Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que 14% da população feminina não pretende ter filhos, apesar de ainda existir uma cobrança social para que a mulher encontre na maternidade sua razão de existir. A liberdade para se dedicar aos estudos e a carreira estão entre as justificativas de mulheres como a educadora social Ingrid Limeira, 34 anos, que decidiu não ter herdeiros.
Depois de crescer em uma família onde as mulheres foram incentivadas apenas a cuidar do marido, dos filhos e da casa, Ingrid, que é formada em Direito e atualmente se dedica à sua segunda pós graduação, escolheu seguir um caminho diferente e que não inclui ser mãe.
"Minha escolha de não ter filhos foi baseada no meu histórico familiar. Do sofrimento que a minha avó e as minhas tias passaram. Ter filhos não é um impedimento para estudar e trabalhar, mas exige um apoio financeiro e familiar que eu não tenho, por isso preferi dar prioridade para outras coisas na minha vida”, conta.
A socióloga Ana Claudia Fernandes Gomes explica que a cobrança para que as mulheres sejam mães decorre do fato de a maternidade ser o núcleo básico da sociedade, se tornando uma regra social que, muitas vezes, é incentivada pela família e pela religião, mas que foi se alterando com o tempo.
“A obrigatoriedade de ser mãe ainda existe em termos de regra, mas os movimentos sociais abriram espaço para que as mulheres escolham se querem ter filhos e quando devem tê-los. Isso é importante porque ao abraçar a maternidade de forma consciente, a mulher sabe os prós e contras”, afirma.
Negar a maternidade faz com que a promotora de vendas Luana Oliveira, 28 anos, seja alvo de críticas, mas ela não descarta a possibilidade de fazer uma laqueadura para definitivamente não correr o risco de engravidar.
“As pessoas me falam que não tenho coração ou que sou ‘menos mulher’ por não querer ser mãe e eu não ligo porque é uma escolha totalmente minha. Eu até faria a cirurgia [laqueadura]”, relata.
A legislação brasileira permite que apenas mulheres acima de 25 anos ou que já tenham pelo menos dois filhos façam a laqueadura, que é um procedimento irreversível. Contudo, a realização da cirurgia é decidida pelo médico, que só é obrigado a fazer o procedimento em casos de emergência.
Segundo a psicóloga Roberta Gelain, a decisão de ser mãe está estritamente ligada à experiência que a mulher vive, porém, independentemente da escolha, a mulher está sujeita a se arrepender e a desenvolver problemas emocionais.
“Quando há arrependimento vem uma dor terrível, tanto pela escolha de não ter tido filhos, quanto pela escolha de tê-los. Há mulheres que se arrependem de ter sido mães também”, comenta.
Roberta, no entanto, afirma que o empoderamento feminino tem sido de extrema importância para as mulheres lidarem com decisões maternais. "O empoderamento tem rompido com essa ideia de que as meninas brincam com boneca e os meninos com carrinho. Hoje, a mulher trabalha, divide as tarefas de casa, então estão sendo constituídos outros modelos de família. Acredito que as próximas gerações serão ainda mais abertas a isso”, afirma.