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Como a Beija-Flor se preparou para o desfile de 2020 na Sapucaí

O que vamos contar aqui é um pouco dos bastidores da Beija-Flor

Foto: Kithi
Ala das Baianas

Hoje é o dia em que sai o resultado da escola de samba que vai ser a vencedora da primeira divisão do Rio de Janeiro, ou seja, a melhor entre as melhores.

Por trás da beleza impecável, dentro dos critérios estabelecidos a serem julgados, existem os requisitos dos bastidores.

Uma escola de samba nota 10 é uma composição de muitos fatores: samba-enredo, criatividade, organização, disciplina, patrocínio, mas principalmente o entrosamento entre dirigentes e participantes e o empenho da comunidade.

Um bom samba-enredo alia a história a ser contada, a facilidade do refrão e o ritmo que deve colaborar para a evolução da escola durante o desfile, como explica Mazzim Mazamba, um dos compositores do samba vencedor de 1978, o primeiro título de campeã da Beija-Flor no Grupo Especial.

O patrocínio sustenta a riqueza das fantasias, carros alegóricos e toda infraestrutura para fazer o movimento acontecer.

O setor de criatividade, traz a harmonia entre o samba-enredo e a imagem - fantasias, carros alegóricos, coreografias... o conjunto – e tem por obrigação sempre entregar ao público uma novidade, que a depender do que seja oferecido, vai ao delírio.

Os dirigentes organizam desde a logística até os detalhes como alimentação, manutenção de instrumentos, fantasias... além da voz da liderança, um estímulo que impulsiona e mantém a força e a coragem em alta vibração para que todos acreditem no sonho.

O “chão” como diz aqui no Rio de Janeiro é quem sustenta o esplendor do desfile. A alma de todos os movimentos. É a comunidade que trabalha o ano inteiro em prol de uma hora no sambódromo e muitas horas de festa se a vitória for alcançada.

O que vamos contar aqui é um pouco dos bastidores da Beija-Flor no dia do desfile, antes de entrar na avenida.

Tudo começa no último ensaio quando o locutor determina os locais e horários de saída da condução.

São disponibilizados ônibus saindo da quadra da escola para a bateria, as baianas, as passistas, as crianças, a harmonia, os compositores e a velha guarda; para a ala da comunidade os ônibus saem da rua Alberto Teixeira da Cunha; e ainda são disponibilizados três vagões de trem para a Central do Brasil, trinta minutos mais tarde, para quem quiser optar por esse transporte.

Duas horas antes do horário marcado, 22h, o movimento começa a acontecer na quadra da Beija-Flor.

As pessoas chegam de carro, a pé ou de moto carregando suas fantasias em sacos enormes. Todo esforço é nada diante do objetivo: defender a escola do coração, que para o povo de Nilópolis, é o mesmo que defender a própria existência.

A Beija-Flor foi a primeira escola da Baixada Fluminense a conquistar o primeiro lugar entre as maiores escolas de samba do Rio de Janeiro, e mais do que isto, ela se mantém no grupo das campeãs desde a década de 70.

A Baixada Fluminense é uma área onde vivem as pessoas com menor poder aquisitivo, logo um desfio fazer parte do grupo nobre das escolas de samba.

As pessoas se organizam na quadra, espontaneamente, em grupos correspondentes a cada ala. Cada ala tem seu ônibus específico que sai em comboio.

As crianças correm a brincar e entusiasmadas cantam o samba-enredo que sabem do início ao fim. 

A Beija-Flor mantém o programa social Instituto Beija-Flor que atende mais de 200 crianças, durante todo o ano, com cursos de passista, mestre-sala, porta-bandeira, bateria e outras atividades que colaboram para desempenho físico e cultural dos integrantes como a natação.

As passistas se arrumam e emocionadas falam da dor sentida no ano passado e na certeza da vitória desse ano.

Alguns membros da bateria aguardam na sala específica do grupo a hora de sair enquanto outros já seguiram para o centro.

Os diretores da ala das passistas preparam o lanche das crianças para distribuir na avenida.

A velha guarda espera sentada e com algumas regalias que confere status a quem está, muitos deles, desde o início da escola, quando o chão ainda era de barro.

É servida a famosa sopa de ervilha feita pela presidente da ala Débora Rosa.

Debora traz o grupo na mais fina formosura. Ela cuida de todos os detalhes, desde a escolha da roupa até a oração antes de embarcar para a grande noite. Como ajudante, além dos componentes da própria ala, ela conta com a colaboração de Luciana Bandeira, que apesar de jovem nutre um especial amor por esse grupo que tem D. Marta, 92 anos, como a mais antiga componente.

Seguindo com a velha guarda fomos os últimos a chegar. No itinerário alguns cochilam, outros se arrumam, outros comem, outros conversam... O cuidado uns com os outros e comigo é muito próximo do que temos na Bahia com os mais velhos de comunidades tradicionais. Se preocupam com tudo, próprio daqueles que tem muito amor no coração.

Na concentração uma tensão pré-estreia toma conta de todos. Tudo tem que estar no seu devido lugar sem atraso.

A professora das crianças corre de um lado para o outro, há aqueles que se arrumam naquele momento, outros não encontram sua ala e os seguranças da escola tem o trabalho extra de barrar a participação daqueles que chegam bêbados. Se beber não compareça ao desfile. Essa regra é importantíssima por dois motivos: segurança, pode cair de um carro por exemplo, e manutenção da evolução da escola.

Portão fechados para quem não está fantasiado corri para filmar e fotografar o desfile, veja alguns lances abaixo.