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"Reformas serão derrotadas", aposta Florence

Confira entrevista exclusiva à Tribuna da Bahia

Otimista em relação à conjuntura enfrentada pelo país, o deputado federal Afonso Florence (PT) acredita que o governo de Michel Temer (PMDB) não conseguirá emplacar reformas como a previdenciária e trabalhista, principalmente por conta da pressão popular que ele vê tomando volume nas ruas. Além disso, o petista vê como perseguição política as investidas da Justiça contra o ex-presidente Lula. “Depois do impeachment, o governo Temer tem seis ministros investigados.

O próprio Temer em delações pesadíssimas. Infelizmente, setores do Judiciário e do MP começaram a fazer política contra o que o governo fazia pelos mais pobres. Tomaram atos nas eleições, fizeram campanhas pelo impeachment, alguns com propostas de ataques à democracia.

A intenção final é impedir Lula de ser candidato. Parece que o povo tinha esquecido da era FHC, quando houve um aumento da pobreza no país, e agora é um clamor quase unânime pela volta de Lula. Líderes partidários que fizeram o impeachment estão sob acusações com provas. Acho que, ao fim desse processo histórico, a democracia será restabelecida. Acho que a Lava Jato tem que continuar, mas nos trilhos da lei”, disse. O parlamentar fala ainda sobre as delações premiadas e as possibilidades eleitorais para 2018, apostando na vitória, em primeiro turno, do governador Rui Costa (PT).

Confira entrevista completa:

Tribuna da Bahia - O governo Michel Temer tem algumas reformas amargas, como a da Previdência e trabalhista. Acha que ele vai conseguir isso?
Afonso Florence -
Acho que não vai conseguir. Já não tinha legitimidade para fazer. Essa semana tivemos grandes manifestações em grandes cidades e cidades médias de todo o Brasil. As pesquisas de opinião indicam não só reprovação ao governo com a rejeição literal ao texto da proposta, que prejudica os trabalhadores e trabalhadoras brasileiras. Considero que a base de Temer está muito dividida porque percebem que estarão condenados se votarem essas medidas. Há outras medidas muito impopulares, como a trabalhista, terceirização, foi aprovado o limite do teto de gastos por 20 anos, tirando dinheiro da saúde, da educação e da assistência social. Então considero que o governo será derrotado.

Tribuna - O governo terá força mesmo sabendo do fisiologismo que continua pulsando no Congresso?
Florence -
Ouvi nos bastidores que vão criar ministério para dar a partido por estados. Estão fazendo uma farra com recursos federais, muita negociata, mas apesar de ser um governo sem voto, a pressão popular aponta para uma reprovação. Acho que eles vão ser derrotados.

Tribuna - Então as últimas mobilizações dessa semana vão levar os parlamentares a repensar o voto na hora H?
Florence -
As manifestações dessa semana foram o início, haverá mais. A pressão vai crescer. O eleitorado vai cobrar que os parlamentares se pronunciem sobre o seu voto. Acredito que as manifestações que aconteceram essa semana, com pouca cobertura dos telejornais, considero apenas o início para algo de grande magnitude. A pressão vai chegar aos parlamentares, até aliados do governo estão se pronunciando. Não são apenas PCdoB, PDT, partidos da base de Temer vão se pronunciar contra a votação no Congresso.

Tribuna - Na sua visão, o que tem de mais prejudicial ao trabalhador se a reforma passar da maneira como foi enviada ao Congresso?
Florence -
O aumento da idade para 65 anos e do tempo de contribuição é algo muito grave. O fundamento de concepção também é muito ruim. Eles dizem que tem déficit, um discurso que desqualifica o regime geral da Previdência como um instrumento de solidariedade intergeracional, de lastro tributário. Isso está na Constituição, por isso querem mudá-la. O regime geral da Previdência é o lastro básico para o estado de bem- estar social. Então não pode contabilizar apenas a contribuição patronal e de segurados, que é o que o governo faz para dizer que tem déficit. O relator da reforma tem dívidas com a Previdência. Há uma ação do deputado federal Robinson Almeida no Ministério Público contra o fato de a matéria estar na mão desse relator. Estabelecer a idade mínima, reduzir valores, desvincular os benefícios continuados do salário mínimo, desmontam a Previdência. É um desmonte da Previdência pública de cobertura universal e que garante o mínimo de seguridade. 

Tribuna - Sobre a Operação Lava Jato, ela atingiu em cheio o ex-presidente Lula e o PT, e agora mira membros do PMDB. Qual a sua avaliação dessa operação?
Florence -
A operação atingiu o ex-presidente Lula, mas até hoje sem nenhuma pista consistente. Aquela frase emblemática do procurador de que tinha convicção, mas não tinha provas, ecoa até hoje. Não há prova porque não houve crime. As relações políticas ficam cada vez mais nítidas para a população brasileira. Está ficando cada vez mais claro para a população que o juiz, em vez de julgar, pré-julga, comete atos ilegais, se manifesta politicamente. Moro fez um ato ilegal contra Lula. Depois do impeachment, o governo Temer tem seis ministros investigados. O próprio Temer em delações pesadíssimas. Infelizmente, setores do Judiciário e do MP começaram a fazer política contra o que o governo fazia pelos mais pobres. Tomaram atos nas eleições, fizeram campanhas pelo impeachment, alguns com propostas de ataques à democracia. A intenção final é impedir Lula de ser candidato. Parece que o povo tinha esquecido da era FHC, quando houve um aumento da pobreza no país, e agora é um clamor quase unânime pela volta de Lula. Líderes partidários que fizeram o impeachment estão sob acusações com provas. Acho que ao fim desse processo histórico a democracia será restabelecida. Acho que a Lava Jato tem que continuar, mas nos trilhos da lei.

