Presidente estadual do PSD, partido que elegeu o maior número de prefeitos na Bahia neste ano (83), o senador Otto Alencar afirma que sua intenção é de manter o apoio a Rui Costa (PT) numa provável tentativa de reeleição do governador em 2018, e avalia que a possível candidatura de ACM Neto (DEM) não intimida o petista, desde que sua base se mantenha unida. “Nosso grupo estando unido em 2018, será praticamente imbatível”, diz Otto em entrevista exclusiva à Tribuna.
O senador pondera que, para tanto, Rui precisa trabalhar para que seus secretários “sejam secretários de Estado, e não secretários de seus aliados nem de partidos políticos”. Otto critica ainda a tentativa do deputado Marcelo Nilo (PSL) de se ‘perpetuar’ na presidência da Assembleia Legislativa da Bahia. Abaixo a íntegra da entrevista.
Tribuna da Bahia - Como o senhor viu o resultado das eleições deste no na Bahia? O PSD foi o grande vitorioso?
Otto Alencar - Nós conseguimos fazer a maioria dos prefeitos em relação aos outros partidos em várias regiões. Nós não ficamos só em uma região. Temos municípios no norte do estado, no extremo sul. No extremo sul nós vencemos em Alcobaça, Teixeira de Freitas, Guaratinga, Eunápolis, Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália. No norte do estado tivemos vitórias expressivas em Paulo Afonso, Jeremoabo, Sítio do Quinto. No oeste vencemos em Bom Jesus da Lapa e Serra do Ramalho. Na Região Metropolitana de Salvador vencemos em São Sebastião do Passé, vencemos em várias cidades da Chapada Diamantina. Vencemos também na região nordeste, em Ribeira do Pombal. Também tivemos várias vitórias no sudoeste, em Tremendal, Jânio Quadros. Foi uma vitória que se estendeu de forma harmônica por todo o estado. O PSD foi o partido que fez mais mulheres prefeitas. Com muito orgulho eu digo isso.
A partir de janeiro teremos seis, porque dois deputados se elegeram prefeitos. Robério Oliveira em Eunápolis e Rogério Andrade em Santo Antônio de Jesus, que é a maior cidade do Recôncavo baiano. Foi um trabalho árduo. Todos os dias atendendo aqui na sede do partido e fora daqui também, em Brasília. E com aquela consciência minha de que nada resiste ao trabalho. Às vezes, você não tendo o pão que alimenta, tenha pelo menos a palavra que consola, que respeita, que resolve as coisas com atenção e respeito.
Tribuna - Na outra ponta a gente tem o PT como partido com maior número de derrotas, sobretudo nas prefeituras. O partido vai conseguir se recuperar?
Otto - O PT baiano não é muito responsável pela perda de prefeituras. A situação nacional refletiu na Bahia. Não conheço nenhum prefeito do PT que tenha se envolvido em atos que pudessem macular a história do partido no estado. Tem um ou outro, talvez um ou dois casos. Nem os deputados federais nem os deputados estaduais estão envolvidos nessa situação nacional. A situação nacional foi que prejudicou a Bahia. Não tenho nenhuma dúvida a respeito do comportamento ético do governador Rui Costa nem do (ex) ministro Jaques Wagner, só que ele, quando foi para a Casa Civil da (ex) presidente Dilma Rousseff encontrou um passivo político e de irregularidades e de ações de improbidade administrativa, coisas que ele não tinha como resolver. O montante era muito grande. Mas o reflexo aqui na Bahia foi muito nocivo ao partido, que perdeu posições em várias cidades importantes e sequer teve a decisão de lançar candidato a prefeito em Salvador. Também perdeu em Camaçari e em outras cidades importantes.
Tribuna - O resultado das urnas fragiliza o governador Rui Costa, já que ele ficou refém do PSD e do PP para 2018?
