Helô Sampaio

Coma a rabada de Lili (eu ensino) pensando em como a vida é boa

É boa... mas curta

Eu ainda me surpreendo e espanto com as coisas da vida, mesmo depois de tanto ter vivido. Já subi o primeiro degrau da sétima década! Até eu me espanto. É mole, velho? Muito tempo de janela. Mas vou confessar aqui baixinho: viver é muito bom. Mesmo com as muitas dificuldades (ou por causa delas, que nos fazem ter mais experiência e paciência); com as traições (as maravilhosas, que nós praticamos – trair é trem bom demais – ou as que são praticadas pelos nossos parceiros); com a falta de grana (que nos faz ficar mais ‘criativos’), mas principalmente pelo inusitado que o cotidiano sempre nos propicia, pelo inesperado, pelas surpresas que a cada dia chegam às nossas vidas. Viva a Vida!

E é pra curtir a vida mesmo pois, por mais que você duvide, a vida é curta. Olhe ao seu redor, bonitinho, só o nosso país – que é neném em relação ao mundo – tem mais de 500 aninhos. Quinhentinhos, fio. E tu, neguinho, tem quantos? Acha que fica aqui por mais quantos aninhos, 30, 50, 70? Será vapt vupt, pode crer.

Ontem eu estava bonita, gostosa, fogosa, pegando tudo que passava na minha frente e me seduzia. Hoje, vivo feliz por ter feito tudo o que quis e pude fazer. Ainda fico a pensar que posso aprontar – e apronto um bocado de ‘arte’ em pensamento. Mas agora, só em pensamento, pois sou moça direita, he-he. Até seguro o copo com o dedo mindinho esticado, como manda o figurino.

Dentro de mim sempre lutaram duas personalidades: a da jornalista afoita, brincalhona, farrista, e a da professora dedicada, que tinha que conter o ímpeto da jornalista na faculdade. De vez em quando uma vencia a outra, e a professora saía com os aluninhos para tomar uma. Também, os capetinhas ficavam sentados na escada da faculdade esperando eu acabar de dar a aula. Como resistir a umas fofuras destas? A professora ia pra casa, pudica, e a jornalista se apresentava para os anjinhos. Vida deliciosa. Obrigada, Deus, por tanta alegria e amor.

Outro dia fui num shopping com as irmãs quando, de repente, me aparece Ana Clélia e Bonfim, ex-aluninhos amadinhos. Amo rever meus menininhos. Foi uma alegria imensa, pois depois da faculdade eles foram trabalhar em A Tarde e ficamos juntos por muito tempo. Houve um detalhe quando Clélia era minha aluna: ela era assídua, atenciosa, dedicada. Mas teve um problema de saúde e precisou fazer uma cirurgia numa época de prova, o que iria prejudicar o seu semestre. O que foi que a professora fez? Fui aplicar o testo no apartamento dela. Simples assim. Quem ‘pegou a ponga’ também foi Araken, que tinha faltado à prova no dia (de ressaca?) e pôde recuperar a nota fazendo o teste com ela. Lembramos disso e demos boas risadas.

Outro encontro carinhoso foi no Beach Stop de Stella Maris, onde levei minhas irmãs para conhecerem o melhor pastel de camarão do Brasil – pra mim, do mundo, adoro – e depois de pedir mais um pastel a Mateus, o meu garçon preferido, dei de cara com Cleber Borges e Soninha, amigos de A Tarde, que também são clientes da casa. Aí, foi saborear a delícia matando saudade, lembrando dos colegas, das aventuras pós-redação, das boas farras e do muito trabalho também.

Passei 35 anos bem vividos em A Tarde. Não me arrependo nem um dia. Se voltasse, faria tudo de novo. Talvez aprontasse um pouco mais de tudo se lembrasse que o tempo é tão curto. Fico pensando que, quando eu era menina, com 10, 12 anos, eu imaginava e fazia contas: será que eu vou chegar ao ano 2000? Era tão longe, mais 40 anos ainda. Olha aí, Deus me privilegiou e já estou vendo o raiar de 2020.

E descobrindo ainda coisas boas. Outro dia, com preguiça de cozinhar em casa, pois Jaci estava de folga, descobrimos um restaurante simples, aqui pertinho de minha casa, o Nosso Sabor (rua da Mangueira, 54, fone 3561-4705). Tem uma comida deliciosa e variada: bifes, bisteca, carne do sol, moqueca de peixe, feijoada, rabada, tinha para todo gosto. E gostoso. Comecei logo a bater papo com um pessoal simpático que lá estava e ficamos trocando informações de boa comida e receitas.

Foi aí que Eliane Correia, afetuosamente chamadas pelos seus de Lili de Brasília, que está curtindo a praia de Buraquinho, me deu a receita do seu prato preferido, a rabada, que eu passo pra você, lindinha, encantar o seu amorzinho. Aventais a postos.

Rabada de Lili de Brasília

Bater estes ingredientes no liquidificador:
-- 1 pimentão
-- 2 tomates
-- 2 cebolas
-- 1 molhe de cheiro verde
-- 3 colheres (sopa) de molho shoyo
-- Sal
-- 5 folhas de hortelã
-- 2 folhas de agrião

Modo de preparo

1) Aferventar dois quilos de rabada por três vezes, mudando a água.

2) Lavar bem a rabada, colocar em um saco após acrescentar todo o tempero batido, sacudir bem e deixar de um dia para o outro.

3) Tirar do saco para uma panela de pressão e levar ao fogo. Quando estiver mole, acrescentar um molhe de agrião bem lavado, desligar o fogo e abafar, deixando pegar mais gosto.

Saborear como eu gosto, comendo de mão, limpando os ossinhos. Adoro. Bom apetite!