Artes Visuais / Cidade

Museu da Santa Casa exibe a baianidade do artista Carybé

Inédita, a mostra reúne 34 pinturas de colecionadores particulares

Foto: Divulgação
Pescadores e puxada de rede, temas recorrentes na produção do pintor, escultor e gravador
Pescadores e puxada de rede, temas recorrentes na produção do pintor, escultor e gravador

Logo ao entrar, em uma das paredes ao fundo do museu, o público vai avistar o óleo sobre tela "Cosme e Damião". Carybé dizia que era da Argentina, mas foi na Bahia que renasceu. Chegou em 1938, e cedo se encantou pelos temas que fariam dele um observador sensível às nossas singularidades. É o que confirma a mostra ‘Hector Bernabó, o Carybé da Bahia’, a partir das 18h30 desta quinta-feira, no Museu da Misericórdia (Praça da Sé).

A exposição, conforme explica a curadora e museóloga Simone Trindade, é um panorama da arte moderna na Bahia: reúne 34 pinturas do artista feitas em sucessivas décadas (1940 a 1990), pouco ou raramente exibidas em público, e que pertencem a colecionadores e irmãos da Santa Casa de Misericórdia. Feiras populares, capoeira, religiosidade, puxada de rede, assuntos que percorrem toda a obra de Carybé, estão presentes no acervo. "É a alma baiana como ninguém", diz Simone. 

Filha do pintor, Solange Carybé ressalta o ineditismo do evento e do conjunto, admite que nem ela conhecia todas as telas que estarão na Santa Casa, e que o pai preferia justamente murais a outras técnicas não somente pelo caráter coletivo do resultado, mas pela visibilidade mais ampla. "Meu pai trabalhou muito durante toda a vida, a obra dele ainda está em processo de catalogação, fora do Brasil inclusive. Essa mostra é uma grata surpresa". 

ESCOLHAS - Embora não seja cronológico, a curadoria fez um recorte da obra de Carybé a partir de um mote: "As escolhas que fazemos é que fazem o que somos". Simone Trindade explica: o pseudônimo, o artista escolheu na infância e adolescência, quando frequentava a patrulha de escoteiros no Clube de Regatas do Flamengo, no Rio de Janeiro. Lá, cada um era nomeado de acordo com um peixe e coube a ele “Carybé”, uma espécie de piranha. Depois, veio a opção definitiva: a Bahia.

Nascido como Hector Julio Páride Bernabó em Buenos Aires, na Argentina, Carybé teve contato com a arte desde cedo, ao ajudar no ateliê de cerâmica do irmão mais velho, Arnaldo. Sua primeira vinda à Bahia aconteceu em 1938, quando atuava como correspondente do jornal argentino "El Pregón". Voltou a Salvador 12 anos depois, com uma carta de recomendação do amigo Rubem Braga a Anísio Teixeira, então secretário de Educação do Estado da Bahia. Era uma época de efervescência nas artes e na cultura baiana. 

A naturalização como brasileiro veio em 1957. Carybé faleceu em 1997 em Salvador, aos 86 anos, deixando uma obra que se ramifica pela pintura, escultura, desenho, cenografia, ilustração para livros (Jorge Amado e Gabriel García Marques) e até storyboard para cinema (para o filme "O Cangaceiro", de Lima Barreto). Em 2016, foi inaugurado no Forte São Diogo (Porto da Barra) o Espaço Carybé das Artes, com mostra permanente e interativa de seus trabalhos. 


Anote:
O quê: Exposição "Hector Bernabó, o Carybé da Bahia"
Quando: Inauguração dia 27/9 (quinta), às 18h30. Visitação de terça a sexta-feira, das 8h30 às 17h30; sábados, das 9h às 17h; domingos e feriados, das 12h às 17h. Até 28 de outubro
Onde: Museu da Misericórdia (Rua da Misericórdia, 6, Praça da Sé)
Quanto: R$ 6 (inteira) e R$ 3 (meia)