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"Chegou a hora de oxigenar e balançar a AL", diz Coronel

Confira entrevista exclusiva à Tribuna da Bahia

Recém-eleito presidente da Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA), o deputado estadual Ângelo Coronel (PSD) elege como prioridades de sua gestão ‘restabelecer’ a independência da Casa, “fazer com que os parlamentares sejam respeitados pelo Executivo” e aprovar o Plano de Cargos e Salários dos servidores concursados.

“A Assembleia será uma Assembleia independente, aonde não podemos ser uma Casa somente como se fosse uma extensão do governo. Nós temos que valorizar o parlamentar”, diz Coronel. Ele agradece o apoio do governador Rui Costa, do prefeito ACM Neto e do senador Otto Alencar por sua vitória na AL-BA.

Confira entrevista completa:

Tribuna da Bahia - O senhor foi eleito presidente da Assembleia, encerrando uma era de 10 anos de Marcelo Nilo. A que o senhor atribui essa vitória?
Ângelo Coronel -
Exaustão. Os colegas não tinham nada de ordem pessoal contra Marcelo. Marcelo deixou um legado bom para essa casa, mas 10 anos seguidos... Chega um momento em que a Casa precisou realmente fazer esse movimento, movimento que começou silencioso, depois a imprensa começou a fazer uma campanha. Até parecendo que seria uma campanha de parlamentar ou de governador saindo até de dentro das paredes da Assembleia. Isso, evidentemente, influenciou até vários colegas a tomar decisão a nosso favor, porque nós saímos numa estratégia conceitual, se era contra ou a favor da reeleição. Eu acho que a tese da não reeleição foi vitoriosa, e consequentemente chegamos à vitória.
 
Tribuna - O senhor conseguiu atrair alguns apoios aos 45 minutos do segundo tempo, como o do PCdoB. Como foi esse jogo nos bastidores?
Coronel –
 Na verdade, na prorrogação. Nas 48 horas que antecederam o pleito nós tínhamos 33 votos. Mas era um placar apertado, com um voto de folga. Nossa coordenação chegou à conclusão de que nós tínhamos de buscar outros nomes para ficarmos com folga e evitar surpresas. Tínhamos sete do PSD, cinco do PP, dois do PSL e os 19 votos da oposição. Essa soma dava 33 votos. Aí começamos na véspera da eleição uma campanha que parecia campanha de rua, correndo os gabinetes com essa equipe de aproximadamente 20 colegas na pressão perante os colegas indecisos ou os que estavam com o ex-presidente. A gente achou que tinha colegas ali que poderíamos convencer a entrar nessa proposta de fim de reeleição e, consequentemente, a oxigenação da Casa. Às 9 horas da manhã conversei com o primeiro. Utilizei do artifício... O pai ligou para o filho e me chamou para conversar. Como a eleição saiu das paredes da Assembleia, teve pai ligando para filho deputado, teve filho deputado ligando para pai, e desse negócio a coisa contaminou e meio dia já estávamos com 35 votos. Aí eu fui chamado pelo governador e pelo ex-ministro Jaques Wagner. Eu disse a eles que a eleição estava consolidada, e que se o governo não retirasse o apoio a Marcelo, iria cair no colo do governo a derrota de Marcelo. Consequentemente nossa vitória seria creditada a outras forças que estavam com a gente desde o início. Aí o governador me disse que estava neutro no processo. Eu acredito que ele estava neutro no processo, mas o PT estava numa campanha muito forte contra nosso nome, e mais alguns nomes, até gente da equipe do governo, também numa campanha forte nos bastidores contra nosso nome, querendo que surgisse uma terceira via, uma quarta via. Tentaram retirar o nome de Luiz Augusto (PP) do nosso acordo, pressionaram Otto Alencar também para mudar o nome. Mas como estava com muita solidez esse grupo dos 33, minha candidatura se tornou imexível, ninguém aceitava mudar. Não existia nada de mudança. Aí foi uma questão mesmo consolidada. Uma questão de que cada um desse grupo de 33, é como se eles próprios fossem o candidato. Eu gostei porque virou a irmandade de que eles saíam para pedir voto ao colega como se fosse eu mesmo pedindo o voto. Isso foi bom, porque nesse movimento a gente tinha certeza de que não iria falhar um voto. Foram 33 guerreiros, e consequentemente o governo à noite chamou Marcelo e fez com que ele desistisse. Aí desaguou nessa candidatura única.
 
