Vice-governador e secretário do Planejamento do Estado, o presidente do Partido Progressista (PP) na Bahia, João Leão, descarta, em entrevista à Tribuna, a possibilidade de a legenda não marchar com o governador Rui Costa em 2018 e ainda reitera apoio de outros partidos da base, como o PSD do senador Otto Alencar. Leão garante também que não há interferência da coordenação nacional do PP, que apoia Michel Temer, para que o partido deixe a base de Rui na Bahia.
O vice-governador avalia ainda que o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), não será candidato a governador nas próximas eleições. “Eu acho que ele tem um compromisso com a população de Salvador. Ninguém votou no vice de Neto”. Mas Leão afirma que uma possível candidatura do democrata não intimidaria. “De forma nenhuma”. O vice-governador fala ainda nesta entrevista à Tribuna que a ponte Salvador-Itaparica vai sair do papel. Confira a íntegra abaixo.
Tribuna da Bahia - Que leitura o senhor faz do atual momento político do país? Muito tenso?
João Leão - O momento é muito difícil. As coisas estão difíceis de acontecer. Mas na Bahia nós não podemos reclamar. Estamos com as grandes obras acontecendo, um exemplo claro está aí: o metrô de Salvador. Outro exemplo são as obras que estão acontecendo no interior, uma série de rodovias que vamos acelerar agora. Acabamos de aprovar na Assembleia Legislativa um projeto de lei que permite ao governo do Estado fazer empréstimos de 600 milhões de reais para fazer rodovias.
Tribuna - De que forma o senhor está vendo essa queda de braço entre o Poder Legislativo e o Poder Judiciário? Isso de alguma forma faz com que a população tenha que ter uma preocupação maior com a situação que a gente vive hoje.
Leão - No Brasil se criou a figura de quem aparecer melhor é o cara. Então, nós estamos realmente precisando que as pessoas entendam que o ideal é cada um trabalhar no seu setor. Trabalha o Legislativo no se setor, trabalha o Judiciário no seu setor e cada um vem trabalhando no intuito de melhorar para fazer as coisas acontecerem. A situação está difícil. Essa briga não é fácil. Nós tivemos uma grande briga agora entre o presidente do Congresso Nacional e os ministros do Supremo Tribunal Federal. Agora, cada um tem que responder e se responsabilizar pela sua área. Renan Calheiros tem que cuidar do Congresso. Do Supremo quem tem que cuidar é a ministra Cármen Lúcia.
Tribuna - A negativa da Mesa Diretora do Senado de acatar uma decisão de um ministro do Supremo não piora esse clima negativo?
Leão - Decisão monocrática hoje não vale nada. Infelizmente é o que está acontecendo. Hoje nós temos que ter decisões coletivas. Hoje muitas pessoas vivem em função da mídia, em função daquele momento. Nós temos uma Constituição a cumprir. Tanto que a decisão monocrática foi descumprida pelo próprio Supremo.
Tribuna - Como o senhor avalia o governo de Michel Temer?
Leão - Razoável. Eu acho que o governo de Michel Temer está iniciando. Poderá ser um grande governo, como poderá não ter sucesso. Eu conheço bem o presidente Michel Temer, sei da sua vontade, sei da sua pessoa como é. Ele foi um grande presidente da Câmara dos Deputados fez um trabalho excepcional. É meu colega, é meu amigo. Apoiei ele diversas vezes como presidente da Câmara e vejo em Temer uma figura muito boa para ser presidente da República.
Tribuna - Seu partido em nível nacional apoia o governo do PMDB. Existe alguma possibilidade de mudança na Bahia?
Leão - Nenhuma. Nosso partido apoia o presidente Temer. O governador Rui Costa, o ex-governador Jaques Wagner e os nossos companheiros do PT entendem que eu tenho que ter uma posição de aliado do governo federal.