Otto - Não torna refém. Nós temos uma boa relação política e administrativa com o governador. O retrato hoje é um, amanhã poderá ser outro. O vencedor de hoje poderá ser o derrotado de amanhã. A política se transforma muito rapidamente. Às vezes você está no auge e um detalhe lhe leva a uma situação ruim. Portanto, é bom cada político ser o fiscal de si mesmo, para não cometer equívocos. Então, a relação com o governador não tem problemas políticos nem administrativos. Toda família política grande tem problemas. Então, sai de uma eleição dessa, quem perdeu, ao contrário de autoavaliar e buscar dentro de si próprio seus erros, fica culpando outros. Uma coisa que eu nunca gostei na minha vida é buscar desculpas por meus erros nas outras pessoas. Eu tenho que buscar me aperfeiçoar ao máximo naquilo que eu faço, que é política.
Tribuna - A possibilidade de o prefeito ACM Neto se candidatar a governador em 2018 ameaça a base do governo hoje?
Otto - Eu creio que não. Isso vai ser demonstrado aos poucos. Nosso grupo estando unido em 2018 será praticamente imbatível. Agora, para manter essa unidade, é importante que aquele que detém o poder, que é o governador Rui Costa, procure tratar todos os aliados de igual forma. Não pode ter aliado dentro do governo que seja mal atendido em detrimento de outro. Os secretários precisam ser secretários de Estado, e não secretários de partidos, como acontece ainda dentro da administração de Rui Costa. Ao invés de atender ao Estado, às necessidades do povo do Estado, dos prefeitos, independentemente de ser de oposição... Se há necessidade de uma obra importante para um prefeito de oposição, faça a obra, porque o povo é quem precisa da obra. Ela não é do prefeito. É preciso isso. Como comandante, quem vai manter essa unidade é o governador Rui Costa, que tem o poder. Ou seja, ele trabalhando e distribuindo os benefícios que o governo pode levar para o povo, de maneira harmônica, e atendendo a todas as lideranças de acordo com o que elas pedem para seus municípios, eu creio que nós chegaremos muito fortes em 2018.
Tribuna – Há muita crítica à falta de suporte político do governo. A chegada de Wagner estanca essa situação, ou isso depende mais do próprio governador?
Otto - Acho que depende primeiro do governador e daqueles que o ajudam. O Wagner pode ajudar muito, os líderes que comandam os partidos também podem ajudar. Eu tenho conversado com o governador e ele está consciente disso. Você não pode ter órgão de governo atendendo exclusivamente àqueles que o nomearam ou atendendo facções, setores, grupos, ou partidos que o indicaram. O PSD tem uma indicação só, que é o secretário Marco Cavalcanti, da Secretaria de Infraestrutura do Estado. Não ouço queixas contra ele. Ele me substituiu e eu disse a ele o seguinte: seja secretário de governo, como eu fui. Se você for, você vai concluir sua gestão servindo ao estado e servindo ao povo do estado. Ele tem feito isso. Agora, é bom que cada secretário se avalie para saber se isso está acontecendo em todos os setores do governo. Mas eu não quero citar nomes.
Tribuna - O crescimento do PSD deixa o partido com muito mais peso no governo. Vocês vão reivindicar mais espaço?
Otto - Pedir, não. Mas se o governador nos colocar para ajudá-lo em outros setores, nós vamos ajudá-lo. Nós temos bons quadros que podem atuar em vários setores da administração pública. Mas não é do meu feitio nem dos componentes do PSD solicitar em público ou entre quatro paredes cargos e abertura no governo. Eu, por exemplo, já fui secretário de Estado três vezes por convite. Ou seja, eu não me ofereci a ser. Fui convidado pelo meu trabalho, pelo meu desempenho e pela confiança que os governadores com quem trabalhei tiveram na minha história e no meu compromisso com o povo da Bahia. Isso é muito importante.
Tribuna - O resultado da eleição em todo o país sepulta o discurso de golpe que estava sendo usado pelo PT?
Otto - Eu votei contra o afastamento da presidente Dilma Rousseff, porque não existia, nos autos do processo, crime de responsabilidade. Agora, a presidente foi afastada pelo conjunto dos erros administrativos e políticos que aconteceram e também por muitos do seu staff, que cometeram improbidade administrativa comprovadamente. Alguns foram presos e estão respondendo por suas ações. Desse círculo que gravitou em torno da presidente, muitos ajudaram seu governo, e outros tantos atrapalharam com falta de ética, com desvio de conduta, com improbidade administrativa, com corrupção. Isso levou ao impeachment da presidente, e eu considero que ela, do ponto de vista pessoal, não levou absolutamente nada que pudesse incriminá-la com apropriação indébita de bens materiais.
