Helô Sampaio

Receita: a moqueca de Dona Canô


Rodrigo Veloso, Helô Sampaio e os irmãos Paulo e Ana, na casa de Dona Canô

Desde o final do ano minha vida está movimentada. Há poucos dias, botei uma carretilha nos pés e danei a viajar, pois esta é uma das coisas que mais gosto de fazer.

Não me canso de ir para as ‘minhas cidades’ da região cacaueira – Ibicaraí, onde nasci, cresci, ‘pintei o sete’ e fiz o curso primário; Ilhéus onde curti adolescência, fiz o curso de ginásio e me formei em professora, com muita honra; e Itabuna, que é onde minha irmã Ana mora, que era – e até hoje continua sendo – o grande centro de comércio da região, além de ser uma das mais importantes cidades do estado. Até eu ser aprovada no vestibular de Comunicação e vir para Salvador, estas cidades eram parte da minha rotina de vida.

Depois da viagem por Pernambuco e região cacaueira, vim para Salvador com Ana. Mal chegamos, nem bem tínhamos desarrumado a mala, quando o mano Paulo chega de São Paulo com Odete, as duas filhotas Mariah e Dara, a netinha Analua e o genro Caíque. Aí a casa virou uma festa, porque ainda tinha Vitória, de 11 anos, sobrinha de Jaci (minha auxiliar), que veio de Itaberaba conhecer Salvador e o mar. Ela só conhece o rio Paraguaçu.

Quando saíamos em dois carros, parecia um acampamento cigano, com tanta tralha e conversê. Família é trem bom é bom demais. E corremos a cidade toda. De repente, o meu irmãozinho sugeriu irmos a Cachoeira para fazermos uma visita a Alzira Power, nossa amiga irmã cachoeirana, e Fory, seu marido e um dos maiores artesãos da terra. Amo os dois. E rumamos pra lá. Mas antes de Cachoeira tem Santo Amaro, terra de Canôzinha, de Mabel, de Irene e Rodrigo meus amigos muito queridos. Não passo por lá sem entrar para um abraço.

Quando vi Rodrigo, não aguentei: pendurei no pescoço, enchi de beijo e abraço, e sentamos para falar de tudo. Rodrigo está parecidíssimo, ficou a ‘cara’ de Canôzinha, lindo, maravilhoso. Foi uma alegria reencontrá-lo tão alto astral. Quase não sigo para Cachoeira e ficava alí, no trololó com Digo. Lembramos de Canô e da moqueca de miolo que eu sempre comia com ela quando ia lá. Nhamm! Deliciosa. Digo me mandou a receita, que hoje é feita por Bárbara, conforme modo de fazer de Canozinha. Vejam abaixo. É para vocês não ficarem só com água na boca.  

Despedimos garantindo que o melhor é nos casarmos, pois um amor deste não pode parar assim. Na próxima viagem, acertaremos os detalhes da nossa junção. Irene já disse que será a madrinha do casório. Aguardem os próximos capítulos. He-he!

Chegar em Cachoeira, sair com Alzira, Fory e o acampamento Sampaio foi outra festa. Fomos turistar em São Felix, para a parte paulistana da família conhecer, corremos Cachoeira, seus recantos, seus monumentos e suas igrejas lindas. Sentar naquela orla, ficar apreciando o rio Paraguaçu correndo manso, sedutor, a brisa fresca batendo no rosto, as canoas passando, o povo sem pressa... É um privilégio, véio. Larga as coisas aqui e vai passar um dia de paz, cultura, arte e boa comida, meu amigo. Vida é viver agora. Depois, a vaca vai pro brejo, falta ânimo, falta isso, falta... ou faz, ou fica na saudade, meu caro. Aproveite o momento. Segue meu conselho, velho.

O almoço foi em Edna – que antes tinha o restaurante no antigo Clube dos Ferroviários em São Felix e já era o maior sucesso – e agora está atendendo em Cachoeira na rua Virgílio Damásio.

A ‘entrada’ foi uma maniçoba, comida típica do Recôncavo que eu a-do-ro. É um tipo de comida que parece – e leva quase tudo de uma feijoada, mas é feita com a folha da mandioca, depois de uma ‘cura’, de uma lavagem prolongada até tirar o sumo verde da folha.

O ‘arremate’ da maniçoba é a farinha boa e a pimentinha de cheiro. Bom demais. Depois da maniçoba, acreditem, ainda comemos uma mariscada... que ficou na história. ‘Nois guenta’.  Vai lá em Cachoeira para experimentar, fio.

Mas por enquanto, ponha o avental, que vamos para a cozinha preparar a moqueca de miolo, receita de dona Canô, que o meu amadinho, Rodrigo Veloso, me mandou, e que vou reproduzir como ele enviou. Maõs a obra.

Moqueca de Miolo, da casa de D. Canô

Receita para 2 pessoas:

Ingredientes:

-- 1 miolo
-- 1 tomate
-- 1 cebola
-- 1 pimentão
-- 2 limões
-- Coentro a gosto
-- 3 colheres de sopa de azeite de dendê.

Modo de fazer:

-- Colocar o miolo inteiro de molho na água com vinagre por 10 minutos, para facilitar a retirada da pele (membrana);
-- retirar a pele do miolo e lavar com 1 limão;
-- cortar o miolo em pedaço pequenos;
-- ‘pisar’ todos os temperos no machucador;
-- misturar o miolo aos temperos, já na panela que será cozido e acrescentar o azeite de dendê;
-- cozinhar por 40 minutos em fogo médio.

Está pronto para servir, ou melhor, para ser saboreado sentindo todo o gosto da deliciosa comida do Recôncavo. Beijins, lindinhos.