Foto: pxhere/Creative Commons
No passado a única maneira que os artistas tinham para divulgar suas músicas era pelo rádio e esse veículo ditava as regras de como elas deveriam ser ouvidas. Na realidade, a ditadura do rádio ia muito além, pois determinava como as músicas deveriam ser feitas, aprisionando os criadores dentro de padrões.
No recente filme com a biografia de Fred Mercury há até uma passagem que toca no assunto, quando a banda decide colocar “Bohemian Rapsody” como o carro chefe de um de seus álbuns e o empresário, fictício, atira: “...duração grande e com passagens em forma de ópera? Nenhuma rádio vai tocar! Está fora do padrão de 3 minutos...”
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Ray Foster critica Bohemian Rhapsody
O que aconteceu, felizmente, não foi isso, pois a música estourou.
Fenômeno igual está presente na inesquecível “Faroeste Caboclo”, do gênio “Renato Russo”. Essa, tão poderosa, que até virou filme.
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Trailer de "Faroeste Caboclo"
O fato se repete em outra canção dele, “Eduardo e Mônica”, que vai para as telas dos cinemas esse ano.
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Trailer de "Eduardo e Mônica"
Derrubando represas...
Músicas como as que citei acima, grandes e sem o velho refrão “chiclete” repetido, trazendo em vez da fórmula de sucesso pré-fabricada uma construção mais complexa, com narrativas contínuas, quebraram – tanto lá, como cá – a lógica tradicional.
Aliás, em termos de quebra dessa lógica da indústria da música não tem como evitar a lembrança da coragem de certos artistas, como por exemplo uma de minhas bandas favoritas, o Pink Floyd, com obras como o disco “The wall”, onde até as sobras geraram outra pérola, que aliás até gosto mais, o disco “The Final Cut”.
Esses discos foram além das músicas que comentei pois são como livros, feitos para serem ouvidos inteiros e na sequência.
Histórias musicais
Quem conhece os discos sabe que em “The Wall” e “The Final Cut” a banda inglesa aborda os desdobramentos da guerra com os impactos na vida, especialmente de quem perde pessoas amadas nos conflitos.
O mote das obras vem da vida de Roger Waters, líder da banda à época, e que perdeu o pai, um Fuzileiro inglês morto na segunda guerra mundial quando o futuro cantor ainda tinha 1 ano de idade.
Se você nunca ouviu esses discos assim, sem parar do início ao fim, ouça. Se não fala inglês ouça com a letra e a tradução do lado. A experiência é impressionante.
E se quiser fechar com chave de ouro “The Wall” ainda pode ser curtido em filme, outra viagem imperdível para quem gosta ou não de rock.
Welcome to the machine
Para fechar não podia deixar de fazer parênteses e falar um pouco mais sobre Waters. Humberto Gessinger, do Engenheiros do Hawaii, na música “Tribos e Tribunais” grita: “Pink Floyd sem Roger Waters... Formas sem função...”.
Confesso que nunca tinha visto o Pink e nenhum de seus ex-integrantes ao vivo até a última turnê de Roger Waters, que milagrosamente passou por Salvador, e lá pude ver que Gessinger exagerou, mas não mentiu. Explico: a forma de criar do artista inglês estava evidente no show que foi feito para ser curtido na íntegra, em sequência, como uma obra una.
Na entrada, uma imagem de praia com o som do vento e do mar no imenso telão e, sem perceber, a maré ia subindo e a câmera se aproximando de pessoas na praia, uma sensação cronometrada e conectada com a história que ele ia contar ali, simplesmente genial.
Confesso que boiei em várias músicas por não ter acompanhado a carreira solo dele pelo fato de ter escolhido, como aqueles amigos de um casamento que acaba e optam com que lado do casal ficam, seguir o Pink em vez de Waters. Notem: não é arrependimento, pois David Gilmour tocou o Pink Floyd muito bem, mas ali no show bateu a necessidade de repor o tempo perdido, coisa que estou resolvendo com a ajuda do Spotify (rsrs).
Parênteses feito,s concluo a nossa conversa de hoje com a constatação de que Pink, Queen, Legião, e tantos outros que não se dobraram e não se dobram ao formato engessado, às modas, à musica vazia de fórmulas pré-estabelecidas provam que o título lá do topo é verdade.
A música pode até parecer que foi vencida, enclausurada, mas ela sempre encontra um caminho e segue. É bem como na música do “The Kinks”: estrelas se apagam, cantores vem e vão mas ninguém pode fazer a música parar.
Encontros Sonoros por aí...
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