Tribuna - Como isso é feito? O senhor é o principal elo de comunicação entre os governos de Rui Costa e de Michel Temer?
Leão - Não só eu, mas diversos companheiros. Nós temos aí o senador Otto Alencar, que também está numa situação idêntica à minha. Otto vai também ser um elo de ligação. O senador Roberto Muniz, que é do meu partido. São diversos companheiros dentro da bancada que votaram não a Temer e hoje apoiam o governo Temer. O que nós queremos? Botar o Brasil para andar.
Tribuna - Como o senhor viu o resultado das eleições deste ano, sobretudo para o PP?
Leão - Quero agradecer a todo o povo da Bahia o carinho pelo Partido Progressista. Nós tivemos aqui na Bahia o PSD que foi o campeão.
Tribuna - Esse movimento colocou o PT e o governador Rui Costa mais dependentes do PP e do PSD. Isso surge de alguma forma como ameaça para 2018?
Leão - De maneira nenhuma. Rui é um grande administrador. Se tem um cara sério e competente, um cara que realmente é um grande governador e está fazendo um grande governo, que a população cada vez mais está entendendo isso, é o governador Rui Costa. Isso não é dito só por mim não. Isso é dito também pelo senador Otto Alencar. Nós estamos juntos nesse processo. Rui, Otto e João Leão.
Tribuna - Mas Rui é PT, e o PT teve diversas restrições nas eleições em relação ao PP e ao PSD. Como fica essa relação após a eleição?
Leão - Rui é governador da Bahia, e a Bahia é muito maior do que o PT, do que o PP, do que o PSD e do que todos os partidos. Rui, Otto e eu brigamos pela Bahia.
Tribuna - O PT foi o maior derrotado na última eleição. O partido vai conseguir se reerguer?
Leão - É uma situação que não está fácil. Nós não podemos dizer que está fácil. É uma situação no Brasil inteiro. Mas eu acredito, pelas grandes figuras que nós temos compondo o Partido dos Trabalhadores, que nós vamos ter o PT se reerguendo nas próximas eleições.
Tribuna - Uma candidatura do prefeito ACM Neto ao governo do Estado em 2018 assusta?
Leão - De maneira nenhuma. De maneira nenhuma. E te digo com toda honestidade: não credito que Neto será candidato a governador. Acho que Neto vai ponderar... Neto é um jovem, Neto tem 30 e poucos anos de idade. Ele já errou uma vez no passado, sendo candidato a prefeito de Salvador e não se elegeu. Então, eu não acredito que ele será candidato. Eu acho que ele tem um compromisso com a população de Salvador. Ninguém votou no vice de Neto. O povo votou em Neto para ser prefeito de Salvador. Então, ele termine o mandato dele de prefeito e depois venha para o jogo. Eu acho que o jogo é para se jogar. Agora, cada um tem que ter responsabilidade com seu jogo.
Tribuna - Seria irresponsabilidade deixar a prefeitura para ser candidato a governador em 2018?
Leão - Eu acho que no momento atual, de Neto sim. Porque ele não colocou na população que ele seria candidato a governador. Ele colocou que ele seria candidato a prefeito de Salvador. E ao contrário, o governador Rui Costa e eu, como vice-governador e secretário de Planejamento, nós temos interesse de fazer muitas parcerias com Salvador. O exemplo está aí. Nós vamos fazer agora a ponte Salvador-Itaparica, que é uma coisa que nós queremos realizar e queremos fazer. Precisamos de uma parceria, como estamos fazendo com o metrô. A prefeitura de Salvador está sendo parceira no metrô. Você pode ser oposição um ao outro, mas o povo está acima de qualquer problema.
Tribuna - Algum risco de Rui Costa ser substituído por Jaques Wagner em 2018?
Leão - Nenhum. O nosso candidato ao governo da Bahia em 2018 é o governador Rui Costa.
Tribuna - O PP não romperá com Rui Costa de jeito nenhum até 2018.
