gente e ensinaram que elas devem fazer parte do processo de inclusão.

“O Transtorno do Espectro Autista (TEA) ele é caracterizado, não basicamente, mas tem uma questão muito interessante que é a dificuldade na comunicação e na linguagem que gera prejuízos na interação social, eu fico pensativa justamente em relação a esse ponto, então eu acho que um cinema, sala de cinemas com sessões adaptadas para atender a demanda dessas crianças é extremamente positivo nesse aspecto, eu acho que é uma oportunidade das crianças interagirem, vivenciarem novos espaços, o mundo ideal seria que as pessoas pudessem lidar com essas crianças dentro dos espaços comuns, dentro de um cinema que as pessoas pudessem ter empatia, como isso ainda está na idealização, no desejo de que isso acontecesse, por isso é importante que esses espaços aconteça, mas eu acho que tem sido mais divulgado e medidas assertivas sendo tomadas, como a lei Romeo Mion.” __Dra. Jamile Carreiro Pessôa, Psicóloga.