A história se repete a cada morte: a família, além de sofrer a dor da perda, tem que lidar com questões burocráticas e financeiras referentes ao enterro (sepultamento) ou cremação. A morte quase sempre chega sem avisar e, geralmente, provoca mais dor às famílias que não se planejaram para a inevitável ou “o mal irremediável”, lembrando o escritor Ariano Suassuna no livro Auto da Compadecida.
“A discussão sobre planejar para a morte ainda é restrita, cercada de medo e preconceito”, afirma a gerente geral do Cemitério Parque Jardim da Saudade, Bárbara Bembem, acrescentando que assim como se planeja outras etapas da vida, esta é mais uma fase importante para se pensar. Segundo Bárbara, há planos de sepultamento que podem ser feitos por jovens e idosos com pagamento em até 12 vezes.
Decidir se prefere o sepultamento ou a cremação é uma questão a ser avaliada. O sepultamento do corpo é uma prática mais comum entre os cristãos, mas a cremação vem ganhando adeptos. O Jardim da Saudade foi o primeiro cemitério do Nordeste a ter crematório (1999) e, atualmente, conta com dois fornos. A cremação só pode ser realizada 24 horas após o óbito de morte natural.
Bárbara informa que a cremação é uma medida mais prática e higiênica e era comum nas civilizações mais antigas, Grécia e Roma, por volta de 1000 ano antes de Cristo. No Japão, a cremação foi adotada em 553 depois de Cristo, com o advento do Budismo, e incentivada entre os japoneses pela falta de espaço territorial. “No Brasil, em 1867 foi promulgada uma lei que tornava obrigatório incinerar as pessoas mortas por doenças contagiosas para garantir o controle sanitário e obter melhor uso da terra. E a partir deste ano, as pessoas passaram a considerar a opção de cremar seus mortos”, conta.
Bárbara Bembem: "a discussão sobre a morte ainda é cercada de medo e preconceito"
A cremação pode ser paga em parcelamento de até 36 vezes. Bárbara alerta que a cremação no Brasil exige que a pessoa registre em cartório o desejo de ser cremado ou um familiar requisite o serviço. Como não existe cemitério público que disponha de crematório, o Jardim da Saudade em parceria com Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop) disponibiliza duas cremações diárias gratuitas para a população de baixa renda.
Para conseguir a gratuidade, o parente do morto deve comparecer à Coordenadoria de Serviços Diversos (CSD) da Semop com o atestado de óbito assinado por dois médicos, guia de cremação e assinar uma declaração de pobreza. O documento serve para atestar que a família não tem condições financeiras de arcar com os custos do serviço. Depois disso, é entregue uma guia de liberação da Prefeitura para que seja feito o procedimento no Cemitério Parque Jardim da Saudade.
Quanto custa morrer
A equipe do Bons Investimentos criou estudo identificando quantos dias são necessários, em cada Estado para arcar com os custos médios de um enterro. Dados da Abredif (Associação Brasileira de Empresas Funerárias e Administraras de Planos Funerários), mostram que tal custo gira em torno de R$ 2.500. Cruzando esse valor com o rendimento médio em cada estado, dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), identificou-se quantos dias de trabalho seriam necessários para arcar com tais despesas.
Na segunda parte do estudo, avaliou-se quanto seria necessário investir ao mês para ser possível custear esses valores. Para 5 anos de investimento, com o aporte mensal sendo investido em algum título que renda a taxa básica de juros comparado ao valor médio do enterro sendo inflacionado pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), o valor mensal a ser investido seria R$ 41,99. Esse valor se reduz com o tempo: R$ 20,99 para 10 anos, R$ 10,31 para 20 e assim por diante.