Comportamento

Como precisa ser a vida sexual do idoso (e como ela está sendo)

Um assunto que além de envolver muitos tabus, é muito delicado

Foto: Pixabay/Creative Commons
Existe preconceito e até repressão, como se a sexualidade fosse um privilégio dos jovens
Raquele Carvalho é sexóloga, pós-graduada em Gênero e Sexualidade, especialista em Sexualidade Infantil e Sexualidade na Adolescência

Você já se perguntou como será quando envelhecer? O que muda? O que melhora? O que acaba? O que piora? O que começa? Não me refiro apenas aos aspectos físicos, que para muitas pessoas já é um grande impacto, mas a tudo que envolve o viver.

Desde que comecei a fazer palestras para grupos de terceira idade, passei a pensar mais nestas questões. Antes de ter esse contato direto, confesso que eu não pensava muito nesses detalhes, e nem me imaginava na situação, agora eu enxergo com outros olhos.

Raquele CarvalhoTenho encontrado pessoas que já foram muito mais ativas, que se doaram às suas famílias, que tinham mais beleza física, mais saúde, que se sentiam mais úteis, que eram assim como eu, e que agora estão bem diferentes.

Duas coisas me chamaram muito a atenção: uma foi a carência. Carência de um sorriso, um olhar, um abraço, uma prosa, de atenção. E a outra, é uma grande vontade de viver.

Isso me deixou um pouco apreensiva, principalmente porque todos nós queremos chegar nessa fase, chamada melhor idade, só não imaginamos como será.

Sabe-se que a expectativa de vida do brasileiro tem aumentado se comparada ao passado, e isso é muito positivo, pois quer dizer que estamos vivendo por mais tempo. Mas esse viver por mais tempo quer dizer que estamos vivendo com qualidade?

Percebemos que têm surgido muitas ações com o objetivo de promover uma melhor qualidade de vida na velhice, embora ainda falte muito para o que se chama de “ideal”.

Hoje eu quero abordar um assunto que além de envolver muitos tabus, é muito delicado, principalmente nessa fase, mas que precisa ser discutido, pois também promove qualidade de vida. O assunto é: a vida sexual do idoso.

Imagino que nesse momento, você esteja se perguntando: e idoso tem direito a vida sexual? Quando envelhece ainda tem vontade? E eu pergunto: por que não ter vida sexual na terceira idade? Se sexo é saúde, fonte de prazer, bem-estar, nos deixa mais vivos e bem dispostos...

Tudo bem que o ato sexual, nesta fase, tem suas particularidades, aliás, em todas as idades, mas isso não tira os seus encantos e benefícios, pelo contrário, ajuda a envelhecer e viver melhor.

Existe um grande preconceito e até repressão, como se a sexualidade fosse um privilégio apenas dos jovens. Observo que os filhos quando veem seus pais envelhecendo não sabem como lidar com essa questão, acham que o sexo é algo impróprio aos seus pais. E aí vemos uma inversão de papéis.

Anteriormente os pais sabiam que os filhos, enquanto jovens, tinham vida sexual ativa, mas não queriam acreditar, e quando os pais envelhecem os filhos se comportam como pais, sem querer acreditar que os seus também possam ter e/ou querer uma vida sexual ativa.

Lembro-me que em uma dessas palestras uma senhorinha de 67 anos relatou ter vida sexual ativa escondida dos filhos, porque os mesmos não aceitavam que ela tivesse um relacionamento depois da viuvez.

E eu fiquei a pensar: os idosos já passam por todo o processo natural do envelhecimento que para muitos é de difícil aceitação. Sofrem com as alterações hormonais, que é um dos motivos que reduzem a atividade sexual, por conta da perda da libido, também com o aparecimento das disfunções sexuais tanto no homem quanto na mulher, provenientes da própria idade. Além disso, tem que lidar com fatores como depressão, doenças degenerativas, uso de medicação contínua, viuvez, baixa autoestima, mudança do corpo, abandono, que dificultam ainda mais a sua sexualidade. E, além disso, ter uma família que julga o seu comportamento e suas necessidades é difícil, e torna muito mais complicado esse processo.

Penso que cabe repensar esse comportamento, despindo-se dos preconceitos, lembrando que futuramente você também estará nessa condição, e com certeza vai querer usufruir o bem-estar de uma vida sexual plena. Para tanto é preciso estar atento e ter mais sensibilidade às necessidades do idoso, ouvindo-o, e orientando-o a buscar uma vida saudável, com prática de exercício, tratamento de doenças que possam aparecer no decorrer do processo, atividades de socialização em grupos, em especial, ligadas a arte e cultura, e tudo mais que possa fazer com que se sintam vivos e úteis.

Todos nós merecemos e temos o direito ao prazer sexual, em todas as idades, pois o sexo é libertador e nos mantém vivos.