Helô Sampaio

Histórias de traquinagens em Itabuna e uma volta de saudade

Gente, desta vez nós levamos um pouquinho mais de tempo sem nos falarmos. Isto aconteceu porque eu estava vivendo momentos muito intensos na minha terrinha, com amigos de infância e adolescência de Ibicaraí, gente amada que eu não via há muito tempo. Passei uns dois meses por lá. Foi quando mandei pra vocês a notícia da requalificação da Praça Henrique Sampaio, a minha ‘praça pai’, com a inauguração do busto do meu velho. Virou ponto de encontro dos ibicaraíenses.

O bom é que, num evento que reuniu moradores e os que saíram da terrinha, fizeram uma ‘volta da saudade’ na praça. E depois aconteceu a grande festa do reencontro na cidade. Dia 25 de novembro, houve a reunião de todos aqui em Salvador, no Cubanakan para os que não puderam ir.

Valeu muito rever amigos de infância e adolescência. A emoção do reencontro foi indescritível. Viramos as crianças e adolescentes traquinas da época, em que virávamos a cidade de cabeça para baixo. Ver cada um dos amigos me fazia relembrar um momento especial da vida. Muito bom estar com o meu povo.

Agora fiquei a lembrar das muitas aventuras e traquinagens que aprontávamos. De quando ia tomar banho na cachoeira e pular da ingazeira no rio Salgado – àquela época ainda não poluído –, até andar empinando a bicicleta em apenas uma roda por tudo que é rua da cidade ou montar a cavalo para ir pras roças do outro lado do rio pra comer manga e cacau (roubados, confesso contrita). Acontecia de tudo, às escondidas de minha mãe, lógico.

Momentos felizes vividos com a família na 'praça pai' e no Encontro dos Filhos e Amigos de Ibicarai, aqui em Salvador

Houve o dia em que Simone, hoje respeitável enfermeira, deixou ensandecido o povo da cidade quando sumiu com seu irmão Luís e a amiga Creusa, pelas roças de cacau por dois dias. Perdidos, tinham apenas os bagos de cacau pra comer. Ao serem encontrados, além do trauma pelo medo que passaram, foi preciso que meu pai, que era médico, fosse dar um ‘adjutório’ para o intestino de Luís voltar ao normal. Quando soube do caso fiquei traumatizada e nunca mais engoli nem um bago do cacau.

Agora Lula, meu irmão, batia o ‘record’ em traquinagem. Teve um dia que se juntou com um amigo seu, conhecido como ‘Vevéio’, vestiram umas roupas esfarrapadas e saíram para pedir esmolas pela cidade. Mas só queriam doces ou dinheiro para comprar os bombons. Deram azar porque Caxingó, compadre do meu pai, logo o reconheceu e o trouxe ‘encanado’ para casa. Imaginem o vexame para os meus pais.

O maior choque da família com Lula foi quando, em Ilhéus, ele pulou o muro do colégio onde estudava, para ir pro meio da rua pra ver uma locomotiva nova que ia passar pela cidade. E um caminhão que vinha ao lado, passou por cima dele. Felizmente não o machucou muito porque ele conseguiu se desviar dos pneus. Pode, fio? E quando ele foi pular a fogueira de São João, com um pijama de flanela, que pegou fogo queimando suas pernas? Meu irmão ‘aprontava’ mais que nós todos juntos.

Eu que é que era a mais quietinha, carinhosa, chorona e beijoqueira. Pendurava no colo de meu pai ou minha mãe e os enchia de beijos. Mas eu é que era a escolhida para, em todas as festas, recitar poemas de grandes autores, pois gesticulava e fazia toda a representação necessária. Ah! E os aplausos eram intensos. Obrigada, plateia amadinha! Eu mereço! Mas vocês estão pensando que é fácil decorar aqueles textos e ainda recitar com ‘a alma’? É não, fio. Precisa ter talento e memória. E meu charme, lógico. He-he!

E foi assim que Marina Brito, minha vizinha de porta em Ibicaraí, e amiga de infância, prometeu que vai preparar um bacalhau especial para marcar o reencontro com as famílias. Lógico que eu já pedi a receita para você também poder saborear esta delicia para o seu amorzinho, não é, meu lindinho? Avental a postos, vamos para a cozinha, antecipar esta maravilha da culinária portuguesa.

Bacalhau a lagareira com batata ao murro

Ingredientes para 4 pessoas
-- 1 k de lombo de bacalhau
-- 1,5 k de batata inglesa
-- 6 dentes de alho cortado em rodelinhas finas
-- 2 cebolas médias picadas
-- Azeite de oliva quanto baste (em torno de duas xícaras)
-- Azeitona preta para decorar.

Modo de fazer

-- Lavar as batatas bem lavadas e aferventar por 5 minutos com a casca. Depois colocar um pouco do azeite numa assadeira e levar ao forno por 40 minutos.

-- Dessalgar o bacalhau e colocar numa assadeira com o alho e o azeite e também levar ao forno (180º mais ou menos) por 40 minutos. Após esse tempo, virar as postas do bacalhau e das batatas e levar novamente as assadeiras ao forno por mais 20 minutos, acrescentando as cebolas ao bacalhau.

-- Desligar o forno, pegar as batatas e dar um leve ‘soco’ em cada uma delas para que rompa a casca, mas não as retire.

-- Arrumar o prato colocando o bacalhau no centro, as batatas em volta, regar tudo com o caldo que restou, decorar com as azeitonas pretas.

‘Comer rezando’, acompanhando a delícia com um bom vinho.