Tribuna - Mas o crescimento dos partidos de oposição ao PT sepulta o discurso de golpe?
Otto - Eu nunca falei em golpe. Eu nunca achei que foi golpe. Tanto que eu digo agora que ela foi afastada por esses erros. Eu nunca falei em golpe. Ninguém convenceu a população de que foi golpe. Tanto não convenceu a população que os que ficaram com discurso de golpe aqui em Salvador perderam as eleições. Eu achava até que pudesse ter alguma interferência, mas nunca falei em golpe. Eu nunca fiz um discurso dizendo que existia golpe. O que aconteceu foi o afastamento da presidente pela derrocada administrativa e política, pela inflação alta, pelo desemprego alto, pela quebradeira da Petrobras e da Eletrobrás, por essa relação de alguns membros do governo da presidente incorreta e ilícita com empresas que estão agora com seus dirigentes respondendo por isso. Ou seja, uma relação que comprometeu muito o governo.
Tribuna - Que avaliação o senhor faz do momento político do país? Ainda muito tenso?
Otto - É o momento mais conturbado da vida nacional desde que entrei na política, em 1986. O afastamento de Collor não foi assim. Estamos vivendo já dois anos em que só se discute cassação, afastamento, impeachment e crise. Os que estavam na época do governo Dilma e saíram hoje fazem uma oposição radical ao governo de Michel Temer, e igual aos que faziam contra Dilma. Então, existe um estado de beligerância entre as duas principais forças políticas do Brasil. Isso é muito ruim para o Brasil. Por exemplo, vamos votar agora a PEC 55. Já votamos em primeiro turno e vamos votar agora em segundo turno. A PEC 55 é muito similar ao Projeto de Lei 257 encaminhado por Dilma. Na época, os que estão contra a PEC votaram a favor do projeto 257. Na verdade, é preciso muito mais patriotismo e muito menos partidarismo, muito menos radicalismo, para que um momento como esse seja um momento daqueles que querem tirar o Brasil dessa situação. Com beligerância, com briga, com disputa política radical como eu vejo no Senado, um senador agredindo o outro até com palavras chulas... Acho que em primeiro lugar precisamos buscar as soluções para o Brasil, não buscar soluções para os partidos.
Tribuna - Como o senhor avalia o governo de Michel Temer?
Otto - Eu acho o governo Michel Temer muito frágil nesses seis meses. Eu trabalhei com o ex-senador e ex-governador já falecido Antônio Carlos Magalhães por muitos anos, por 19 anos, na verdade. E em 12 anos de governo ele trocou três secretários. Em seis meses o presidente Temer trocou seis ministros. Não quero entrar no mérito, mas os cinco primeiros, por exemplo, foram todos trocados porque respondem a processos. Não se pode nomear alguém que tem dívidas com a Justiça, que são denunciados, que estão indiciados, como aconteceu com os cinco primeiros. No caso de Geddel (Vieira Lima – ex-ministro da Secretaria de Governo), foi uma questão mais de ordem pessoal dentro do governo. Eu não posso dizer nem acusar sem provas sobre o que aconteceu e levou a esse aprofundamento da crise. Eu espero que ele (Temer) tenha comando, tenha condição de comandar o Brasil. Eu espero isso, eu acredito que ele pode fazer isso. Agora, não constituindo um ministério com ministros vulneráveis perante a Justiça, perante o Ministério Público.
Tribuna - Geddel não aguentou a pressão e caiu. Como o senhor avaliou a saída dele do governo?
Otto - Do ponto de vista político, com os deputados e senadores que apoiam o governo, ele atuava muito bem. Ele (Temer) vai ter que encontrar alguém que possa fazer o mesmo trabalho.
Tribuna - Há algum caminho de aproximação ou até mesmo de pressão do comando do PSD nacional para que haja aproximação sua com o governo Temer?