Leão - A não ser que aconteça uma catástrofe. Mas não tem catástrofe. Nós temos um compromisso com o governador Rui Costa, nós estamos juntos. O PP e o PSD de Otto estão juntos.
Tribuna - Otto diz que ainda não discute 2018. Diz que ainda é muito cedo.
Leão - Não é isso que ele me diz. Otto diz que nós estamos juntos.
Tribuna - Eleição municipal é diferente da estadual e da federal. O PT perdeu várias prefeituras nessa eleição, e todo mundo fala que foi em função do desgaste do partido com a Lava Jato. Ao mesmo tempo temos o ex-presidente Lula que apanha todo dia com uma denúncia contra ele. Mas nas pesquisas só dá ele para 2018. Como é que o senhor analisa isso?
Leão - Cada eleição é uma eleição. Vamos analisar Feira de Santana. Feira de Santana foi administrada pelo prefeito José Ronaldo (DEM) por oito anos. Na eleição passada, José Ronaldo ganhou para prefeito. Vem a eleição de governador, e nós fomos lá e demos um cacete em Zé Ronaldo dentro de Feira de Santana. É o contrário de Vitória da Conquista e de Camaçari. Nós perdemos a eleição agora para o governo da Bahia em Camaçari. Perdemos agora também para prefeito. Na eleição passada (2012) nós ganhamos para prefeito.
Tribuna - Mas o clima não é bom. E o PP também é um partido que tem sérios dividendos com a operação Lava Jato, tem diversos deputados envolvidos. Talvez seja o partido com o maior número de citados. Como o senhor analisa isso? Isso fragiliza o PT?
Leão - Não acredito. Vemos hoje todos os partidos serem citados. Tem o PSDB, o DEM, o PT, o PSD, o PP, todos os partidos foram citados, porque era o modelo de financiamento de campanha. A partir de agora, nós mudamos esse modelo em função de uma lei que foi aprovada no Congresso Nacional. Agora, aquele que for citado é chave de cadeia.
Tribuna - É chegada a hora de mudar a forma de fazer política no Brasil?
Leão - Já chegou a hora. Já foi mudado, nós já mudamos isso. Não pode ter mais doação de empresários. Agora só contribuição de pessoas físicas. Daí em diante, quem errou, cacete.
Tribuna - O senhor vai ser candidato a senador?
Leão - Não. Eu tenho uma missão a cumprir e estou cumprindo, que é levar a Bahia ao desenvolvimento econômico.
Tribuna - O tamanho o PP vai dar força para o partido pedir mais espaço no governo de Rui Costa?
Leão - Não queremos mais espaço. Nosso espaço nós já conquistamos. Eu acho que o espaço é conquistado no início do governo, em função da performance de cada quadro. Se o governador fizer alguma modificação, aí nós vamos sentar. Nós não queremos é perder espaço. Mas não quero mais conquistar novos espaços.
Tribuna - Como o partido está na disputa pela presidência Assembleia Legislativa? A impressão é de que a candidatura de Luiz Augusto deu uma desidratada nos últimos dias. Parece que a disputa polarizou entre Ângelo Coronel (PSD) e Marcelo Nilo (PSL). O PP retirou sua candidatura? Como vocês vão se posicionar? Chega de Marcelo Nilo na Assembleia?
Leão - Tem um ditado da vida que diz que os últimos serão os primeiros. Luiz Augusto tem todas as condições de ser um grande presidente da Assembleia. Primeiro, pelo equilíbrio pessoal que ele tem. Segundo, pela sua correlação de amizades tanto com o lado do governador Rui Costa quanto do lado do ex-governador Nilo Coelho, quanto com ACM Neto e principalmente comigo. Luiz Augusto representa para a Assembleia o candidato ideal para o novo modelo de política na Bahia. Qual é o novo modelo? É todos juntos puxar a corda para o mesmo lado. Nas crises é onde você tem as grandes oportunidades. Nós temos uma oportunidade agora de no governo Temer fazermos os grandes projetos da Bahia, como a ponte Salvador- Itaparica, a Ferrovia Oeste-Leste (Fiol) e o projeto de desenvolvimento econômico do estado. O que é que nós precisamos? Fazer com que nosso povo melhore de vida e a coisa aconteça. Essa será a função de Luiz Augusto na Assembleia.