Tribuna - O vice-prefeito de Salvador, Bruno Reis, e o senador Otto Alencar, chegaram a trocar algumas farpas na imprensa sobre a paternidade de sua candidatura. De onde ela surgiu de fato e a quem o senhor credita sua vitória?
Coronel - 
A vitória foi do parlamento. A vitória foi da Casa. A vitória teve tantos fatores que eu não posso creditá-la a somente uma ou duas pessoas. Após as eleições (municipais) de 2016, estive com o deputado federal Paulo Azi viajando ao exterior... Ele me dizia: ‘Corona, lance seu nome, rapaz’. Ele me chama de Corona. Ele dizia: ‘Você tem chance, Corona’. Eu dizia: rapaz, eu sou ausente. Não estou no dia a dia do parlamento. Ele dizia: ‘Que nada, rapaz. Você só precisa ter coragem. Para disputar com Marcelo Nilo tem que ter coragem. E você é independente. Você tem coragem’. Aí passou. Eu deletei isso da minha cabeça. Aí quando chegou no início desse ano, Bruno (Reis), que é muito meu amigo, amigo de muito tempo, chegou para mim e disse: “Coró, lance seu nome. Se você lançar seu nome eu vou trabalhar a oposição”. Eu disse: rapaz, então eu vou. Aí eu comecei a tomar gosto. Reunimos o partido. Fui conversar com Otto. Ele reuniu o partido e aí lançaram nosso nome. Com isso nós fomos agregando. Fizemos o acordo com o PP. Se meu nome não tivesse robustez até o final, nós apoiaríamos o nome de Luiz Augusto. Inclusive está posta a candidatura de Luiz Augusto antes da minha. E a gente fez esse pacto, quase um pacto de sangue, e andaram... Tentaram demovê-lo da disputa, membros do governo tentaram demover Luiz Augusto. Outros tentaram me demover, tentaram fazer prévia para lançar uma candidatura de consenso. Outro grupo tentou retirar meu nome e o de Luiz Augusto para apoiar Marcel. Tudo isso fora dos muros da Assembleia. Naquele momento sentimos que teríamos que bater forte porque a campanha teria de ser decidida pelos parlamentares, não pelas lideranças externas. Claro que a gente queria o apoio dos caciques políticos, como João Leão, Otto Alencar, ACM Neto e do governador Rui Costa, mas não queríamos interferência. Esse apoio era aquele apoio logístico, de referendar quando alguém fosse perguntar o que é que achava, nenhum desses caciques queimasse o nome. A gente conseguiu essa neutralidade, e nesse intervalo... Eu chamo intervalo porque teve um momento que dava um branco e eu pensava assim: será que essa caminhada vai ter sucesso? Mas quanto mais eu recebia críticas do meu concorrente perante meus colegas, tentando me depreciar, isso era o combustível que faltava para eu ganhar mais vontade de concorrer e ir até o final.
 
Tribuna - O prefeito ACM Neto foi importante na definição do voto da oposição. Como o senhor viu a atuação dele nesse processo?
Coronel - 
O prefeito ACM Neto é meu amigo de longa data. Fizemos campanha juntos no primeiro e no segundo mandato dele, fizemos dobradinha em vários municípios, e estive com ele. Pedi apoio a ele e ele disse que se eu tivesse viabilidade, ele nos apoiaria. Aí demonstrei que tínhamos viabilidade e ele reuniu a bancada da oposição e a bancada referendou nosso nome. Nós temos essa gratidão ao prefeito ACM Neto. Não nego. Somos de partidos opostos, ele de oposição e eu da base do governo, mas eu tenho uma coisa no meu caráter: eu sou grato, independentemente de partido político, independentemente de que frente eu esteja. Minha candidatura foi suprapartidária. Eu não tenho nenhum receio de agradecer ao prefeito ACM Neto, como também agradecer ao vice-governador João Leão e também agradecer ao governador pela sua neutralidade.

Tribuna - Falando do governador, após a reabertura dos trabalhos aqui na Assembleia, o senhor almoçou com Rui e fez juras de fidelidade eterna. Reafirmou o entendimento com o governador. Como Coronel vai se posicionar na condução entre o Legislativo e a relação ao Executivo?
Coronel - 
Não é questão de ter feito juras de fidelidade e amor eterno. Para mim juras de fidelidade e amor eterno só à família. Mas nós somos da base. O governador tem tratado nosso partido bem, e nós temos que retribuir. Agora, a Assembleia será uma Assembleia independente, aonde não podemos ser uma Casa somente como se fosse uma extensão do governo. Nós temos que valorizar o parlamentar, temos que propor mudanças que os deputados aprovem, e que a gente possa beneficiar a sociedade baiana.
 
