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Dilma Rousseff: "fui chamada de vaca umas 600 mil vezes"

Para a ex-presidente, o 'machismo político' pautou o processo de impeachment contra ela em 2016. Declaração da petista foi exposta em uma entrevista ao The New York Times

A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) afirmou, em entrevista ao jornal estadunidense The New York Times, que o “machismo político” pautou o processo de impeachment contra ela em 2016 e pontuou ter sido insultada diversas vezes pelos parlamentares.

A petista foi aos Estados Unidos para participar de conferências e seminários sobre a democracia e a crise econômica no Brasil. 

“Eles me acusavam de ser excessivamente dura e áspera, enquanto um homem seria considerado firme e forte. Ou eles diriam que eu era muito emocional e frágil enquanto um home teria sido considerado sensível. Eu era vista como alguém obcecada com o trabalho, enquanto um homem teria sido considerado trabalhador. Também tinham várias outras palavras rudes usadas. Eu fui chamada de vaca umas 600 mil vezes”, ressaltou na entrevista reproduzida pelo site da Agência PT.

Fazendo uma avaliação da participação feminina na administração do presidente Michel Temer, a petista disse que isso é algo recorrente na política, pois “as mulheres enfrentam uma discriminação desproporcional”. “É eminentemente um governo contra a mulher”, disparou Dilma. 

Indagada sobre o que faria diferente, caso pudesse voltar no tempo e evitar o impeachment, a ex-presidente disse que “isso não é uma pergunta que ela normalmente se faz”, mas ponderou hipóteses.

“Uma coisa que não teria feito é garantir extensos cortes de impostos. Eu acredito que as empresas invistam mais e gerar mais empregos. Mas isso não é o que aconteceu: as empresas aumentaram os seus lucros sem gastar mais”, reconheceu.

A ex-presidente também comentou sobre a eventual participação do PT na disputa pelo comando do Palácio do Planalto em 2018. Dilma ressaltou que não importa quem ganhe, contanto que seja um jogo limpo, e que o vencedor traga estabilidade política. “Você não pode mudar as regras do jogo enquanto ele está sendo jogado”, disse.

Eduardo Cunha

O jornal americano perguntou se Dilma Rousseff se sentia vingada com o desfecho político do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB), que renunciou a presidência da Câmara, teve o mandato cassado e foi condenado pela Lava Jato. 

“Eu não acho que a condenação de Eduardo Cunha deve ser considerada como uma vingança pessoal. Antes de ser condenado, houve um movimento em vários setores do governo para salvá-lo”, salientou.