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Você já ouviu falar em ortotanásia?

A prática limita intervenção médica em busca de morte natural e digna

Foto: Pexels/Creative Commons
O ser humano evita a todo custo pensar sobre a finitude da vida
O ser humano evita a todo custo pensar sobre a finitude da vida

Falar sobre a morte é algo considerado tabu em muitas culturas. O ser humano evita pensar sobre a finitude da vida. O assunto vem ganhando notoriedade com a novela Bom Sucesso, da Rede Globo de Televisão, através da história do personagem Alberto,  interpretado por Antônio Fagundes, que tem uma doença terminal. Os últimos capítulos têm levantado um novo viés sobre o tema: a ortotanásia.

Sem querer prolongar seus últimos dias com sofrimento, Alberto cogitou fazer a eutanásia (ato de acelerar a morte de um paciente com alguma doença incurável para evitar prolongar seu sofrimento) , mas como o procedimento é proibido no Brasil, seu advogado, o personagem Machado, vivido pelo ator Eduardo Galvão, apresentou a possibilidade de ele fazer uma declaração de ortotanásia.

Adotando este procedimento Alberto deixaria clara sua decisão de não ser submetido à procedimentos invasivos para adiar sua morte, mesmo comprometendo sua qualidade de vida. Essa iniciativa é prevista pelo Conselho Federal de Medicina, que nomeou essa prática como "Diretivas Antecipadas de Vontade" (Resolução  CFM Nº 1.805/2006). 

A novela fala em uma morte mais humana, citando o livro "A Morte é um Dia que Vale a Pena Viver", de Ana Claudia Arantes. Na novela, Alberto lê o seguinte trecho da obra: "Embora os avanços científicos na medicina tenham sequestrado a morte para dentro do hospital, quase como um evento proibido, ela tem que ser devolvida para a humanidade. Temos direito a uma morte digna, tanto como temos direito a uma vida digna".

O tema dos Cuidados Paliativos tem sido discutido com frequência na comunidade médica brasileira. “Cuidados Paliativos é uma abordagem que promove a qualidade de vida de pacientes que enfrentam doenças que ameaçam a continuidade da vida, através da prevenção e alívio do sofrimento”,afirma Patrícia Fontes Bagano, médica paliativista da S.O.S. Vida.

Para a especialista, é preciso reconhecer os limites terapêuticos dos tratamentos modificadores do curso da doença e humanizar o processo do “morrer”.

“Devemos sempre respeitar a singularidade de cada paciente e suas famílias.  Esse é papel da medicina paliativa no atual cenário de desenvolvimento tecnológico da nossa sociedade.  Temos hoje uma discussão a nível mundial”, enfatiza a médica.

Para evitar esse sofrimento, a Organização Mundial de Saúde (OMS) defende a promoção de cuidados paliativos, que são intervenções médicas realizadas com o intuito de controlar a dor e outros sintomas com o objetivo de melhorar a qualidade de vida do paciente dentro das limitações impostas pela doença. Desta forma, o foco passa a ser no paciente e seu bem-estar, e não, na doença.

Apoio psicológico - Para isso, o tratamento é multidisciplinar, prevendo não apenas intervenções físicas, como psicológicas, sociais e espirituais. A psicóloga Cláudia Cruz explica que é importante que a pessoa com uma doença terminal e sua família tenham um momento de escuta e acolhimento, auxiliando no processo de avaliação da sua vivência.

"O suporte psicológico ajuda a lidar com o sofrimento, para entender que a morte é um processo natural da vida. Mas que é possível ressignificar esse momento, focando na vida e pensando o que eu gostaria de fazer nesse tempo", diz.

Desta forma, os pacientes têm a oportunidade de resolver pendências e avaliar como querem passar os últimos dias de sua vida. Também há espaço para o luto antecipatório da família, que vivencia perdas diárias e necessita de suporte para lidar com esse momento.