Tribuna - Quais são as primeiras metas como presidente da Assembleia?
Coronel - 
Vou fazer uma reunião para instituir o conselho de líderes, como tem na Câmara Federal, para que o conselho defina qual é a pauta de votação da Casa. Hoje a Casa, na questão de plenário e de pauta fica entre o presidente, o líder da minoria e o líder da maioria. Eu acho que temos que colocar todas as lideranças de bloco partidário e de bancadas para participar desse processo. Queremos também instituir a derrubada da reeleição. Isso eu quero colocar em pauta ainda neste mês de fevereiro, porque eu acho que reeleição dentro da mesma reeleição tem que ser acabada. Isso foi uma das teses da nossa campanha. Vamos negociar com o sindicato a questão do plano de cargos e salários, porque os funcionários efetivos vivem aqui desanimados. Precisamos colocá-los para trabalhar com mais vontade, com mais carinho e com mais amor. Para isso eles precisam ser bem remunerados. Vamos tentar aprovar esse projeto. Isso não depende só da minha caneta. Vou levar para a Mesa Diretora. A Mesa Diretora vai ter que trabalhar. A Mesa Diretora não pode ser mais uma Mesa decorativa. As decisões sempre serão tomadas com o referendo da Mesa Diretora, porque não quero ser um presidente com decisões monocráticas. Somos uma Casa de 63 membros, e os membros têm que participar por intermédio das suas bancadas e dos seus líderes. Não quero ter o ônus nem o bônus. O ônus e o bônus eu quero dividir com 63 parlamentares.

 Tribuna - O senhor falou em reativar o colégio de líderes e trabalhar para votar projetos de deputados, que é uma crítica constante na Casa. Incomoda o título de que a Assembleia tinha se tornado um poder homologador das demandas do Estado?
Coronel - A Assembleia, até por questão de estar sendo há 10 anos gerida por um só deputado, existe sempre uma acomodação. Eu acho que chegou a hora de dar uma oxigenada mesmo, de oxigenar e balançar a Casa. Evidentemente que vou reunir as lideranças partidárias, e vamos instituir quarta-feira o dia do parlamentar, para que às quartas-feiras a gente possa votar projetos oriundos dos parlamentares. Às terças-feiras vamos votar os projetos do Executivo, e quarta-feira votar projetos dos deputados. Temos que colocar os projetos para andar. Eu tenho 62 projetos engavetados. Ficamos desanimados para apresentar proposições. Vamos tentar dinamizar a equipe técnica para que os deputados possam consultá-las e tentar adequar ao máximo os projetos dentro da Constituição para evitar que haja alguma falha nas suas confecções.
 
Tribuna - O senhor vai incorporar a figura de líder do governo na Casa, papel que Marcelo Nilo fez tão bem ao longo de todos esses anos?
Coronel - 
Em hipótese alguma. Se foram escolhidos os líderes, eles que trabalhem. Eu fui escolhido para gerir a Casa, não para ser líder do governo.

Tribuna - O senhor pretende mexer em cadáveres que por ventura existam da era de Marcelo Nilo? Quais serão essas prioridades?
Coronel -
 Para mim, acabou o pleito, eu viro a página e começo vida nova. Não estou aqui para perseguir o ex-presidente. Não tenho nada de ordem pessoal contra ele. Pelo contrário, somos amigos há 28 anos. Espero inclusive ter a oportunidade de abraçá-lo e poder apoiá-lo nas suas demandas, porque eu sei que não é fácil você deixar uma presidência depois de 10 anos e voltar a ser um deputado comum, como eu passei 24 anos aqui na Casa.

Tribuna - Depois de tanto tempo de comando na Assembleia tem muita gente que teme o que vai acontecer a partir de agora. Qual a relação que o senhor pretende estabelecer com os funcionários? O que o senhor já começou a pensar na Assembleia?
Coronel –
Tentar aprovar o plano de cargos e salários. Durante essa campanha recebi visitas de presidente de sindicato, de funcionários pedindo que isso aconteça. Vamos trabalhar para que isso aconteça. E logo. Não quero deixar isso com mais um passivo. Acho que compromisso de campanha você tem que acabar, tem que decidir. Você não pode ficar enrolando. Aqui, se eu puder fazer, com apoio da Mesa Diretora, eu vou chamar e vou dizer: olha, vou fazer amanhã ou depois, e dizer um prazo. Não vou ficar dizendo amanhã, depois, estou analisando, estou estudando, porque esse é o famoso enrolation (sic). A gente tem que acabar com isso. Se der, deu. Se não der, não deu. E pronto. Não podemos ficar nessa enrolação.
 