Otto - Nunca houve isso. O presidente (do PSD, Gilberto) Kassab me coloca com muita autonomia aqui na Bahia. Ele conhece o estado, a política da Bahia. Tanto que quando ele esteve aqui, perguntaram isso a ele e ele disse: ‘olha, o senador Otto Alencar tem uma relação ética transparente com o governador Rui Costa e com o ex-ministro Jaques Wagner, e ele tem toda autonomia para tomar as decisões que melhor convierem ao partido no estado.
Tribuna - A Operação Lava Jato agirá com mais rigor com o ex-presidente Lula ou qual o principal alvo a partir de agora?
Otto - Eu acho que a Operação Lava Jato vai agir de acordo com as provas, embora, no caso do Ministério Público, tenha havido um denuncismo exagerado. Cito a denúncia contra o senador Antônio Anastasia (PSDB-MG) e a denúncia contra o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) por parte do Rodrigo Janot (procurador geral da República), com quem eu vou estar quarta-feira (7) numa mesa-redonda discutindo assuntos dessa natureza. Ele denunciou a ambos, e depois disse que se enganou, que não era o caso nem do Anastasia nem do Randolfe. Ele disse que se enganou. Ele confundiu que o Alberto Youssef (primeiro delator da Lava Jato) denunciou Anastasia, que teria recebido R$ 1 milhão do Youssef, porque ele foi governador de Minas Gerais. Não era Anastasia, era o Hélio Costa, que foi candidato a governador. Mas o Anastasia passou oito dias apanhando dos órgãos de imprensa, e aquilo lhe causou um dano moral muito grande. Foi a mesma coisa com Randolfe. Então, é preciso ter provas corretas, contundentes para se denunciar uma pessoa, porque o dano moral para se corrigir demora muito. Agora mesmo o (Sérgio) Moro (juiz federal de Curitiba, responsável pelos processos da Lava Jato na primeira instância) tinha condenado dois diretores da OAS, e na segunda instância eles foram considerados inocentes. Os dois pagaram um preço muito alto. Um deles perdeu a família e o emprego. E aí, quem paga isso? Eu questiono muito essa situação. Ou seja, tem que denunciar com provas contundentes, com provas corretas. Que se mostre essas provas.
Tribuna - Como o senhor está vendo a tentativa do Congresso de enfraquecer o projeto que tratar das 10 medidas contra a corrupção?
Otto - Eu votei contra o requerimento de urgência, sou crítico da criminalização dos juízes e do Ministério Público. Concordo com alguns itens do substitutivo. Agora, tem um deles que precisa ser acrescentado. A população não aceita que um juiz ou um promotor seja afastado por comprometimento ético e moral, e depois vá para uma aposentadoria completa. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) recentemente afastou a juíza Olga Regina (da Bahia) por receber vantagens financeiras de um traficante de drogas. E a punição foi a aposentadoria compulsória completa. Quem é no Brasil que tem esse direito? O juiz é um funcionário do povo. Ele tem esse direito e os outros não têm? Eu acho que isso deve acabar. Agora, criminalizar e enfraquecer o direito de investigação do Ministério Público, o direito de análise imparcial do juiz nos crimes, sou contra.
Tribuna - O nome de Ângelo Coronel vai conseguir tirar o favoritismo de Marcelo Nilo na disputa pela Assembleia?
Otto - Os deputados do PSD indicaram o nome de Ângelo Coronel e eu referendei. Agora, eleição é eleição. Lá na frente é que se vai ver isso. Eu estou olhando de fora o que se passa na Assembleia. Na minha opinião, ao contrário do que pensa Marcelo, que é bom para ele, eu acho que é péssimo para ele se manter na presidência do Poder Legislativo por tanto tempo. Seriam 12 anos. Já tem 10 anos. Não tem na história da Bahia caso similar. Eu quando fui presidente da Assembleia fui convidado para reeleição e não aceitei. Nem por isso eu deixei de ocupar todos os cargos importantes no meu estado. Desprendimento chama atenção, engrandece e fortalece politicamente qualquer político. O egoísmo afasta, dispersa, porque todos têm direito de querer ser presidente da Assembleia. Esse direito não está só limitado ao meu amigo Marcelo Nilo.