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"O maior derrotado dessa eleição foi o PT"

Deputado federal em seu 6º mandado, o tucano Jutahy Magalhães Junior é um dos nomes fortes do PSDB para ocupar a vaga ao Senado numa eventual chapa encabeçada pelo prefeito ACM Neto, em 2018. Ele concedeu entrevista exclusiva à Tribuna,

Foto: PSDB
Jutahy Magalhães Jr. diz que o resultado da eleição fragiliza o governador Rui Costa. "O ciclo do PT está se encerrando. Naciona
Jutahy Magalhães Jr. diz que o resultado da eleição fragiliza o governador Rui Costa. "O ciclo do PT está se encerrando. Nacionalmente isso já tinha acontecido em 2014, e agora vai ocorrer na Bahia e no Nordeste"

Tribuna da Bahia - Como o senhor viu o resultado da eleição aqui em Salvador, que deu a vitória ao prefeito ACM Neto com quase 74% dos votos?

Jutahy Jr. – Eu vi com muita satisfação o reconhecimento da população de Salvador à ótima administração do prefeito ACM Neto, que foi reconhecido nacionalmente como o melhor prefeito das capitais. O povo de Salvador deu uma vitória que não tem similar na história. 74% é uma votação extraordinária, fruto do trabalho administrativo e da liderança pessoal que ele exerce na cidade. 

Tribuna - Como foi o resultado das eleições para o PSDB, superou as expectativas?

Jutahy Jr. - Nós tivemos um crescimento em número de votos para o PSDB na eleição para prefeito, em relação a 2012, um crescimento no número de eleitos, tanto de prefeitos quanto de vereadores, e tivemos uma presença maior no estado, além do fato de que nós fizemos alianças dentro da luta da oposição aqui na Bahia.

Por exemplo, apoiamos o ACM Neto em Salvador, apoiamos Zé Ronaldo em Feira, apoiamos Herzem (Gusmão) no segundo turno em Vitória da Conquista, Elinaldo em Camaçari, o candidato a prefeito eleito em Alagoinhas, ou seja, nós fizemos uma estratégia de fortalecimento da oposição e consequentemente o fortalecimento do PSDB. 


Tribuna - O PT foi o maior derrotado desta eleição, sobretudo, pela redução do número de prefeituras. O partido vai se recuperar

Jutahy Jr - O maior derrotado dessa eleição, nacionalmente e na Bahia, foi o PT. Houve uma repulsa da população, o eleitorado, ao que o PT produziu. Produziu o maior escândalo de corrupção de um país democrático na história, que é o petrolão, e as consequências gravíssimas na vida das pessoas em função dos mais de 12 milhões de desempregados, inflação alta, maior crise da história do país.

Nunca na história tivemos uma recessão tão alta quanto nos dois últimos anos, 2015 e 2016, já não tendo crescimento em 2014. É mais grave que a recessão do século passado, de 1930, não tem precedente. A população repudiou o PT pelo que aconteceu na vida delas, pelo mau exemplo que aconteceu na vida delas.

Tribuna - O resultado das urnas fragiliza o governador Rui Costa?

Jutahy Jr. - Acho que o ciclo do PT está se encerrando. Nacionalmente isso já tinha acontecido em 2014, e agora vai ocorrer na Bahia e no Nordeste. 

Tribuna - Esse resultado deixa o governador refém de partidos da base dele, como PP e PSD, já que foram partidos que terminaram maiores que o PT?

Jutahy Jr. - O PT da Bahia sempre foi um PT dependente da conjuntura nacional. A vitória tanto do Wagner na primeira eleição, quanto do Rui na sua primeira, decorreu basicamente do sucesso da eleição de presidente do PT nacionalmente, tanto do Lula quanto da Dilma.

Se não fosse uma eleição casada de presidente com governador em 2006 e 2014, nem o Wagner, nem o Rui Costa teriam sido eleitos. O PT da Bahia é muito dependente da questão nacional.

A fragilização do PT nacionalmente implicará na fragilização do PT baiano. Muitos dos aliados do PT na Bahia, PP, PR, PSD, que votaram inclusive seguindo orientação do Wagner contra o impeachment da Dilma, hoje já estão na base do governo do Michel Temer. 