Tribuna - Chega de Marcelo Nilo?
Leão - Marcelo é uma figura maravilhosa. É meu amigo. Adoro Marcelo, mas não pode continuar, gente. Já é o quinto mandato. Vai para a sexta eleição. Não adianta. Eu acho que o governador Rui Costa deve convidar o deputado Marcelo Nilo para ser secretário de Estado, porque um dos grandes sonhos do meu amigo é ser governador do estado. Então, ele tem que mostrar numa secretaria de Estado o seu posicionamento, a sua capacidade gerencial.
Tribuna - A UPB assume uma importância grande com os prefeitos. O PP vai brigar pelo comando da UPB?
Leão - Estamos conversando com os companheiros do PSD para fazermos uma chapa conjunta. Nós temos o companheiro Marcão, de Santana dos Brejos, e temos Juliano, prefeito de Jaguaquara. E temos ainda Marcelo, lá de Governador Mangabeira. O PP está pecando por ter três candidatos. Vamos conversar com o PP para ter um só candidato. Vamos também sentar com o PSD para definir a candidatura á UPB.
Tribuna - O PP tem uma disputa interna. Ronaldo Carletto quer exercer um protagonismo. Isso lhe incomoda? O deputado Robinho também já demonstrou insatisfação com a coordenação do PP. Como está essa relação?
Leão - Se o deputado Ronaldo Carletto quiser ser presidente do PP, eu estarei passando para ele a presidência do partido no dia seguinte. Uma grande figura, meu amigo. Foi deputado estadual comigo e depois votou comigo para federal. Com Robinho é a mesma coisa. Então, no PP não temos esse problema. Isso é o que a mídia leva. Ao contrário, Robinho e Carletto são duas figuras maravilhosas.
Tribuna - Eles estavam para sair do partido.
Leão - Conversa fiada.
Tribuna - Uma parte do PP sinaliza que gostaria de marchar com o prefeito ACM Neto.
Leão - Eu acho difícil, porque entre João Leão e ACM Neto, eles preferem João Leão.
Tribuna - A Lava Jato vai mudar o cenário político do país até 2018?
Leão - Totalmente. Nós temos hoje um ex-presidente da Câmara dos Deputados preso. Temos diversas figuras presas. Pode ser que amanhã tenha um do DEM, um do PSDB, um de tal partido. Aí muda a figura política. Eu só espero que não queiram que João Leão vá ser candidato à Presidência da República.
Tribuna - O senhor sempre defendeu projetos como a ponte Salvador-Itaparica e a Fiol. Por que o governo tem dificuldade de tirar esses projetos do papel e insiste em manter para a população o discurso vazio de prometer e não conseguir cumprir?
Leão - Em primeiro lugar, não são projetos no papel. A Fiol está aí. Temos 72% dela pronta, de Ilhéus a Guanambi. A ponte é um projeto de 7,8 bilhões de reais. Você não consegue um dinheiro desse na esquina, no Banco do Brasil, no Bradesco, no BNDES. É um projeto de uma magnitude tremenda. Nós estamos conversando com o setor internacional. Temos chineses interessados em participar da ponte Salvador-Itaparica. Estão praticamente fechados. O governador Rui Costa e eu já estivemos com o presidente da República, onde batemos o martelo da viabilidade econômica da ponte. Vou te dizer uma coisa com honestidade: e acredito que até o final do próximo ano nós estaremos lançando a pedra fundamental. Essa ponte vai sair.