Hugo Brito

Quando a música nem precisa de letra para falar com você (muito)

A música pode falar sem palavras


Foto: pxhere/Creative Commons

Vivemos em um mundo inundado de ideias, discussões, posicionamentos e textões, confesso, até meio chato às vezes. Na música não poderia ser diferente. Uma grande carga de informação e significado tomou conta de tudo. Mas, sabe de uma vantagem dela em relação às redes sociais, livros, revistas, etc? A música pode falar sem palavras.

Música sem palavras... Só música...

Numa dessas minhas viagens em aplicativos de música me deparei com um som espetacular da banda El Ten Eleven. Mais precisamente fui alvejado pela canção “Sorry About Your Irony”. Estava em um momento meio reflexivo, dirigindo e.… Viajei.

Lá estava eu pensando e ouvindo música, surfando nos meus pensamentos em vez de processando uma letra.

Vejam, não estou dizendo que é negativo ouvir músicas com letras, eu mesmo componho algumas com meus amigos de banda e, claro, músicas com letra são muito necessárias. Mas só música... Olha... É algo que tem seu valor.

Jazz

Além de tudo que fizeram os compositores clássicos, na música moderna e tembém na contemporânea, existe muita produção instrumental que vale a pena conferir. Vou passar hoje na nossa conversa por alguns exemplos, convidando você que está participando do nosso Encontro Sonoro de hoje possa viajar comigo.

Vou começar por uma música que me emociona e entra nesse hall. É “Take Five”, lançada no final da década de 50 pelo The Dave Brubeck Quartet. Não, amigos, eu ainda não tinha nascido, mas música boa não tem idade, concordam?

Rapaz, sabe do que lembrei? De uma das execuções que mais me impactaram que já tive oportunidade de ver dessa música, além da original que tem na internet, foi na série Plantão Médico. Nela, o Dr. Doug Ross (George Clooney) dirige para sua cidade natal após a morte do pai. A cena não tem falas mas transborda de emoção.

Não a achei na internet mas, se você procurar em algum serviço de streaming deve achar a série. Vale a pena ir atrás desse episódio da morte do pai de Doug.

No vídeo
Dave Brubeck Quartet - "Take Five"

Por aqui, também

Uma banda instrumental brasileira que adoro é a “Macaco Bong”. O guitarra solo de nossa banda, Rick Antunes, foi quem a apresentou para a gente em um ensaio. Usamos inclusive o trecho inicial de uma música deles , “Fuck You Lady” como abertura de show. Eu ainda era o baterista e foi um senhor desafio, confesso.

No vídeo
Macaco Bong - "Fuck You Lady"

Voltando mais um pouco no tempo assisti uma vez o show inesquecível da Retrofoguetes. Fiquei parado na baianidade colocada no instrumental.

Era o Festival de Verão de 2009 .

No video
Retrofoguetes no Festival de Verão 2009

Minha banda predileta, o Legião, também passeou pela música pura, por várias vezes. No álbum Dois, escondidinha lá no final, tem tempo perdido em um instrumental super-harmônico.

Ouça
Legião Urbana - Tempo Perdido (Parte Acústica)

Teve ainda, puxando pela memória, a música “A ordem dos Templários”, aliás de um disco épico que uma hora dessas trago aqui pra gente conversar a respeito . Voltando ao instrumental do Legião tem também uma lançada postumamente no disco Uma Outra Estação, a belíssima “Sagrado Coração”.

Ouça
Legião Urbana - Sagrado coração

Para fechar essa viagem por alguns dos exemplos dessa música pela música, tenho que citar o Grupo Jacarandá, do qual faz parte o amigo Duarte Veloso com o qual, me orgulho, tive o prazer de compor uma música... Com letra, galera, com letra (rsrs), e cheio de inveja das pessoas que, como Duarte e os meus companheiros de banda, dominam essa língua das notas musicais.

Ouça
Grupo Jacarandá - "Arapuca"

Como falei, sou da percussão, da batida do coração, e me aventuro agora pelo canto, mas a harmonia, que faz viajar a alma, é um espetáculo seja pura ou musicando uma letra. Por isso, repito, não é que a música com letra seja ruim. Seria uma loucura dizer isso, ainda mais eu que já tenho algumas composições e que me emociono quando vejo elas ganharem vida, quando vejo que aquele pensamento meu pode ser levado pelos ares, nas notas de uma canção.

O que trouxe para esse nosso encontro de hoje foi, mais uma vez, a certeza de que música é música, com ou sem letra. E viva ela!