Tribuna - Uma vez que o prefeito ACM Neto confirme candidatura ao governo em 2018, o PSDB vai brigar para estar na chapa?

Jutahy Jr. - Eu acho que a candidatura do ACM Neto será uma consequência natural da força política que ele conquistou, não só em Salvador, mas ele é a principal liderança da oposição política e popular no estado.

Acho que a pressão para ele ser candidato, tanto do segmento popular, quanto do mundo da política, será irresistível.Ele não terá como deixar de ser candidato em 2018. Dentro dessa composição, nós o apoiaremos, e o PSDB vai pleitear uma das vagas ao Senado.

Tribuna - O resultado das eleições em todo o país sepulta o discurso de golpe usado pelo PT?

Jutahy Jr. – Onde existiu esse discurso mais ofegante foi a Jandira Feghali, acabou que o Lula e Dilma foram fazer campanha para ela. Ela terminou com 3% dos votos. O PCdoB não elegeu um vereador no Rio de Janeiro. Um dos motivos que o Freixo não teve chance de disputar com o Crivella no segundo turno do Rio foi ele ter começado o discurso no segundo turno dizendo que ele representava a luta contra o golpe. Ali ele matou a chance de ganhar a eleição. Esse discurso foi amplamente derrotado.  

Tribuna - Qual leitura o senhor faz do atual momento político do país e qual a avaliação do governo Michel Temer?

Jutahy Jr. - Eu vejo um momento de reconstrução do país. Nada é mais desesperador do que o desemprego, falta de perspectiva de crescimento do país, estávamos descendo a ladeira em um caminhão sem freio, estávamos em uma situação sem solução. Agora paramos de piorar e vamos melhorar.

Estamos no caminho certo, em busca de austeridade fiscal, as instituições estão funcionando de forma democrática, uma transição importante para chegarmos em 2018 e elegermos um candidato com liderança para levar o Brasil avante no processo de modernização e reformas, que é importante. 

Tribuna - O governo Michel Temer deu indicativos de que está com a base aliada sólida no Congresso Nacional, sobretudo na Câmara. O senhor atribui esse momento a quê? 

Jutahy Jr. – A primeira coisa é o sentimento de responsabilidade com o país. Todo impeachment, como aconteceu com o Collor, com a Dilma, é fruto de uma crise gigantesca. O impeachment só ocorre quando a população, as forças políticas, econômicas, sociais, dizem não dá mais, chega, é inviável para o país.

Você só consegue o impeachment quando tem uma ingovernabilidade evidente, além de ter um crime de responsabilidade, impossibilidade de manutenção no cargo de presidente da República.

A partir dessa realidade, quem votou, fez esse impeachment, tem a responsabilidade de sustentar esse governo. Foi assim com Itamar Franco, está sendo assim agora com o Michel Temer. É a responsabilidade de dar sustentação a um governo de transição. 

Tribuna – O Planalto teve fôlego para aprovar a PEC do teto dos gastos, mas vai ter força para fazer as reformas que o país precisa, principalmente a da previdência, que está mais avançada?

Jutahy Jr. - A vitória da PEC 241 eu digo o seguinte: O PT quebrou o país. Literalmente quebrou. Para você sair dessa quebradeira, tem que ter austeridade fiscal, controle dos gastos públicos. Era fundamental a aprovação da PEC 241.

Não quer dizer que isso resolva o problema, mas sem essa vitória o governo não teria condições de sinalizar a estabilidade econômica, política de base social, não tinha como. Essa vitória foi fundamental, como também a mudança do pré-sal foi essencial para voltarmos a ter investimentos no setor de petróleo e gás.

A Petrobras está sem caixa, foi dilapidada, assaltada por um esquema do PT, um crime o que fizeram para com a Petrobras, além do atraso ideológico. A Petrobras é uma empresa com uma capacidade tecnológica fantástica e sem capacidade de investimento.

O setor de petróleo e gás é importantíssimo para gerar produção interna. É preciso ter produção para ter royalties, a cadeia produtiva gerando emprego. Eles inviabilizaram tudo isso.

 

"A Bahia está pagando um preço imenso, o estaleiro da enseada Paraguaçu está parado, demitiu sete mil, você precisa voltar a ter investimentos no Brasil ".

