A Semana Santa, como outros feriados religiosos no Brasil, se caracteriza pelo consumo de determinados alimentos: durante a quaresma (período de 40 dias entre a quarta-feira de cinzas e a páscoa) muitos católicos não ingerem carne vermelha, consumindo apenas peixe.
Na Sexta-Feira da Paixão, que relembra o dia da crucificação de Cristo, em muitos lares católicos a tradição é comer peixe ou bacalhau – costume que remonta aos hábitos dos portugueses que colonizaram o país.
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Outras religiões também têm uma relação especial com determinados alimentos, o que nem sempre é bem visto por pessoas de outros credos. Basta lembrar a polêmica em torno de religiões de matriz africana, como o candomblé, quando o Supremo Tribunal Federal julgou a questão e decidiu, por unanimidade, que o sacrifício ritual de animais para fins religiosos é, sim, uma prática constitucional .
Mesmo em se tratando das religiões mais diferentes entre si, como é o caso do cristianismo e do candomblé, elas têm em comum o fato de eleger alimentos como símbolos do sagrado.
A socióloga e antropóloga Ana Claudia Fernandes Gomes explica que a relação entre alimentação e religiosidade está presente em todas as civilizações. “A religiosidade de certa forma incentiva o agradecimento aos deuses por tudo o que eles dão, sobretudo o alimento, que permite a sobrevivência. Então é um alimento físico e espiritual ao mesmo tempo”, aponta.
No judaísmo, a relação dos fieis com os alimentos é uma tradição milenar, como explica o chefe de cozinha Rodrigo Fleiss Breitbarg. “A alimentação judaica é baseada na Kashrut, do hebraico "próprio", e tem diversas regras, desde qual animal é próprio para consumo até como você deve preparar seus alimentos”, conta.
Algumas dessas regras são: não misturar carne com leite, comer apenas aves, animais ruminantes e de pata fendida, peixes com escamas e barbatanas – que são os chamados animais “kasher”, permitidos para o consumo.
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Na tradição africana do candomblé, o alimento serve como instrumento para agradecer e para pedir bênçãos aos orixás. O acarajé, famoso bolinho que é vendido por baianas em vestimentas típicas, é um exemplo de “comida de santo”, pois pertence ao orixá Iansã.
“No candomblé, a comida de cada orixá tem seu preparo específico, assim como era feito no passado pelos nossos ancestrais e ainda hoje são feitas da mesma maneira, passando de geração em geração”, ensina o sacerdote Francisco César da Silva Preto, Babalorixá de Oxóssi do Ilê Iya Omi Ati Oyá - Asé Odé Erinle.
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Entre os Hare Krishna, toda comida deve ser primeiramente oferecida a Krishna e, assim, todo alimento passa a ser sagrado. Por ser uma religião originária da Índia, os pratos da culinária indiana são muito apreciados pelos devotos. Para cozinhar, existem algumas regras, como não experimentar a comida e não utilizar cebola e alho.
Os hare krishna seguem uma dieta baseada em vegetais e laticínios, sem carne, peixe nem ovos. “Tentamos sempre oferecer alimentos livres de violência ao Senhor e, depois de oferecido, esse alimento se torna santificado, espiritual, o qual chamamos de pras?da, ou a misericórdia de Krishna”, conta a devota Candravali Devi Dasi.
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