Alberto Oliveira

A má gestão de riscos da Vale

Como é possível tantos errarem tanto e por tanto tempo?

Sob qualquer ângulo que se examine a questão, emerge das tragédias de Minas Gerais uma visão assustadora sobre a capacidade de gestão de riscos na mineradora Vale.

Seus diretores e engenheiros insistiam em garantir a estabilidade da represa de dejetos em Brumadinho, embora não tivessem a mais pálida ideia do que levara ao rompimento em Mariana.

Ora, a conclusão é meridiana: se a empresa desconhece as causas de um problema, como afirmar que ele não será repetido?

Sabemos todos, agora, que o método de contenção conhecido como "alteamento a montante", no qual a barragem recebe camadas do próprio material do rejeito é perigoso, ultrapassado e está sendo banido em outros países, embora ainda o mais comum, por ser o mais barato.

E aqui, nessa última observação (o mais barato), começa-se a perceber um dos equívocos de gestão de riscos da empresa. 

É fácil convencer acionistas em gastar R$ 5 bilhões e reduzir a produção em 40 milhões de toneladas anuais de minério, com a paralisação de suas 19 barragens em Minas? Evidente que não. 

Este seria o preço de se manter funcionários, terceirizados e moradores das proximidades em segurança.

Mais difícil será fazer com que os acionistas se conformem com perdas superiores a 20% em um só dia no valor de mercado e em gastos que já se aproximam dos R$ 100 bilhões (e crescendo) em recursos bloqueados pela Justiça para o ressarcimento de danos.

A cicatriz maior, no entanto, está sendo esculpida sobre a imagem da Vale, a exigir anos e um volume de recursos impossível neste momento de quantificar.

Como é possível tantos errarem tanto e por tanto tempo?

Mesmo com o excesso de conivência por parte do Estado e de tolerância do Legislativo, registradas no País há décadas, no que diz respeito à atividade mineradora, é inaceitável, inadmissível e injustificável que se exponham vidas, patrimônios e o meio ambiente a esse nível de riscos.