Tribuna - Como o senhor viu a atitude de Michel Temer de mudar a função de Moreira Franco para que ele tivesse foro privilegiado, copiando o episódio de Lula e Dilma?
Florence -
Não foi uma cópia do episódio de Lula. O Moreira Franco tem provas robustas contra ele. Quando Dilma tentou colocar Lula ministro, ele seria um articulador político, naquele ambiente de crise, ele poderia preservar a democracia. E Lula não era investigado. Aquela liminar foi um ato contra a democracia. Aquilo foi o oposto do que aconteceu. O presidente Michel Temer evoluiu de jurista para golpista. Depois tem dito besteiras, no Dia da Mulher só faltou dizer que mulher deveria ficar na cozinha. 


Tribuna - O senhor acha que a Lava Jato vai atingir diretamente o presidente Michel Temer?
Florence -
As delações de alguns empresários e de laranjas, dizendo que estão apresentando provas, atinge diretamente o coração do governo. Tem delator dizendo que negociou com Temer e entregou no Jaburu propina durante o exercício da vice-presidência. E vale lembrar que está na Câmara a decisão do Supremo, e que o presidente da Casa não respeita, da abertura de comissão, de processo para analisar suplementação orçamentária e que levaram Dilma ao impeachment. Então é impressionante o Supremo dizer que eles têm que abrir as comissões, eles não instalam e fica por isso mesmo. E instalam com Dilma e aprovam o impeachment. Há muitos motivos para Temer não estar no exercício da Presidência. Mas como a agenda dele é retirar direitos sociais, manter privilégios das grandes corporações, o que está em jogo é uma disputa de projeto. O caso de Lula é bem diferente do de Moreira Franco.

Tribuna - Como avalia a queda de Geddel Vieira Lima e a ascensão de Antonio Imbassahy no governo Temer?
Florence -
É a dinâmica do golpe. Eles são políticos que articularam o golpe, em particular Imbassahy vem do DEM, é um filhote da Ditadura. Essa história do metrô. Querem dar uma imagem a Imbassahy pirateando obras do governo do Estado, ludibriar a opinião pública. Eles começaram as obras na década de 90, mas foram engavetadas por conta da corrupção. Aquela obra não é da prefeitura. Imbassahy e ACM estão tentando ludibriar a opinião pública de Salvador, estão tentando capitalizar obras que foram paralisadas no governo dele. Imbassahy vai tentando se estabelecer como um ministro baiano, mas é um ministro do golpe.

Tribuna - Como o senhor vê a perspectiva de eleição na Bahia? Acha que ACM Neto vai se lançar ao governo do Estado em 2018?
Florence -
Certamente a indicação é de que vai. Colocou um ex-assessor como vice-prefeito. Considero que o governador Rui Costa, muito acertadamente, manteve a coalizão do governo com o PSD, o PP, o PR, o PSL e a liderança de Marcelo Nilo, e tem todas as condições de reeditar a coligação eleitoral. No próximo domingo, a vinda de Lula na transposição do São Francisco vai dar um clamor nacional, na opinião pública e na Bahia pela continuidade desse projeto. A referência nacional é Lula, a referência estadual era Wagner, agora é Rui. Considero que ainda tem muita água para passar debaixo da ponte até 2018, mas os indicadores sociais são a prova de que desde 2007 a vida do povo pobre melhorou. Apesar da crise hídrica, eles tiveram acesso a água, habitação, escolas técnicas. Rui com programa de primeiro emprego, permanência estudantil. É um governo que atende a quem precisa e a máscara do golpe caindo, não tem prova contra Lula nem contra o PT, as provas contra os outros pulam no colo dos promotores, com a opinião pública tem as mídias alternativas. As pesquisas de opinião mostram que a população faz um juízo mais independente. Tenho esperança que mesmo com a candidatura de ACM vai ser uma disputa bonita e vamos ganhar novamente as eleições em 2018.

Tribuna - Qual a chapa ideal para Rui nas eleições de 2018?
Florence -
Sou deputado federal, quem tem que dizer isso é a coordenação política ou o conselho político do partido, ou o governador. Claro que vamos ter uma eleição com a liderança do governador Rui na cabeça da chapa. Acredito que ainda haverá uma acomodação de forças políticas, no momento certo isso vai se definir, e não tenho dúvidas que a coligação será reeditada e vitoriosa. 

(Colaboraram: Fernanda Chagas e Guilherme Reis).