Alberto Oliveira

Bolsonaro usa o Jornal Nacional para criticar posições da Globo

Candidato do PSL à Presidência foi entrevistado nesta terça-feira (28/8)

O candidato Jair Bolsonaro (PSL) enfrentou, por 27 minutos, na noite desta terça-feira (28/8), perguntas dos jornalistas William Bonner e Renata Vasconcellos, sobre temas previstos: racismo, homofobia, o uso de armas pela população, intervenção militar.

Se havia a expectativa de parcela considerável do público de que enfiaria os pés pelas mãos, o que se viu, na verdade, foi o candidato colocar os entrevistadores e a própria Rede Globo em situação de desconforto, principalmente ao ser confrontado com falas do seu vice, o general Hamilton Mourão, que poderiam sugerir a possibilidade de uma intervenção militar no País.

Bonner destacou que os historiadores consideram ter havido um golpe em 1964, quando os militares tomaram o poder. E ouviu o que não esperava: que o movimento contou com o apoio explícito do jornalista Roberto Marinho, fundador da TV Globo e que morreu em agosto de 2003.

“Roberto Marinho foi um ditador ou um democrata?”, perguntou Bolsonaro, fazendo William Bonner esquecer até em que ano estamos. “Perguntei sobre 1964 e estamos em 2021”, disse o editor e apresentador do Jornal Nacional, avançando o calendário em 3 anos.

Nota lida ao final do noticiário reconhece o erro cometido tanto pelo Grupo Globo quanto por Roberto Marinho.

A estratégia dos entrevistadores mostrou-se um equívoco, pois centrada apenas em pontos mais do que esperados tanto pelo candidato quanto por seus assesores e serviu para facilitar a criação de memes pelos apoiadores de Jair Bolsonaro.

O primeiro deles começou a ser espalhado mal encerrada a entrevista, a partir do questionamento feito por Renata Vasconcellos sobre a posição do candidato a respeito das diferenças salariais entre homens e mulheres.

Bolsonaro insinuou (e o meme divulgado afirma) que ela tem um salário inferior ao do colega de bancada.

A jornalista interrompeu a entrevista para se posicionar:  "Eu poderia, até como cidadã e como qualquer cidadão brasileiro, fazer questões sobre os seus proventos. O senhor é um funcionário público, um deputado federal há 27 anos, e como contribuinte, ajudo a pagar o seu salário. O meu salário não diz respeito a ninguém, e eu posso garantir ao senhor que, como mulher, jamais eu aceitaria um salário menor que o de um homem que exercesse as mesmas funções e atribuições que eu", disse, e ouviu que “a Globo vive em grande parte de recursos da União”.

Renata é editora-executiva do Jornal Nacional e William Bonner o editor-chefe, portanto seu superior na hierarquia da empresa.

Outro meme mostra os jornalistas da Globo arrependidos.

Ao ouvir de Bonner que não teria como garantir a permanência do economista Paulo Guedes até o final do seu governo, respondeu com o que soou como uma provocação ao apresentador do Jornal Nacional, separado da jornalista e apresentadora Fátima Bernardes: "Até o momento da separação nós não pensamos em uma mulher reserva. Quando nós nos casamos juramos fidelidade eterna".

Se a entrevista tinha o objetivo de expor pontos fracos, capazes inclusive de tirar votos do candidato, falhou inteiramente.

Os eleitores de Bolsonaro não votam nele a despeito do que ele fala e faz; votam por causa do que ele faz e fala.