Hugo Brito

Por que as bandas acabam (como uma família que se desentende)

Há gente que fala que é como um casamento

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Iniciamos a semana com a notícia do fim do Skank, banda mineira com décadas de sucesso em nosso país.

Sempre gostei muito do trabalho deles, com altos e baixos, como tudo na vida, uma banda bem humana, cheia de mineirinhos gente boa. Foi aí que me peguei a pensar em trazer para o nosso bate-papo de hoje um pouco da complexidade de relacionamento que existe dentro de bandas.

Há gente que fala que é como um casamento, mas eu particularmente vejo como uma relação muito mais complexa, parecida com uma família, para ser mais preciso é uma relação entre irmãos, com suas personalidades, visões de mundo e, para piorar, todos com formações e veias artísticos diferentes. Aí é barril.

Família, família...

Olhem os Titãs, um ótimo exemplo para apoiar minha teoria da irmandade, já que vários estavam na frente, cantando e interagindo de forma mais direta com o público e deixando bem à mostra suas personalidades.

No Titãs não veio o fim. Os irmãos, como em uma família, foram “saindo de casa”. O grupo menor seguiu seu caminho e quem saiu, como se diz na Bahia, fez isso “de boa”.

Outro dia, por exemplo, vi um show deles onde Arnaldo Antunes subiu ao palco e cantou várias músicas, ainda com Paulo Miklos, o último irmão a “sair de casa”, e ali estava algo bem próximo do velho grupo que tantas vezes vi completo na Concha Acústica.

O clima era o daquele churrasco que reúne todos para rever um irmão que há tempos mora fora da cidade, um clima de alegria de prazer em estar novamente juntos lembrando as travessuras do passado como se tivessem acontecido ontem.

Sentindo na pele

Eu mesmo faço parte de uma banda há mais de 15 anos e, nesse tempo, já houve diversas mudanças de integrantes. Aliás, a mudança de pessoas é mais um ponto dessa complexa relação. Sabe como vejo? É quando uma irmã começa a namorar e de repente chega na família um cunhado para beber sua cerveja gelada.

No início é aquele negócio estranho, costumes e comportamentos diferentes, história de vida da qual ninguém participou e que, em um piscar de olhos, todo mundo passa a ter que ir conhecendo, convidando para os jantares, aniversários, etc. Um agregado mesmo, que aos poucos vai se conectando à família, isso quando dá certo é claro.

Na banda da qual faço parte, por exemplo, estamos até vivendo uma coisa interessante, o retorno de um antigo integrante. Nosso batera Paulo Heineken está voltando, pois Rodrigão não estava mais conseguindo conciliar trabalho e banda. Aliás, a nossa banda é um capítulo à parte no quesito mudança de componentes. Eu já fui baterista e hoje sou vocalista. O nosso antigo vocalista, Dilsão, saiu e sumiu. O nosso guitarrista base atual, Beto Duca, chegou há mais ou menos dois anos, depois da saída de Sandrão para dar mais atenção à família.

Só nessa breve descrição da nossa banda que mantemos por diversão, pelo amor à música, dá para ver como a coisa complica, pois, cada mudança é um adeus a um irmão que sai de casa e a chegada de um novo cunhado – rsrsrsrsrs.

No caso atual está até mais leve porque estamos nos despedindo de um irmão e ficando felizes com a volta para casa de um outro que tinha saído.

Separações e separações...

Voltando ao caso do Skank, até aqui parece que a separação deles é amigável e todo mundo continuará sendo da família. Seguindo a comparação, são irmãos que vão sair de casa ao mesmo tempo, um para casar, outro para a faculdade e outro para um emprego novo em uma nova cidade deixando para trás uma grande história e muita amizade.

Infelizmente nem sempre é assim. Olhemos o exemplo do Rappa, que pelo que se lê em declarações deles e de quem estava por perto no ano passado quando encerraram a banda, nem uma van conseguiam dividir mais e, no palco, nem se falavam.

Lá fora não faltam exemplos de finais meio estressados como o dos Beatles, cuja culpa muitos colocam injustamente em Yoko Ono. Digo injustamente pois os relatos mostram que já vinha acontecendo uma grande tensão interna antes da chegada dela. Claro que a presença de Yoko ali como um quinto elemento, levada pelo saudoso John Lennon, deu uma desequilibrada afinal ensaios são, acreditem meus amigos, momentos em que as bandas são mais verdadeiras.

Olha aí comparação com uma família de novo! 

Sabe como vejo? O ensaio é como no domingo de manhã, todo mundo com camisa amassada em casa, cabelo despenteado, chinelo de lado, sentando para tomar aquele café onde se discute desde o placar do jogo até o futuro do planeta, tudo isso com muita zoação. Pegou a visão? (Rsrs).

Para fechar a imagem familiar de uma banda na hora do show é como quando a família vai para um casamento de um parente. Todo mundo arrumado, com roupa bonita e sorridente... até que um irmão toma um porre e aí, amigo, tudo pode acontecer... rsrsrs.

Para resumir, porque hoje assumo que falei demais, assistir a mais uma grande banda encerrando sua história sem dúvida traz saudade, mas, como diz uma música de uma antiga banda baiana – 14º andar – “assim é a vida... E o que a vida dá...”.

Viva o Skank e tantas outras bandas que fecharam seus ciclos e deixaram para nós muita música e um outro viva à amizade e à irmandade dentro dos milhares de bandas pelo mundo!

Vinil

Falei que ia manter vocês informados não foi? Na semana passada conversamos sobre vinis e lancei o desafio de fazermos um encontro.

A surpresa é que descobri que há um encontro de amantes do Vinil já marcado para o próximo sábado, 10/11, das 12 às 18 horas, no Mercadão C. C., Rua Guedes Cabral, 20, Rio Vermelho - antigo Idearium - próximo ao largo da Dinha, em frente a Igreja de Santana (melhor que GPS, não tem como não achar).

Amantes do vinil, encontro marcado!