Jutahy

 

Tribuna - A Operação Lava Jato avança e chega muito próximo do ex-presidente Lula. A Operação vai agir com mais rigor contra o petista?

Jutahy Jr. - A Operação Lava Jato é um processo que não tem influência das forças políticas. É uma questão do Judiciário e quem estiver envolvido vai ser condenado diante das provas que forem apresentadas. Eu sou a favor dos processos legais, direito de defesa, ampla defesa, mas tenho a convicção total de que nada disso poderia ter chegado à dimensão que chegou sem o amplo conhecimento do ex-presidente Lula. 

Tribuna - Nomes do PSDB já foram citados algumas vezes na Operação Lava Jato. Como o senhor lida com as críticas de que a Operação é seletiva e só mira o PT?

Jutahy Jr. - Isso é uma bobagem, não existe seletividade. A questão da Lava Jato sobre o petrolão, foi um esquema montado dentro de uma estrutura de governo para manter o PT no poder, comprando apoios partidários e de aliados, fazendo enriquecimento pessoal de vários membros. Se o petrolão era um esquema de poder que buscou a compra de vários aliados, é claro que quem era de oposição não estava envolvido.

Tribuna - Vários relatores já citaram relações de irregularidades que atingem o senador Aécio Neves, o ministro José Serra. Acredita que o juiz Sérgio Moro vai chegar aos caciques do PSDB?

Jutahy Jr. – Tudo isso que está sendo citado não tem relação com o petrolão. O petrolão é um esquema que saiu do PT com a Petrobras. As outras citações ocorrem em função de outros processos, mas não é do petrolão. 

Tribuna - Investigações de esquemas de corrupção atingirão a cúpula do PSDB nacional? De alguma forma vai impactar nas eleições de 2018?

Jutahy Jr. - Espero que não. Quem tiver condenado em segunda instância estará inelegível e possivelmente preso. 

Tribuna - Como o PSDB vai se posicionar em relação à disputa da presidência da Câmara de Salvador?

Jutahy Jr. - O Paulo Câmara está sendo um excelente presidente da Câmara de Salvador. Se ele criar condições para ser presidente novamente será do agrado do nosso partido, é uma posição importante para o PSDB. 

Tribuna - O senhor acredita que o prefeito ACM Neto vai se envolver também no processo? Vai envolver articulação por mais espaço do PSDB na prefeitura?

Jutahy Jr. - O prefeito ACM Neto sabe da importância do PSDB e sempre soube conduzir a articulação política para manter seus aliados próximos. O PSDB é um aliado de primeira hora e ele sempre reconheceu a nossa importância como partido. 

Tribuna - Espera ter mais espaço no governo que vai ser iniciado em janeiro?

Jutahy Jr. - Acho que tudo isso ainda não está decidido, não tivemos nenhuma conversa institucional ainda sobre esse assunto. 

Tribuna - Qual a avaliação que o senhor faz sobre o governo Rui Costa?

Jutahy Jr. - Um governo que passa por grandes dificuldades. Tem questões que eu não consigo entender como não tenham sido solucionadas nos governos do Wagner e do Rui Costa. A coisa mais escandalosa é o Centro de Convenções. Não se justifica anos e anos a Bahia perdendo a oportunidade de se trazer grandes eventos por causa da questão do Centro de Convenções.

Uma cidade turística como Salvador, que tem um potencial gigantesco para trazer eventos não ter um espaço. Doutor Roberto Santos, que fez o Centro de Convenções, teve essa visão em 1975, um espaço bom, em uma boa localização, hoje estamos nessa situação.

Além de que as opções estruturantes que falaram durante esses anos viraram propaganda. Vou citar quatro: cadê a ponte Salvador-Itaparica? Não discuto se era necessário, mas foram três eleições fazendo propaganda, gastando dinheiro em projetos e cadê a ponte? A ferrovia Leste-Oeste, a complementação, cadê o Porto Sul? A duplicação Ilhéus Itabuna? A ponte do Pontal? Tudo conversa fiada.

O estaleiro para fazer as plataformas de petróleo… o que foi prometido não foi entregue, muitas coisas eram só marketing e outras não tiveram capacidade gerencial e política de concretizar