Comportamento

As infinitas possibilidades da Síndrome de Down

Eles podem, você também. Doar carinho e receber amor nunca é demais

Foto: Divulgação

Por fora uma residência simples, mas não se engane, dentro dessas instalações existe um nascedouro de esperança. Localizada em Casa Amarela, a Associação Novo Rumo semeia desde 2006 o futuro através do amor e do acolhimento. Para construir uma sociedade amplamente inclusiva, 400 crianças com suas peculiaridades participam do projeto recebendo acompanhamento de fonoaudiólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicopedagogos e até capoeira, para desenvolver a fala, sociabilização e coordenação motora. Todos se divertem, todos são iguais.

Aqui, a expectativa de um destino promissor é minimizada por um presente de acessibilidade e qualidade de vida. Antes de profissionais renomados, o propósito do projeto é criar cidadãos com valores e independentes. Sorrisos, carinho e empatia rodeia a casa, entre as mães, os profissionais e, sobretudo, das grandes estrelas, que facilmente fazem amizade com quem esteja disposto a receber um abraço sincero. Mas quem disse que profissionais de referência não estão sendo preparados na associação? Cheios de energia e aptidão, basta os visitantes observarem por alguns minutos para enxergar os diversos talentos difundidos pelos corredores da Novo Rumo.

Miguelzinho, o fotografo

Não se espante se daqui uns anos o pequeno Miguel Luiz, de 5 anos, figure os principais editoriais do país ou exponha seu trabalho nas maiores galerias ao redor do mundo. "Beijoqueiro e amável", como contou a mãe Drieli Cristina, ela citou o zelo do filho, e revelou que o pequeno desenvolve direitinho, desde os quatro meses, as atividades propostas pelas 'tias', tanto na associação, quanto nas atividades de estímulo realizadas em casa. Risonho, Miguelzinho mostra aptidão com a câmera nas mãos. Muito além da curiosidade, o menino se diverte a cada enquadramento e solta uma sonora gargalhada aos sons emitidos com os disparos da câmera. Antes da técnica, o dom; antes do dom, a diversão em registrar o que está diante dos seus olhos. Atento e bem posicionado para cada flash, ele só solta a câmera ao ouvir a palavra 'mágica': trufa de chocolate. Aí os olhos de Miguel brilham, e ele larga tudo. Afinal, que criança resiste a um bom doce?

A futura medalhista olímpica, Yasmim

Enérgica como habitual para uma criança de 10 anos. Yasmim dança, canta, corre e pula, ela só pode funcionar à bateria. Mesmo tímida, adora puxar uma conversa e perguntada sobre o esporte que vai escolher no futuro, a resposta não podia ser outra: "gosto muito de futebol. Eu quero jogar bola". Alguns até podem confundir com excesso de agitação, mas a Yasmim sem sombra de dúvidas é uma atleta em potencial. "Ela gosta muito de praia. A gente geralmente vai pra Mangue Seco porque lá é mais calmo.

Acredita que ela vai lá pro meio?", revelou a mãe Maria José, sobre o ímpeto e coragem da menina. Além dos esportes, ela também dá seus primeiros passos na música. Inspirada nos hits das rádios e nos louvores que tocam em casa, a mãe percebeu que a filha tem um bom ritmo e acompanhava a cadência melodias. Por isso, Yasmim ganhou um violão infantil e já arrisca suas primeiras notas, sempre acompanhando de forma ritmada os sons que lhe rodeia. No pódio, as duas estariam em primeiro lugar, dividindo a medalha de ouro, uma grande atleta conduzida por uma grande protetora.

A arte abstrata da Tatá

Mesmo com pouca idade, um primor ao pegar no lápis. Thaís, de apenas três anos, gosta de se expressar nas folhas e nas cores. "Espevitada", como confirma a mãe Taciana Torres, além de interpretar o amor que recebe, Tatá simplesmente emite simpatia. Ela faz parte daquele seleto grupo de artistas que você quer comprar a obra, e ainda espera horas na fila só para receber um autografo e um abraço caloroso. Sem preço, o valor da expressividade dela facilmente invadiria museus e o mercado de leilões de arte. Não é em toda esquina que artistas produzem sinceridade e amor, mas nas mãos da pequena Tatá essa é a única tradução de arte.

Gigi, a personificação da multiculturalidade 

O futuro sempre será incerto, mas no presente já é perceptível que a pequena Giovanna, de apenas um ano e três meses, ama uma folia. Esse ano frequentou assiduamente as agremiações de Pernambuco; em meio aos confetes e serpentinas, Gigi participou de vários blocos. A todo vapor, não arredou o pé e só sossegou depois de frevar os cinco dias de Carnaval, não à toa que encerrou os festejos no tradicional Bacalhau do Batata, comemorado na quarta-feira de Cinzas.

Animada que só ela, Giovanna herdou todo esse fôlego e amor pelo Carnaval da mamãe Marcela Lubambo, que antes mesmo da gravidez, participava da Escola de Frevo do Recife, e revelou em tom de riso que "com cinco anos, vou botar ela na escola de frevo também. O que a mamãe não consegue mais fazer, ela vai”. Talento ela tem, fica em pé, se expressa com toques e risos, e provavelmente rode o mundo divulgando a cultura do nosso Estado. Marcela não esconde o orgulho da pequena, mas pra que esconder um sentimento tão louvável? Não vai ser difícil encontrar Giovanna com uma sombrinha multicolorida, rindo ao executar uma tesoura ou um parafuso.

Dia Internacional da Síndrome de Down

Talvez você não tenha percebido, mas todas essas potencialidades são de crianças com Síndrome de Down e, nesta quinta-feira (21) é comemorado o dia internacional delas. Com um carinho acima da média, essas crianças apenas representam até onde - qualquer pessoa - pode chegar, através do esforço.

A síndrome, ou trissomia do cromossomo 21, é causada no momento da fecundação, resultado da presença de três cromossomos 21 em todas ou na maior parte das células. Com isso, pessoas com Down têm 47 cromossomos em suas células, em vez de 46, como a maioria da população.

O dia 21 de março foi marcado justamente por essa relação genética. Além de respeito e compreensão, o espaço para o preconceito não cabe mais, até porque ele é um mero fruto da desinformação. Então, te desafio a conhecer uma pessoa, seja ela adulta ou criança, e não se apaixonar pelo olhar singelo e afabilidade característico de cada um.