Tribuna - A Assembleia tem orçamento para ter esse gesto que o senhor imagina ter?
 Coronel - 
Por isso que eu vou conversar com a Mesa Diretora e com o presidente do sindicato e ver o que é que isso vai refletir no orçamento. Vou abrir o orçamento e falar: olha, está aqui o que temos de repasse do Poder Executivo. Não podemos implantar amanhã ou daqui a um mês ou daqui a dois meses, porque a caneta do repasse dos recursos não é minha. Vem do Executivo, se eu não puder pagar, eu posso até aprovar e dizer: eu só posso agora se puder entrar no orçamento para o próximo ano e brigar para aprovar o orçamento aqui na Casa, para que o Executivo repasse.
 
Tribuna - Quanto é o orçamento da Casa?
Coronel – 
R$ 529 milhões para o ano de 2017. Não me pergunte detalhes porque eu não sei. Não abri ainda para ver.

Tribuna - O senhor falou na conversa com o governador sobre a necessidade de ter um realinhamento no secretariado do Estado. Há uma crítica constante dos deputados com relação a esse entendimento e essa relação com o governo?
Coronel -
 Muito grande. Tem deputado que liga para secretário e o secretário não dá retorno. Nem o chefe de gabinete dá retorno. Tem secretário que você marca uma audiência e fica esperando duas horas para ser atendido. Aqui na nossa gestão, o deputado tem que ser respeitado. Se o deputado não for respeitado pelo Poder Executivo, a gente pára a Casa. A Casa não vai funcionar. O deputado tem que ser respeitado. Nós somos eleitos para ter respeito. Os secretários não são eleitos, foram indicados. Os deputados é que estão no dia a dia, no interior, na capital, trabalhando para se eleger e ajudar o governo a se eleger. Então o deputado tem que ser tratado com respeito. Eu não vou aceitar que a Casa seja desrespeitada. Essa proposta da Assembleia unida, independente e respeitada, isso é o pilar da nossa gestão. União, respeito e independência.
 
Tribuna - O senador Otto Alencar foi o grande vitorioso das últimas eleições. Elegeu 83 prefeitos, conseguiu fazer o sucessor na UPB, conseguiu ajudar o senhor na eleição da Assembleia. Com isso, ele se constitui agora como uma das principais lideranças da Bahia, se colocando inclusive para 2018?
Coronel - 
Otto não se constitui agora. Otto sempre foi uma grande liderança na Bahia. Otto é um político completo, porque todos os principais cargos do Estado ele já assumiu e não saiu com nenhuma mácula. Isso o credenciou. Criamos o partido que fez cinco anos agora, o nosso PSD. O PSD hoje é o maior partido da Bahia em número de prefeituras e de vereadores. Temos colocações importantes no governo do Estado. Conseguimos ganhar a UPB, e o PSD agora faz a Assembleia. Evidentemente, não fizemos isso sozinhos. Tivemos o apoio também de outros partidos, tanto da base quando de partidos de oposição. Porque não existe desunião, existe essa unidade. Otto Alencar, com seu jeito de ser, faz com que as pessoas acabem lhe seguindo e ouvindo seus conselhos. Eu por exemplo, me sinto muito honrado de ser liderado por Otto Alencar, porque na minha vida aprendi uma coisa: quando você não pode ser líder, você tem que ser liderado. Eu escolhi Otto Alencar como meu líder político.
 
Tribuna - A situação de Otto coloca o PT como refém dele e do PSD na Bahia?
Coronel - 
Não. Em hipótese alguma. Eu acho que cada partido tem seu espaço. O PT é um partido grande, é o partido do governador. Nosso partido é também um partido grande na Bahia, como tem também o PP, que faz parte da base do governo, como os demais partidos da base. Então, não posso dizer que o PT está refém do nosso partido. Eu só espero que membros do PT acordem e não fiquem com ciúmes do PSD, porque tem membros do Partido dos Trabalhadores que atrapalham o governador Rui Costa. Então se o governador tiver alguma fase negativa na sua vida, tenha certeza de que esse crédito ficará nas costas do PT.
 
Tribuna - A gente tem uma candidatura consolidada do governador Rui Costa, candidato natural à reeleição em 2018, e tem possibilidades de ACM Neto ou o próprio Otto. Que cenário hoje o senhor vislumbra para a próxima eleição estadual?
Coronel - 
Hoje, pelo que eu vejo, só tem uma candidatura posta, que é a reeleição do governador Rui Costa. O prefeito em nenhum momento disse que é candidato ao governo. Mas como 2018 está um pouco longe, acho que podem surgir surpresas, ou até uma unidade. Ninguém sabe. A política nacional vai decidir muito a política estadual. Além do mais, eu acho que essas operações que estão sendo feitas pelo Ministério Público e pela Polícia Federal também podem mudar muita coisa nas eleições de 2018.