Alberto Oliveira

Desafios (e armadilhas) da sala de aula

Educa-se, agora, em tempo integral


Foto: Pixabay/Creative Commons

Há, na sala de aula, uma natural resistência às novas formas de comunicação, geradas a partir da popularização da Internet. E parcela considerável dos educadores ainda não vê a informática como um instrumento facilitador do aprendizado.

Professores em bom número ainda têm dificuldade de perceber que as paredes da sala de aula ruíram. A educação não se circunscreve mais ao espaço e tempo determinados pela ação presencial. A transmissão de informações (e, portanto, a construção do conhecimento) continua além das fronteiras do estabelecimento de ensino.

Educa-se, agora, em tempo integral. Deve-se ir além do pincel atômico. Educador e educando pavimentam, juntos, a estrada do aprendizado, trocando experiências, privilegiando a contextualização, aproveitando a vivência de cada um.

Professores de matérias ligadas, de alguma forma, às novas tecnologias, têm uma dificuldade adicional. Eles freqüentemente se queixam de dificuldades no compartilhamento de um assunto tão contemporâneo. Sentem-se inseguros, porque concluem que ao menos parte dos alunos sabe mais do que eles, sobre o tema.

A insegurança dos professores revela quão longe estamos da inclusão digital.

Disparidades no nível de conhecimento, entre o alunado, no que tange à utilização dos recursos hipermidiáticos, prejudicam o processo de construção do conhecimento. Professores despreparados para lidar com as novas tecnologias, ou avessos a elas, funcionam como dificultadores no processo de ensino-aprendizagem.

A educação é um caminho de múltiplas vias, em que todos - incluindo quem se coloca no papel de professor - precisam estar abertos ao aprendizado. Não devem opor-se à tecnologia com o argumento de que ela desumaniza. Não podem imaginar que a informática é o único meio capaz de transmitir informações.

Surge, aqui, o grande desafio dos facilitadores: manter-se atualizados. Até porque, em muitos casos, a teoria está sendo construída neste momento (e, paralelamente, sofrendo contestações e modificações). O que é válido em um semestre pode estar superado no seguinte.

Encontrar-se digitalmente incluído não significa ter um equipamento de ponta, conectado a uma rede de alta velocidade. É preciso "conectar-se" aos educandos, aceitar a formulação de novos raciocínios e abordagens originais para antigos problemas.

A inadequação à geração digital estende-se, com raras exceções, aos métodos de ensino, à linguagem e à didática em uso nas escolas.

Acostumado a servir como mediador entre o conteúdo didático e o educando, tem o professor, a partir do uso intensivo do aparato tecnológico, o papel fundamental de dirimir dúvidas sobre o seu uso, ajudar na transposição das barreiras que esse aparato impõe, utilizá-lo como ferramenta na construção do conhecimento.

O descompasso entre professores e alunos não pode ser superado simplesmente pela inserção de aparatos tecnológicos ou pelo acesso de maiores parcelas do alunado à rede mundial de computadores, por exemplo. Utilizar a Internet com freqüência não é garantia de que a Web esteja sendo instrumento eficaz na construção do conhecimento.

Conclusão: Para uma geração acostumada ao hiperlink, a construção do conhecimento não pode continuar se dando de maneira linear, sequencial, em série.

O aprendizado deve deixar de ser transmitido, para ser facilitado; o foco precisa passar do professor para o aluno; a construção do conhecimento exige que se dê de forma individualizada, sob medida, e não se restringe ao horário e espaço da aula. Continua após ela, em tempo integral.

Para isso, o professor tem que estar constantemente atualizado. Caso contrário, perde-se o foco, extrai-se pouco ou nenhum resultado do uso da tecnologia. Povoar faculdades com laboratórios de informática, todos acessando a rede mundial de computadores, não é garantia de que seus alunos os utilizem de maneira adequada e produtiva, principalmente se os professores têm ojeriza aos avanços tecnológicos, estão aferrados a métodos tradicionais de transmissão do conhecimento, ou desconhecem como tirar proveito das novas mídias.