A estudante Tainá Oliveira, hoje com 21 anos, desde a infância tinha mania de querer organizar as coisas que eram compradas no supermercado.
Desde os nove anos de idade, ela tinha dificuldade de se desapegar de alguns objetos, que ela acreditava trazerem sorte. Tainá é um dos 4,5 milhões de pessoas no Brasil que sofrem de Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC).
Em todo o mundo, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 5% da população tenham o problema.
O TOC é uma condição clínica caracterizada por obsessões e compulsões, explica a psicóloga Maria Vanesse Andrade. “As obsessões frequentemente envolvem pensamentos dos quais a pessoa 'sente' que precisa se esquivar ou suprimir.
Em busca dessa supressão, a pessoa acaba por desenvolver comportamentos repetitivos, algumas vezes em forma de rituais, os quais denominamos obsessões”, diz.
No caso de Tainá, os rituais eram muitos, o que trazia complicações para a vida cotidiana e muito sofrimento.
“Rituais diários pra acordar, rituais pra sair de casa, lavar compulsivamente as mãos, me privar de fazer várias coisas novas, por achar que se eu fizer minha vida vai dar errado, tentar manter as coisas sempre em números pares, escovar os dentes três vezes a cada vez que vou escovar os dentes, trancar e destrancar e trancar novamente todas as janelas da casa antes de dormir pra ter certeza de que fechei. Nossa, são muitos, eu tenho uma mania que inclusive é sobre não poder falar sobre determinadas manias, porque eu acho que se eu fizer, minha vida vai parar de funcionar. Eu também odeio coisas abertas, portas abertas, quando deixam, ou sei lá quadro de luzes abertos, e tenho infinitos problemas com sons. Na minha fase mais extrema do TOC, eu cheguei a repetir palavras”, relata.
Hoje, Tainá faz um tratamento que envolve psicoterapia comportamental e medicamentos, além de se utilizar de métodos auxiliares como yoga e meditação para manter a situação sob controle.
Ter uma "mania" não é necessariamente um sintoma do transtorno obsessivo-compulsivo mas, se um determinado comportamento se torna muito repetitivo e começa a atrapalhar a vida da pessoa, é preciso consultar um psicólogo ou um psiquiatra para uma avaliação.
"Cabe se perguntar: isso é algo que eu faço só de vez em quando ou é algo que eu preciso fazer, caso contrário não me sinto bem ou em paz?" ensina a psicóloga.
Não existe uma causa única que desencadeie o TOC. Os especialistas apontam para uma combinação de fatores genéticos, ambientais e sociais.
O tratamento é feito com psicoterapia e pode utilizar ou não algum remédio psiquiátrico, o que depende de uma avaliação caso a caso. “A psicoterapia é voltada para a modificação de padrões e rituais envolvidos no TOC. Também pode haver a necessidade de psicoeducação para os familiares, que muitas vezes não entendem ou minimizam o quadro”, diz Maria Vanesse.
Tainá lamenta que muitas pessoas tenham uma visão distorcida do problema. “As pessoas não entendem a gravidade, acham que a doença é aquela visão romantizada que a internet criou, sobre organização.
Elas geralmente não encaram transtornos psíquicos como doenças, ou seja, eu não sou levada a sério. No entanto, o TOC me impede muitas vezes de fazer coisas simples, como sair de casa ou comer em lugar diferente”, desabafa.