É impressionante o poder de conexão da música e dos encontros sonoros que ela nos proporciona, sejam eles entre artistas ou deles com o público.
A música também nos coloca, de forma instantânea, em um túnel do tempo, em uma conexão com momentos vividos.
Moraes Moreira
No último fim de semana lá estávamos eu e minha noiva no show de Luis Caldas em comemoração aos 50 anos de carreira dele. Quem abriu a noite foi Moraes Moreira. Em cada música uma viagem, um encontro com um momento. Quando ele tocou Chão da Praça (uô uô uuôô), por exemplo, me levou na hora a velhos carnavais, especialmente a uma cena que não era em plena festa, mas tinha a ver com ela.
Devia ser final da década de 70 e eu, menino, caminhava com minha mãe pela Avenida 7 ou pela Carlos Gomes - não recordo claramente, e passou por nós o Trio Saborosa, que tinha esse nome por ser feito na forma de uma garrafa de uma marca de cachaça. Nele, o som que ficou marcado na alma, da banda de percussão e sopro, pois era assim na época. em outro momento cantou Moraes: “Escuta essa canção que é pra tocar no rádio do seu coração...” Lá veio a memória de uma novela.
Depois ele atacou de Novos Baianos “quando eu cheguei por aqui, tudo tava pirado, agora viro os olhinhos...”. Ai me veio instantaneamente Baby, na época ainda Consuelo, no trio em plena Castro Alves, já década de 90, Quarta de Cinzas, depois de ter trabalhado todo o carnaval e após o famoso encontro de trios com Moraes em um caminhão, Caetano em outro, e o último que ficou, já dia claro e com os carros começando a passar, olha que loucura inimaginável hoje.
O Trio então arrasta os últimos foliões da Castro Alves subindo a carlos Gomes, enquanto eu e meus colegas recolhíamos os cabos usados na transmissão de TV, onde eu já trabalhava. Moraes, valeu a viagem!
AJaiô, Ajaiô... Axé Babbá, Axé Babba
Quando o homenageado da noite entrou, o túnel do tempo foi impressionante. “Tieta, Tieta...” novelão de Agnaldo Silva adaptada da obra do espetacular Jorge Amado. E quando veio a lembrança desse grande baiano lá foi a cabeça viajando nos acordes ocados por Luís e sua banda.
Veio o flash do tempo em que fui vizinho do escritor, já na adolescência, na rua Alagoinhas. Uma imagem rápida me levou, bem nos metais da música, ao prazer que tive, de ver sair de casa o grande Jorge com dona Zélia, de quem ganhei um aceno um dia quando entravam em um Alfa Romeo branco, levando um cachorrinho que está retratado com eles nas estátuas de bronze ali no Rio vermelho.
De volta do túnel do tempo Luís me faz viajar e novo mandando “Nega do Cabelo Duro”. Aí em uma fração de segundos olha e volta à saudosa TV Itapoan, onde comecei minha carreira como técnico. Era a gravação do programa Show da Tarde.
De repente um flash, já era o Campo Grande na transmissão de carnaval com o povo atrás do Trio dançando o fricote.
Mas não é uma coluna de rock?
Bem, o Encontro Sonoro, essa humilde coluna semanal, fala de rock mas fala de música, de emoção. Tenho certeza que vários dos roqueiros que viveram em Salvador nas épocas que falei acima viajaram comigo e lembraram também de momentos marcados pelos sucessos de Morais e Luis. E essa viagem de agora é especialmente para eles.
Foi já lá pelo final do show quando o grande instrumentista Luís Caldas atacou de Dire Straits com Sultans of Swing e seu estonteante solo. Aí fui parar em um momento que me orgulho de ter vivido, ao lado dele.
Era 1990 ou 1991, não estou bem certo, e Moraes Moreira apresentava um programa chamado Interior. O cenário lembrava uma vila. O convidado da semana era Luís Caldas. No programa se tinha um cuidado especial na gravação do áudio, o que demandava uma minuciosa passagem de som.
A sala de controle era no alto, e lá ficava a mesa de áudio. No final de todos os ajustes aparece no primeiro andar Luís Caldas. Tocou essa música, ali, completa, para um seleto grupo. Eu e o operador de áudio, acho que era Luciano, quem não vejo há mais de 20 anos. Pense aí numa honra! Eu super apaixonado por música, com 19, 20 anos, ali vendo esse gênio da música tocando para um programa com Moraes Moreira.
Em um segundo estava de volta ao show de domingo e, rapaz, pense no orgulho de poder lembrar disso ali, anonimamente, na multidão viajando pelo poder monumental que a música tem de fazer a alma viajar. Viva Moraes, Viva Luís, Viva a Bahia e viva a música brasileira!
Encontros sonoros por aí
# Magia, o show dos 50 anos de carreira de Luís Caldas, acontece novamente na Chácara Baluarte, Santo Antônio Além do Carmo, no dia 19 e janeiro, data em que ele completa 57 anos. A viagem vale a pena.
# Dia 14 de dezembro a banda Limusine se apresenta na Varanda do Sesi, Rio Vermelho, a partir das 22 h. É um show divertidíssimo com músicas das décadas de 60 e 70 misturadas com interpretações impagáveis dos cantores/atores.
# Dia 13 de dezembro, prepare-se! Tem Children of The Beast , banda cover oficial do Iron Maiden, no Groove Bar. Showzaço !!!Já vi uma vez e vou de novo !
# Nesse fim de semana tem Malcriadomudo – 6 de dezembro, 19 h, no Bardos Bardos. Muitos sucessos internacionais dos anos 90 e 2000.